O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, setembro 01, 2010

O verão é solidão (?)




É hábito que me ficou do tempo em que meus filhos eram crianças. No final dum passeio, depois de o recapitularmos, fazia-lhes a pergunta sacramental: - E de que é que mais gostastes? Ainda recordo a resposta do meu filho de três anitos, quando visitámos Roma: - Foi o “Coligeu”.

Este Agosto, participei na peregrinação da Voz Portucalense aos Santuários Franceses.


Em Annecy, celebrámos a Eucaristia junto do túmulo de S. Francisco de Sales e admirámos a beleza da “Veneza dos Alpes”. Em Chambery, lembrámos D. Mafalda da Sabóia, a esposa de D. Afonso Henriques.



Nos Alpes franceses, subimos aos “céus”, por entre a magnificência verde das montanhas. E, lá bem no alto, cantámos a Nª Sª de La Salette.

No dia 4, participámos, em Ars, na Eucaristia presidida pelo Núncio Apostólico de França. E sentimo-nos elevados ao céu pela voz doce da irmã que orientava os cânticos. Em Cluny, foi o encontro com a história da Europa que nasceu cristã graças aos monges beneditinos. Em Paray-Le-Monial, com Santa Margarida Maria Alacoque, rezámos ao Sagrado Coração de Jesus. Em Taizé, partilhámos a refeição e a oração com cerca de 6 000 jovens.


Em Dijon, lembramos o Conde D. Henrique e seguimos os passos da Beata Isabel da Trindade. Terminámos no Carmelo de Flavignerot, com a Eucaristia, presidida pelo nosso Pe. Manuel e cantada pelas irmãs carmelitas. Foi mais um momento de paraíso.



Depois de Lyon e Perouges, visitámos Genebra.


Foi tudo uma beleza! E o que mais me impressionou? O que mais me deixou a pensar foi um cartaz que, de relance, vi em Lyon, com a fotografia de um idoso que, dizia”

“Com muito ou pouco calor, o verão
Para mim, é solidão.”





Mas o Verão não é tempo de férias, de praia, de passeios e excursões? – É. Para alguns. E os outros? Os que ficam em casa, em lares, em hospitais?…
Numa visita que fiz ao Hospital Padre Américo, falei desse cartaz a um grupo de doentes internadas. E elas confirmaram que as visitas e os telefonemas eram mais raras no Verão. Uma mais idosa dizia: - “Sabe, o meu filho vai com a família para fora no mês de Agosto. Coitadinho, ele bem precisa de se distrair, trabalha muito o ano todo. Os horários são diferentes… Mas algumas vezes ainda me telefona.” Havia compreensão nas palavras e solidão no olhar.
Entretanto, li um texto de Manuel de Lemos – Presidente da União das Misericórdias -, que a todos, instituições, idosos, familiares, deve fazer pensar:
As actividades centram-se na descoberta de novos interesses e abrem possibilidades para a reformulação de planos de vida, nos quais os idosos se situam como participantes e capazes de contribuir no seu grupo institucional, familiar e nas comunidades. A nova geração de idosos é mais dinâmica, mais sensível a inovações, mais exigente, mais independente e cada vez mais interessada na satisfação de outras necessidades que não só as básicas

As instituições, atentas a este período em que o apoio familiar se torna mais ténue, devem diversificar as actividades e envolver os idosos na sua programação e realização. Os idosos saibam cooperar e tornar-se agentes da sua própria promoção. Ser idoso não é ser inútil. E há tantas coisas que os idosos podem fazer…
E os familiares lembrem-se que é em tempo de férias que os seus idosos se sentem mais sozinhos.