O Tanoeiro da Ribeira

segunda-feira, maio 21, 2012

BURLÕES E LADRÕES

“Cautela e caldos de galinha…” Todos os dias, os jornais noticiam burlas e assaltos a idosos. Apenas três casos: - Uma idosa foi abordada quando ia à missa. Um homem dentro de um carro chamou-a, tratando-a por “tia”. Ela disse que não o conhecia, mas o burlão insistiu, mencionando até um afilhado da idosa, que até tratou pelo nome. O “sobrinho” deu-lhe boleia até casa dela. Quando ela foi ao gavetão, o burlão pegou numa bolsa de renda onde estava o ouro todo no valor de 1380 euros. (JN 3/4) - “Intitulou-se chefe de Finanças e disse que estava em inspeção porque as notas de euro iam sair de circulação. Conseguiu levar cinco mil euros e um cordão de ouro a um casal de reformados. O impostor convenceu o homem a ir buscar as notas que tinha em casa”. (JN 11/4) - Em Castelo de Paiva, dois falsos doutores da Segurança Social foram burlar idosa com troca de notas. “Parece que me drogaram e fiquei sem sentidos. Acabaram a conversa e fui direitinha para casa ao sítio onde guardava o dinheiro e o ouro”. (…) Nem conseguiu gritar pelo filho que estava a dormir, na mesma casa. (JN 2/5) “Homem prevenido vale por dois.” Os idosos investiram poupanças em ouro e alguns costumam guardar dinheiro em casa, o que é sempre um perigo. Têm grande afeição à família e são bem-educados. Os criminosos sabem disso e aproveitam-se. Os burlões apresentam-se como pessoas simpáticas, bem vestidas e com uma conversa envolvente. Dizem-se familiares, amigos de infância ou de filhos, funcionários de instituições conhecidas ou com profissões de prestígio. Começam por dizer que vêm para ajudar a trocar dinheiro porque as notas vão ficar fora de validade ou preencher novos papéis para melhorar as pensões. Outros pretendem entregar uma encomenda mandada ou destinada a um filho. Se se dizem familiares, acabam por pedir dinheiro. Outros ainda, recorrem ao velho truque do “conto do vigário”. “Quem me avisa meu amigo é”. Na rua, evite trazer objetos de valor e, se estiver só, não dê conversa a estranhos. Nunca mostre ou fale do dinheiro ou bens que tem em casa. Em caso algum, dê a entender que vive só ou que está sozinho em casa. Ao telefone, nunca fale dos seus desejos ou problemas nem preste informações sobre si ou vizinhos. Nunca aceite boleia ou deixe entrar em casa uma pessoa estranha. Mesmo aos funcionários de empresas conhecidas, peça a identificação e confira previamente a fotografia, antes de abrir a porta. Tenha sempre à mão o telefone das autoridades policiais, de familiares, amigos ou de um vizinho, para uma urgência. Estas precauções até podem parecer pouco cristãs, mas o próprio Jesus advertiu-nos que “os filhos das trevas são mais prudentes do que os filhos da luz no trato com seus semelhantes”(Lc,16,8). E, como dizia um padre, “ser lorpa nunca foi virtude”.

Torres Queiruga - um teólogo com coração

Um teólogo com coração O texto “Andrés Torres Queiruga homenageado na Universidade e censurado pelo Episcopado espanhol”(VP 25/4/12) apresentava “a sua reflexão teológica, não como dogmática nem irredutível mas dialógica e nunca agressiva”. Sem me imiscuir em tensões dialéticas que sempre marcaram a convivência entre Magistério e Ciência teológica, apresento algumas notas que fundamentam o título que retirei do prefácio ao livro Creo en Deus Pai. O Deus de Xesús e a autonomía humana, Vigo, 1986. - Torres Queiruga nasceu em Aguiño, aldeia piscatória da “Costa da Morte” galega onde o mar é berço e túmulo. Foi a fidelidade às raízes que o levou a escrever todos os livros na sua língua materna. - Em 1970, era ele ainda muito jovem, D. António Ferreira Gomes recebeu-o em Milhundos. E foi longa a conversa sobre a incarnação do cristianismo na sociedade galega e os pontos de convergência com a cultura portuguesa. Nasceu aí uma admiração mútua. Não foi por acaso que o Dr. Godinho, mais tarde, o convidou para participar em “Jornadas Teológicas do Clero”. - Num jantar no Porto, ao ouvir uma senhora dizer “eu só sei dizer que, em Fátima, me sinto bem, gosto de lá rezar e meditar”, virou-se para o sacerdote que estava a pôr em causa as aparições de Fátima e disse-lhe: “Padre F., isto é que é importante, isto é que é preciso saber ouvir”. - Quando o Coro Gregoriano do Porto foi cantar a “Misa do Peregrino” a Santiago, foi ele quem falou com o Deão da Catedral e marcou o almoço no “campus universitário”. E ainda teve a amabilidade de o acompanhar na Eucaristia e na refeição. - Anos atrás, por convite dum movimento de jovens cristãos, deslocou-se, no seu carro, a Gouveia para orientar um encontro ibérico. Quando, no final, alguém lhe perguntou se tinham pago pelo menos a gasolina, limitou-se a responder: os jovens não têm dinheiro para eles, como podem ter para estas coisas… - Logo que soube da morte dum familiar dum casal amigo, veio visitá-lo ao Porto. Regressado a casa, escreveu-lhes “ante todo, moitísmas grazas por ter podido compartir con todos ese día tan intenso, tan humano, tan divino. (…) Espero que a dor vai cedendo cada vez máis espazo á serneidade, á esperanza e á comuñón”. Na Páscoa passada, enviou -lhes um email: “nestes días de pascua deséxovos que a luz da resurrección sexa facho quente e luminoso, pois sei ben que o precisades”. - “Eu só quero ter a Fé de minha mãe”, respondeu quando lhe perguntaram como conciliava a sua Fé com a investigação teológica. E os seus pais eram pessoas simples como simples é o epitáfio que colocou no seu túmulo: xuntiños na terra xuntiños no ceo. Foi na “via-sacra” do seu povo e no aconchego cristão da sua família que ele bebeu a Fé no Deus-Pai/Mãe, o “Abbá” de Jesus, que inspira todo o seu trabalho teológico.