O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, outubro 25, 2011

O Pai Américo era um santo




Há dias, passei junto das “Alminhas” que assinalam o desastre que vitimou o P. Américo. Flores frescas e velas acesas mostram que a devoção popular não se desvaneceu.




Foi no dia 14 de Julho de 1956. Estava eu em casa, em Campo, Valongo. Seriam umas cinco horas da tarde. A notícia caiu abrupta, dolorosa e contraditória. – Foi um desastre na Chã. - O P. Américo morreu. – Não. Quem morreu foi o motorista.O P. Américo foi para o hospital. Confusão, perplexidade. Ninguém queria acreditar. Lavradores houve que abandonaram as enxadas entre os milheirais. Os mineiros, ao “arriarem” das pedreiras, corriam para o local do acidente.




O P. Américo faleceu no dia 16 no hospital de Santo António. Toda a Cidade, o Barredo em peso, os rapazes da rua, toda a gente desfilou noite e dia junto do seu féretro na igreja da Trindade. Órfãos, choravam e rezavam.
No dia do funeral, como escreveu o JN, o povo, o mais humilde e ignorante, o mais desprotegido e abandonado, não precisou de explicações, de convocações, de chamadas. Saiu à rua, enlouquecido pela dor.




Anos mais tarde, como vicentino, comecei a frequentar as ruelas do Barredo. E então compreendi a intensidade de toda aquela dor. Lembro uma velhinha, mirrada pelos anos e pela fome, que a paralisia, havia anos, mantinha presa a uma cama: o Pai Américo era um santo, quando estava no Porto vinha sempre visitar-me. Nunca se esquecia de mim. Vários anos tinham passado e o espírito do P. Américo continuava vivo naqueles tugúrios de miséria e abandono.




Donde lhe vinha este carisma?




A resposta encontrei-a ao visitar a Quinta da Carvalha, em Oliveira do Hospital. Logo reparei numa lápide com o nome dos vultos insignes que frequentaram aquela casa. E fiquei agradavelmente surpreendido ao ver que a lista era encimada pelo P. Américo. O proprietário, Dr. Vasco Lencastre, explicou-me que ele, sempre que precisava de repouso, retirava-se para o “Casal de Nª Sª das Graças” do amigo Lencastre que “viveu a vida dos simples, toda impregnada de amor ao próximo ”. Vinha na “carreira” da Estrada da Beira até à paragem mais próxima da quinta. O resto fazia-se a cavalo. Ainda se conserva um postal escrito pelo P. Américo que diz: Zé Lencastre, no dia…, mande-me o cavalo à Catraia do Marrão.




Celebrava missa, cedo, na capela de Nª Sª da Graça, e, depois, subia até à capela de S. Francisco onde era total o silêncio e magnífica a visão sobre o vale do Alva e a Serra da Estrela. Esta era a sua tebaida. Na Eucaristia, na meditação e na oração, buscava conselho para os projectos e conforto para as agruras. O Pai Américo deu vida à palavra de Bento XVI: Fé, culto e ethos compenetram-se mutuamente como uma única realidade que se configura no encontro com a ágape de Deus.

quarta-feira, outubro 19, 2011

O Eu e o Nós no casamento

Há dias ouvi comparar o casamento ao encontro de dois rios que, depois de longo percurso solitário, fundem suas águas.

Amante de geografia desde os tempos em que fui aluno do P. Delfim, lembrei-me de três situações diferentes.

Na tarde do trágico dia 4 de Março de 2001, estive parado na ponte Hintze Ribeiro. Lá em baixo, as águas límpidas do Tâmega ainda procuravam resistir, mas, rapidamente eram engolidas pelas águas barrentas e tumultuosas do Douro. A partir daí, o Tâmega anula-se e só o Douro existe.
Quando, pela primeira vez, passei em Espanha a norte de Trás-os-Montes, procurei o rio Tua e apenas encontrei o Tuela. Soube, depois, que só após a confluência dos rios Tuela e Rabaçal é que o Tua ganha nome, em resultado da anulação dos primeiros.

Ao passear por Mora no Alto-Alentejo, procurei o rio Sorraia e o que encontrei foi a ribeira de Sor e a da Raia. As duas, ao confluírem, engrossam e formam um rio que aglutina os seus nomes: Sor + Raia = Sorraia.

Embora toda a comparação seja redutora, podemos perguntar-nos: qual destas situações se aproxima mais do que deve ser a vida conjugal? No casamento, também poderemos falar em fusão, como nas águas de um rio?
Paulo VI, no Discurso às Equipas de Nossa Senhora, dizia: “O dom de facto não é uma fusão. Cada personalidade permanece distinta e, longe de se dissolver no dom mútuo, afirma-se e afina-se, cresce ao longo da vida conjugal”.

A Comunidade matrimonial não é uma fusão mas uma comunhão de duas pessoas distintas. Perante a esposa/ marido, tenho de ter consciência que estou face a um ser original e único. Não podemos transformar-nos em clones um do outro nem aniquilarmo-nos mutuamente. O casamento é uma comunidade de pessoas unidas por um amor que, enriquecendo o Eu de cada um, dá vida ao Nós conjugall. A essência da vida em casal é o Amor, mas a sua prática é a solidariedade. Esta gera a compreensão e a partilha.

Carl Whitaker, citado por Daniel Sampaio, dizia que a patologia do casamento derivava do facto de dois indivíduos se tornarem num só, desaparecendo num nós, daí resultando uma maciça repressão das necessidades individuais. O processo de aprender a amar e de como fazer parte de um nós sem autodestruição é um projecto a longo prazo. Começa com a aprendizagem do saber amar-se a si próprio, depois aprender a amar uma pessoa parecida consigo mesmo, em seguida progride para a coragem de amar alguém diferente e continua para saber como tolerar tudo o que somos, o que deve incluir a relação com um outro significativo. Então o casamento deixa de ser uma adopção bilateral para se tornar num verdadeiro trabalho de equipa. A relação entre a contínua descoberta de si próprio e a construção do espaço a dois deve ser o caminho a seguir.”

terça-feira, outubro 18, 2011

Banda Sinfónica do Porto vence Concurso Mundial, na Holanda













A BANDA SINFÓNICA PORTUGUESA obteve, no passado domingo, o 1º lugar no 60º WMC (World Music Contest) realizado em Kerkrade - Holanda com a melhor classificação de todos os tempos neste concurso que é considerado o "campeonato do mundo". Assim rezava o e-mail que, no dia 5 de Outubro, me enviou Pedro Silva, presidente da direcção da BSP.


A banda portuguesa alcançou 98 dos 100 pontos possíveis, tendo sido a primeira vez, em 60 anos, que uma banda alcançou tantos pontos neste concurso. O seu maestro, Francisco Ferreira, referiu-se ao Prémio como “uma grande vitória, num dos mais prestigiantes e famosos concursos de música”.


E a pergunta surge imediata: que banda é esta que mereceu tal distinção?


A Banda Sinfónica Portuguesa, apoiada pela Academia de Música de Costa Cabral, nasceu no Porto, em Novembro de 2004, para dar visibilidade aos jovens portugueses, saídos das Escolas e Conservatórios de Música.
Em 1 de Janeiro de 2005, fez a sua apresentação no Rivoli no Porto onde gravou o primeiro CD. Em 2010, lançou o álbum A Portuguesa com obras exclusivamente de compositores portugueses. Em 2007, foi convidada pela Casa da Música a apresentar-se regularmente na Sala Suggia onde tem interpretado obras originais de compositores de renome mundial, algumas em primeira edição.
Tem sido dirigida por maestros de reconhecido mérito mundial, tais como Jan Cober (Holanda), Douglas Bostock (Inglaterra), José Vilaplana (Espanha), Eugene Corporon (EUA).
Os seus concertos extravasaram a cidade do Porto e foram até Lisboa, Bragança, Vila Real, Lamego, Espinho, Lagoa, Madrid (RTVE), Pontevedra, Corunha.
Em 2008, obteve o 1º prémio no II Concurso Internacional de Bandas de La Sénia na Catalunha (Espanha).


Num gesto de merecida homenagem, no passado dia 9, participei no concerto na Sala Suggia, dirigido pelo maestro Douglas Bostock. O programa foi preenchido por obras de compositores do século XX: Segunda Suite em Fá de Gustav Holst; Lincolnshire de Percy Grainger (no 50º aniversário da sua morte); Suite Française de Darius Milhaud; Dionysiaques de Florent Schmitt. A banda era formada por 62 jovens instrumentistas (4 flautas; 3 oboés; 3 fagotes; 16 clarinetes; 6 saxofones; 5 trompas; 6 trompetes; 4 trombones; 2 eufónios; 3 tubas; 8 percussão; 1 contrabaixo; 1 piano), todos com nomes portugueses.


Foi uma sala cheia que vibrou com a magnífica interpretação.
No final, o maestro, depois de enaltecer o valor e o prestígio da BSP, brindou os presentes com dois “encores” que todos aplaudiram de pé.