O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, julho 24, 2007

"OPERAÇÃO DE BARRIGA ABERTA"



Ontem, à noite, ouvi foguetes. O som vinha lá de longe. Dos lados da serra de Valongo. E surpreendi-me: amanhã, é a festa de Santa Justa!…
Hoje dia, 23 de Julho, o Dr. José Pedro Azevedo, que me operou na Ordem da Trindade, no dia 11 de Julho, retirou-me os pontos de uma operação motivada por uma hérnia inguinal e várias hérnias epigástricas. Estas resultaram de uma operação que fiz já lá vão uns 61 anos...
As coincidências levaram-me a recordar um dos momentos mais trágicos da minha vida. Eu conto.

O ACIDENTE
O ano de1946 corria tranquilo na felicidade despreocupada dos meus sete anos. Era tempo de festa. Fizera a minha primeira comunhão em Maio e preparava-me para ir para a escola em Outubro.
No dia 17 de Julho, era quarta-feira, meu pai e meus irmãos, auxiliados por vários vizinhos, andavam a arrancar batatas no campo de Godas. Em casa, apenas ficara minha mãe para fazer o “jantar” (que agora se diz almoço) e eu para a ajudar.
Como não tínhamos água canalizada, minha mãe, antes de acender a fogueira, foi buscá-la com o caneco, à “Mina do Moreira”. Ordenou-me que, entretanto, fosse ao quinteiro procurar queirós (urzes) secas para a ajudar a atear a fogueira quando regressasse. Acontece que a cozinha de minha casa fica no primeiro piso e o quinteiro é no rés-do-chão. Enquanto descia a escadaria que, da varanda, dá para o quinteiro, já ia a tentar ver, no meio do mato, onde estavam as queirós mais secas. Como a escadaria não tinha corrimão, aproximei-me, sem saber, da borda exterior das escadas, o meu pé direito falhou-me e eu, com o lanço que ia, fui bater com o lado esquerdo no bloco de granito onde estava fixado um varão de ferro que suportava o telhado do alpendre e que eu gostava de trepar. Senti umas dores horríveis.
Porque estava sozinho em casa, arrastei-me “de gatas” até ao exterior das portas “fronhas”, esperando que alguém passasse ou minha mãe chegasse. Quando chegou, eu, estendido no chão, só me lembro de lhe dizer” olhe minha mãe que eu vou morrer.” Ficou muito aflita e, depois de pousar o caneco em casa, pegou em mim ao colo e levou-me para a sua cama que ficava no quarto junto da cozinha. Sentia umas picadelas muito fortes no lado esquerdo da barriga, por debaixo das costelas.
Coitada de minha mãe… Tinha que fazer o jantar porque o pessoal das batatas estava para vir. Com que sofrimento e angústia… Quando chegaram, contou ao meu pai o que se tinha passado. -“ Isso foi mais uma das brincadeiras. Não pára quieto. Parece que tem “bicho carpinteiro”. Pois é, estava subir o varão e caiu. Isso passa. São coisas de crianças.” (Eu era a criança da casa porque meus irmãos eram mais velhos que eu dez e doze anos, respectivamente, o António e o meu Padrinho José Joaquim). Não ligaram grande importância ao cachopo… E lá continuei na cama, sem posição para estar: se me deitavam, doía-me, se me sentavam, doía-me. Sempre que me mudavam de posição as picadelas redobravam.

NO HOSPITAL DA ORDEM DO CARMO, NO PORTO
Na manhã de quinta, como as dores não passavam, meu pai chamou o médico amigo da família, o Dr. João Vale. Logo que me viu com um grande inchaço que se avolumava na minha virilha esquerda, disse: - “ Tem que ser imediatamente levado para o hospital”. – Para Valongo, pergunta minha mãe, aflita. – Não, para o Porto e já. Chamaram a ambulância dos bombeiros de Valongo e eu, acompanhado por meu pai e pela tia Isaura, que, com o marido, o senhor Moisés, vivia numa parte da minha casa, fui transportado para o hospital da Ordem do Carmo. Ainda tenho a imagem das pessoas à volta da ambulância quando eu era transportado para o interior do hospital: - foi um desastre
Entretanto, também chegara o Dr. Vale e o operador, Professor Fernando Magano, que era professor na Faculdade de Medicina do Porto que, à época, funcionava junto do Hospital de Santo António, no edifício que agora pertence ao ICBAS.
A minha casa anoitecera. Minha mãe fechou todas as portadas das janelas que se mantiveram cerradas até eu ser transferido para o hospital de Valongo. Deixou de acender a lareira… Como minha casa era um pouco o centro da aldeia (era lá que as pessoas iam ao leite, todos os dias), o meu lugar também entrou em oração. Estávamos em tempo da festa de Santa Justa (o dia litúrgico é em 19 de Julho, mas a festa faz-se sempre na segunda-feira seguinte) cuja capelinha branquejava lá ao longe no alto da serra de Valongo. As minhas vizinhas, e foram muitas, fizeram promessas à Santa Justa, pedindo que me salvasse. Minha mãe não ia muito em promessas aos santos. Rezava muito ao Santíssimo Sacramento e ao Sagrado Coração de Jesus de quem era zeladora. (Ainda me lembro de ir pedir a esmola aos vizinhos que eram Associados do Coração de Jesus…)
O Professor ordenou aos estagiários que o acompanhavam que fizessem o diagnóstico. Como estes tardavam e o tempo urgia, logo afirmou:” Trata--se de uma ruptura no baço e o sangue está a concentrar-se aqui na virilha e a espalhar-se pelo corpo. Tem que ser operado imediatamente ou, se não, virá uma infecção que o mata.” O Dr. Vale veio falar com meu pai: “Senhor Moreira Dias, o João precisa de ser operado. Se não for operado, não viverá mais de doze horas; se for, poderá morrer mais cedo ou então salvar-se. Tem que decidir. Já.” Meu pai, respondeu: - “Se há uma esperança, opere-se” (Horas duras as vividas por meu pai… e eu rezo uma oração por ele e pela tia Isaura e pelo Dr. Vale e pelo Professor Fernando Magano - já todos partiram…).
Por coincidência, estava na Ordem do Carmo um bispo Missionário que, quando soube que eu já tinha feito a primeira comunhão, veio confessar-me e dar-me a Comunhão e a Extrema-Unção (É por isso que costumo dizer que sou dos poucos que já receberam todos os Sacramentos… Se isso fosse sinónimo de santidade…). Soube depois que ele não respeitou o segredo da confissão e disse ao meu pai que o pecado que eu confessara foi o de ter mandado à merda (sic) as vacas. (Só um parêntese: isto significa que eu já ia, sozinho, com o gado para o monte porque era esta a única ocasião em que contactava com as vacas – hoje seria exploração infantil…)
Dada a urgência, nem análises foram feitas. Só me lembro da aflição que senti quando me deram a cheirar um pedaço de algodão embebido em clorofórmio para me anestesiarem. Ainda hoje este cheiro me acompanha.
Quando o bisturi me rasgou a pele da barriga, o sangue salpicou as batas dos médicos que me operavam. Foi uma cirurgia de alto risco que o Professor Fernando Magano só realizou porque eu era muito novo. O que me tinha acontecido? Ao bater no granito, as costelas flutuantes curvaram, sem partirem, e picaram o baço entre três locais. Por isso, o sangue espalhara-se pelo corpo. O baço não foi retirado, foi cozido. A barriga foi toda aberta: a costura que me foi feita, vai da boca do estômago até ao fundo da barriga: “operação de barriga aberta”.
Para além de arriscada, foi uma operação dispendiosa: naquele tempo, meu pai pagou dezanove contos na Ordem do Carmo. Era muito dinheiro. Basta lembrar que, por uns dois contos, já se comprava uma junta de bois… Eu, apesar de criança, apercebi-me claramente que, se meu pai não tivesse dinheiro, eu teria morrido. Por isso, ainda hoje me envergonho da figura que fiz no dia de minha comunhão solene em cujo almoço participaram muitos amigos da família, entre os quais o Dr. Vale. Quando meu pai, mostrando-se agradecido, dizia em voz alta: - “Se hoje estamos em festa, devemos isso aqui ao senhor Dr. Vale…” Eu acrescentei: -“E ao dinheiro do meu pai…” Fez-se silêncio… Meu pai engoliu em seco… Menino espertinho… Criança não esconde o que pensa…
Depois de operado, fiquei entre a vida e a morte durante alguns dias. Meu pai nunca me deixou. Acompanhou-me sempre. Grande companheiro. Obrigado, pai. Minha mãe, coitada, não podia abandonar a casa. Sofria no silêncio como sempre soube sofrer…
Desse período, recordo aquilo que mais me atormentou: o algaliar-me (era muito doloroso) e a sede terrível. A febre queimava. Só podia beber uma colherzinha de água-das-pedras, de longe a longe (E a insensibilidade dos médicos e enfermeiros… Quando vinham ver-me, sempre lavavam as mãos no lavatório que havia no quarto. Eu, cheio de sede, ouvia a água a correr... Uma noite, enquanto meu pai dormia, procurei levantar-me para ir beber ao lavatório… Acordou nesse preciso momento, chamou o enfermeiro…e deitaram-me. Deus estava por nosso lado.)

MILAGRE DE SANTA JUSTA
O febre começou a diminuir na noite de domingo para segunda-feira: exactamente na passagem da Festa de Santa Rufina para a festa de Santa Justa (as duas são veneradas na mesma capela: Sta Rufina é festejada no Domingo; Santa Justa, na Segunda.). A partir dessa noite, as melhoras foram constantes. Foi um milagre de Santa Justa. Nos anos seguintes, logo que pude, subi, várias vezes, amortalhado até à sua capela e acompanhei a pé, segurando a mão de minhas vizinhas que, de joelhos, davam voltas à capela, cumprindo as promessas que fizeram para me salvar. Já todas estão na “terra da verdade”. Que Deus vos recompense.

NO HOSPITAL DE VALONGO
Passados uns tempos, fui transferido para o hospital de Valongo onde fiquei ao cuidado do Dr. Vale. Por infelicidade, os pontos da parte superior da barriga, rebentaram. O Dr. Vale veio ter comigo e disse-me: - João, és homem ou não és homem?...- Sou sim senhor. E coseu-me com “corda de viola” a parte que se tinha rompido. E, cerrando os dentes, aguentei… porque era homem…- Qu’a dores, meu Deus!... Foi precisamente nesse local que foram descobertas as várias hérnias a que fui operado. A costura que agora me foi feita, com cerca de trinta pontos, acompanhou toda a extensão da anterior. Vamos ver se fico mais arranjadinho… A Ana Rita, filha do meu amigo Dr. Luís, um dia, ao ver-me na praia, ficou muito admirada e disse: o João tem dois bigos… Vamos ver se fico apenas com um bigo…
Depois de vir para casa, estive vários meses de cama e andei enfaixado durante um ano. Valeram-me o Luís Gaio, o Nando da Lina, o Chico Queirós e a Palmira Leoa que me vinham fazer companhia… Não pude ir para a escola nesse Outubro, mas apenas em Outubro do ano seguinte, já com oito anos. Atrasei um ano.
Toda a gente teve consciência da gravidade do meu desastre mas houve uma fama de que nunca me livrei: o acidente devera-se ao facto de eu ter caído quando estava a subir ao varão… (É verdade que eu, na minha traquinice, gostava muito de trepar pelo varão fora... ) . Esta foi a versão que fora posta a correr pelos adultos que não viram nada, porque eu estava sozinho em casa. Eu bem reclamava: - que não senhor, que foi quando ia à procura das queirós… Mas… o que ficou… foi o que os adultos disseram: criança, era criança… Lembro-me do Kalimero…Injustiças!...

SEQUELAS
Como sequelas dessa operação, recordo, em primeiro lugar, as minhas limitações nas brincadeiras de criança que deveriam evitar tudo o que representasse esforço físico ou pudesse ocasionar choques violentos Por isso, especializei-me no jogo do botão, na roda, na corrida, na barra.
Durante, os meus primeiros anos do seminário ainda sofri muito. O clorofórmio deixou-me com muitas dores de cabeça. Em certos dias, as dores eram insuportáveis. Eu ficava na cama, mas logo vinha o enfermeiro “tirar-me a temperatura” e, como não tinha febre, era obrigado a levantar-me, a ir para as aulas e, ainda por cima, ouvia: - Estes preguiçosos… Depois tudo passou.

Esta foi uma recordação que me fez lembrar os que me amavam e que muito sofreram. E um sentimento de pertença e gratidão me encheu o espírito. Já quase todos partiram para a “Casa do Pai”… As saudades embaciaram-me os olhos…

terça-feira, julho 03, 2007

SENHORA DA LAPA

NOTAS DE VIAGEM

Por razões que já referi no texto “Civitas Virginis”, o Coro Gregoriano do Porto, durante o último ano, tem concentrado o seu trabalho no culto a Nossa Senhora. Para além de esporádicos concertos, temos ocupado os nossos ensaios preparar temas que integrarão o nosso próximo CD. Por isso, ao programar o nosso passeio anual, decidi propor aos meus colegas a visita ao Santuário da Senhora da Lapa, em Sernancelhe. Foi uma maneira de realçarmos uma invocação mariana que é venerada na nossa cidade e muito diz ao nosso coro: nunca esquecemos que “nascemos” na Igreja da Lapa, no Porto.
A propósito do roteiro que escrevi para os “passeantes” (apresentado no final deste texto), gostaria de destacar algumas notas de viagem
No Tojal, os meus colegas ficaram maravilhados com a beleza do altar-mor e com os azulejos da igreja de Nossa Senhora da Oliva.(Que bonita é sua a imagem!...) Valeu-nos a simpatia da senhora Maria que nos foi abrir a porta (quando, no final, eu me apressava para lhe dar uma pequena gorjeta, ela recusou, dizendo: obrigado mas não aceito, fica para um café para vocês, eu já fico muito contente quando vêm visitar a nossa igreja). E todos ficámos sensibilizados com esta atitude e lamentámos o desconhecimento e o abandono a que estão votadas muitas obras de arte do nosso património cultural e histórico.
No “Senhor dos Caminhos”, mergulhámos na história e imaginámos os almocreves a passar com os seus machos/mulas carregados de mercadorias, invocando a protecção divina contra salteadores e animais selvagens. Como está bem adaptado o nome do santuário, Senhor dos Caminhos… Todo o espaço envolvente da capela está impecavelmente tratado: muito limpo, mesas para piqueniques, casa de apoio aos peregrinos, tílias frondosas que enchem o recinto com o perfume das suas flores. É um local paradisíaco onde apetece ficar, repousar e lá voltar.
A capela estava aberta. Pedimos autorização ao sacerdote que estava ensaiar o coro litúrgico, e, no altar, cantámos o “Rorate”. Que bem nos soube!... No fim, ao falar com o dito sacerdote sobre os projectos do nosso coro, ele sugeriu que o CD que vamos dedicar a Nossa Senhora, se chamasse apenas “ Maria”. É interessante. Fica a proposta para ser estudada…
Em Aguiar da Beira, foi o almoço no Cabicanca… Ao ver a pressa com que todos, esfomeados, “atacaram” as entradas, lembrei-me dos velhos tempos do Seminário de Vilar em dia de “prélio”/”batalha”: era o dia (creio que era à quinta-feira) em que o almoço era batatas com bacalhau, mais das primeiras (não muitas...) e pouco do segundo. Era dia de festa… Aburguesados, já não nos contentamos com a bacalhoada. Começámos, de facto, um bom bacalhau com “batatas a murro”, mas não dispensámos um muito saboroso e tenrinho “cabrito assado no forno”, iguaria característica desta terra serrana.
Depois foi a “Senhora da Lapa”. A visita iniciou-se pelo Santuário. Admirámos a belíssima imagem da Senhora da Lapa. Depois, temerosos, encolhemos as barrigas, mais ou menos proeminentes, e lá nos esgueirámos pela “frincha” entre penedos. Passámos todos… É tudo boa gente sem grandes pesos na consciência e na barriga….
Como preito a Nossa Senhora, cantámos o nosso cântico fundador, o “Rorate” e o “ Regina Caeli”.
Já no exterior, olhámos para o grandioso edifício do Colégio dos Jesuítas, onde estudou Aquilino. E interrogámo-nos sobre o quanto o nosso país deve à acção cultural da Igreja. Não fora este colégio e a nossa literatura, certamente, não poderia contar com um dos seus grandes nomes. Qual terá sido a influência cultural deste grande colégio, perdido em “Terras do Demo”? Quantas injustiças se cometem ao ignorar-se a missão civilizadora da Igreja.
No Carregal, no “Pórtico dos Sanhudos”, recebeu-nos o senhor José Castelo e a D. Fernanda, actuais proprietários da casa onde nasceu Aquilino Ribeiro. Este ano, não puderam oferecer cerejas porque não as tiveram, mas partilhámos um garrafão de vinho das suas videiras e bebemos água bem fresquinha que foram buscar à fonte. Obrigado, senhor Castelo pela vossa amabilidade. Por sua indicação, lemos vários trechos do livro de Aquilino “Cinco Reis de Gente” onde ele fala das suas traquinices de criança e descreve o “pátio “ onde nos encontrávamos: "Vejo no grande e desmantelado pátio fidalgo a nossa casa" (Actualmente, está tudo bem arranjado e limpo). O que Aquilino não diz é que essa casa era a “residência paroquial” e que o seu pai era o pároco. Admirámos a linguagem de Aquilino com os seus regionalismos riquíssimos e nem sempre fáceis de compreender. Porém, a nossa atenção fixou-se em seu pai. Todos gostaríamos de o conhecer. Teve três filhos daquela que era a sua empregada, Mariana: Aquilino em 1885, Melchior em 1888 e Mariana em 1889. E continuou pároco e a viver sempre na mesma casa. Mais, em 1990, perfilhou-os a todos e continuou na Paróquia donde só saiu em 1895. Mereceu-nos reflexão. Era um homem de coragem, de carácter. Assumia os seus actos. Os seu filhos, não eram “afilhados” ou “sobrinhos” como acontecia com muitos outros. Não fugiu às suas responsabilidades de pai. E isto obriga-nos a pensar na atitude compreensiva dos seus paroquianos e do bispo da diocese (A lembrar-nos D. Frei Bartolomeu dos Mártires, Arcebispo de Braga, no Concílio de Trento: "celibato, sim, mas não para os meus barrosãos...". Outros tempos... Outros homens...


POR TERRAS DO DEMO

CORO GREGORIANO DO PORTO - 30 de Junho de 2007

CONVÍVIO...CULTURA... ARTE... GASTRONOMIA...CRENÇAS...

1- SÁTÃO - Paragem na “Praça Paulo VI”- a sala de visitas da vila.
Antiga Zaatan doada em 1111 a Bernardo Franco por D.Teresa e Conde D. Henrique que lhe outorgaram o seu 1º foral, renovado em 1240 (D. Sancho II) e em 1514 ( D. Manuel)
A visitar na Vila: Solar dos Albuquerques / Biblioteca
- No Tojal, merece visita a igreja matriz, do antigo convento das dominicanas (séc. XVII) de Nossa Senhora da Oliva - uma jóia artística (aqui, no séc. XI/XII, havia um convento duplex de beneditinos). A talha do altar-mor é do séc. XVIII com a imagem de Nª Sª de Oliva. Paredes com azulejos do séc. XVII
- Senhor dos Caminhos, (desvio na povoação de Rãs) - “ As Capelas Imperfeitas” – as colunatas inacabadas - dos finais do séc. XIX. Inicialmente, foi construído um nicho onde os almocreves de passagem depositavam as suas esmolas. Com estas, foi construída uma capela que foi substituída pela actual. A festa realiza-se no Domingo da Santíssima Trindade. Grande romaria. Fica próximo do rio Vouga.

2- AGUIAR DA BEIRA
Foi saqueada por al-Mansur em 985. Recebeu foral de D. Teresa e D. Afonso Henriques em 1120, renovado em 1220 (D. Afonso II), em 1258 (D. Afonso III) e em 1512 (D. Manuel).
O castelo, cuja fundação é anterior à nacionalidade (séc.VII/XI), foi reconstruído por D. Dinis.
São de destacar a antiga capela de Nossa Senhora do Castelo (do Calvário), de raiz românica (séc.XIII?) e a igreja da Misericórdia (séc. XVIII)
No “Largo dos Monumentos”: Pelourinho Manuelino (séc. XVI); Torre do Relógio, Fonte Ameada, Casa dos Magistrados (séc. XV), antigos Paços do Concelho (séc. XVIII)
Cabicanca? Escorropicha? Antigamente, os de Aguiar não gostavam destes nomes. E agora? É melhor não experimentar. O herói foi Martinho Afonso que matou com um tiro a “cabicanca” (uma pobre cegonha que fez ninho na torre da igreja matriz, a capela da Senhora do Castelo, e trazia amedrontados os povos da terra) Para festejar o feito, o herói ouvia o povo a aclamar: escorropicha…Copo atrás de copo…
E para comemorar, iremos almoçar no Cabicanca…

3- SENHORA DA LAPA
Aldeia perdida por “Terras do Demo” deve o seu renome ao Santuário.
Santuário – Construído sob a orientação dos jesuítas, guarda o rochedo milagroso com a imagem da Senhora da Lapa. O altar terá sido construído no local onde a pastora Joana, que era muda, encontrou a imagem (escondida no séc. X aquando das investidas dos Mouros) que a mãe iria queimar quando ela, recuperando a voz, lhe disse que era Nª Senhora. Por trás está uma passagem estreita e irregular que vai dar ao presépio com figuras da escola de Machado de Castro. Acredita-se que quem estiver em pecado não consegue passar. Ou seria uma forma de descobrir se uma rapariga solteira estava grávida?
A servir de altar-mor fica o altar do Menino Jesus, revestido de trajes napoleónicos, ladeado por quadros de Josefa de Óbidos. Também merece atenção o pequeno altar da Senhora da Boa Morte.
Por detrás da capela-mor fica a Casa do Peso onde estavam as balanças em que as pessoas se pesavam com vista à futura promessa em trigo.Lá se encontra suspenso um enorme caimão/sardão/lagarto cuja lenda apresenta várias versões: homem atacado na Índia por enorme caimão que conseguiu matar depois de invocar a Senhora da Lapa ; mulher das redondezas que, inspirada pela Senhora da Lapa, atirou novelos de lã ao sardão para que ele os engolisse e morresse engasgado.
Na sacristia, há ex-votos de grande interesse.
Romaria em 15 de Agosto.

Colégio da Lapa – Fundado pelos Jesuítas no séc. XVI, restabelecido nos fins do séc. XIX e hoje extinto. A vinda de Aquilino Ribeiro para este colégio em 1895 marcou o início de um caminho que passará por Lamego e Viseu (1902) , onde estudou Filosofia, e Seminário de Beja donde foi expulso em 1904. Lisboa (1906); preso por razões políticas, evade-se e foge para Paris (1907) onde se inscreve m Filosofia na Sorbone. Regressa a Portugal em 1914, sendo professor no Liceu Camões. Em 1927 é obrigado a fugir novamente para Paris. O exílio termina em 1932. Em 1958 por causa de “Quando os Lobos Uivam” é-lhe instaurado um processo-crime que acabou por ser arquivado.
Pelourinho – Cadeia - Artesanato – Queijos - Pão
A nascente do Rio Vouga/Fonte dos Clérigos

3-TABOSA- Convento fundado em 1690 para freiras descalças seguidoras das regras de S. Bento. Extinto em 1834.

4- CARREGAL- no “Pórtico dos Sanhudos”, a casa onde nasceu Aquilino Ribeiro em 13 de Setembro de 1885, filho de Mariana do Rosário Gomes (24 anos) e do padre Joaquim Francisco Ribeiro. No seu registo de nascimento consta “nasceu na freguesia do Carregal (…) à uma hora da tarde do dia treze do mês de Setembro (1885), filho natural e primeiro de Mariana do Rosário, solteira, criada de servir…” . Também aí nasceram os seus irmãos: Melchior (o Quinzinho de”Cinco Reis de Gente”) em 1888 e Maria do Rosário em 1889. Todos constam como filhos naturais porque o pai era o pároco da freguesia. Por isso, os baptizados e registos de nascimento foram feitos fora da paróquia. Foram perfilhados pelo pai em 1890 (que foi pároco da freguesia de 1879 a 1895). Por isso, é natural que o local de nascimento de Aquilino tenha sido a casa onde os pais residiam e onde ele viveu os seus primeiros anos, a residência paroquial.
Faleceu em 1963 em Lisboa.
Da sua longa bibliografia, registo apenas a sua primeira publicação em 1915 (Jardim das Tormentas) e a última em 1988 (“Páginas do Exílio .Cartas e crónicas de Paris” - recolha de textos e organização de Jorge Reis). Quem não se lembra de “Terras do Demo” (1919); “Filhas de Babilónia” (1920) “; “Romance da Raposa” (1924); “Andam Faunos pelo Bosque” (1926); “ O Homem que Matou o Diabo” (1930) “O Malhadinhas” (1949); “ O Homem da Nave” (1954); “Abóboras no Telhado” (1955); “A Casa Grande de Romarigães” (1957); “Quando os Lobos Uivam” (1958).

Boa Viagem, amigos!
POR TERRAS