UMA VOZ SE CALOU
O
Ângelo Jorge tinha 15 anos, quando, em 7 de março de 1965, entrou em vigor a
reforma litúrgica do Vaticano II. Desde logo, começou a servir a liturgia como
leitor e guia da assembleia. Ainda hoje é recordado com saudade: “ Associo sempre a sua linda voz
e presença às primeiras missas em português”. Quando D. Florentino, no dia 7 de
março de 1966, celebrou a Eucaristia comemorativa do primeiro aniversário da
capela da Senhora da Paz no bairro de S. Roque, foi ele quem dirigiu a assembleia.
E tão bem o fez que, no final, o senhor Bispo o felicitou, surpreendendo-se com
a sua idade.
O gosto e a experiência adquirida
nas liturgias levaram-no a concorrer à Rádio Renascença. O responsável pela
seleção, ao ouvir a sua prova, logo lhe perguntou se já tinha experiência de
rádio. Ao que ele respondeu: - Não tenho, mas estou habituado a falar ao
microfone nas missas da minha paróquia. Foi selecionado e, em 1968, com apenas 19
anos, ingressou nos quadros dessa Rádio. Durante cerca de 20 anos, a sua voz passou
a ser companhia regular dos muitos ouvintes da Emissora Católica. Em 1989,
partiu para novos projetos, mas a sua ligação com a Renascença não se quebrou.
E foi com agrado que, no dia do seu funeral, ouvi, num programa da manhã, os
apresentadores falarem, com emoção, do amigo que partiu. Numa sociedade onde as
instituições esquecem quem as serviu, soube muito bem saber dum comunicado
emitido pela Rádio Renascença que, em parte, transcrevo: “Morreu Jorge Peixoto, voz de referência da Renascença

17 Mai, 2016 - 20:12 - Morreu esta terça-feira, aos 67
anos, uma das vozes de referência dos estúdios do Porto da Renascença. Jorge Peixoto ingressou
nos quadros da Emissora Católica em 1968 saindo em 1989 para dirigir a Rádio
Press. Regressou em 1993, colaborando com o grupo até 2010. O seu nome fica
associado a inúmeros programas de autor como “Sequência da Tarde”, “Ou 20 ou Nada”,
mas também o programa da manhã da Rádio Sim ou “Serra de Estrelas”, em 1984,
antecâmara do “Oceano Pacífico”, no projecto embrião da futura RFM. Também
apresentou programas desportivos, inúmeros espectáculos e foi locutor de
continuidade na televisão pública. Deu aulas no Instituto Multimédia do Porto
e, em 2008, fundou o GPS – Grupo de Peregrinos de Santiago, sendo, até há
pouco, o seu principal dinamizador.“
No dia do funeral, um dos caminheiros do GPS,
confidenciava-me: “O Jorge era um construtor de amizades, um construtor de
pontes a quem o grupo muito deve”.
Calou-se a voz mas, na nossa memória, perduram as ressonâncias.
Termino com a mensagem que alguém escreveu no cartão que acompanhava um ramo de
flores: “Que, na Liturgia Celeste, Deus te recompense pelo bem que fizeste nas
liturgias da tua paróquia.” Que Nossa Senhora da Paz o acolha no seu regaço.
(24-5-2016)