O Tanoeiro da Ribeira

sábado, junho 18, 2011

Testemunhos

- “A vida é feita de aprendizagens. Desde muito pequeninos aprendemos a andar, falar, crescer. É verdade que em muitas ocasiões da nossa vida as escolhas erradas e as feridas nos ajudam a crescer, porém, também precisamos na nossa vida de alguém que nos guie e ampare nas quedas. Precisamos de um professor amigo para nos amar e ensinar. “

- “A maioria das pessoas pensa: ei, filosofia que seca, formas de pensar, formas de agir, pensamentos para aqui e para ali. Mas filosofia é sabedoria, é a maneira de aprendermos a viver a vida de cada vez e no final dela, quando tivermos netos não iremos contar os anos que vivemos mas sim o número de pessoas que fizemos felizes. Ao longo deste ano cresci mentalmente e na maneira de ver a vida e de a viver”.

-“ De facto cresci muito. Sei que o mundo não gira mais à minha volta, já não sou egocêntrica. Sei que existem outras pessoas, com outras necessidades.”

-“ Desde que entrei na turma, rapidamente interiorizei que havia uma empatia entre todos que agiam de forma alegre, interactiva e divertida. Havia compreensão, respeito, perseverança e bem-estar.”

-“No início do ano, pensava que não iria gostar desta disciplina, pois de facto, para escrever não era mesmo comigo, nenhum assunto sério da vida me despertava algum interesse e a nível moral ficava muito atrás. No entanto, graças à Filosofia, eu evolui muito como pessoa. Ajudou-me a ser uma pessoa melhor e a ver o mundo de outra maneira”. P.S. O professor só devia era mudar uma coisa, “de clube” devia mudar para o grande “glorioso!...”

- “ A Filosofia ensinou-me que falar é fácil, agora agir já é mais difícil; ensinou-me que temos de seguir em frente e ultrapassar os problemas e adversidades; ensinou-me a olhar e ver para além do invisível; ensinou-me a apreciar o belo e a arte; mostrou-me que eu não sou o único com problemas no mundo. Vou tentar transmitir aos meus irmãos mais novos e aos meus futuros filhos, os conhecimentos e o que aprendi sobre a vida”

-“A Filosofia fez com que quiçá uma rapariga superficial e pouco atenta ao que acontecia aos outros se preocupasse, passasse a ser um ser humano crítico e profundo. Ganhei uma perspectiva do mundo que nunca na vida tinha alguma vez imaginado. Tive noção que não era o centro do mundo. Passei a ter consciência que as minhas atitudes não eram de certa forma coerentes com aquilo que eu dizia acreditar”.

-“Acho que evoluí, tornando-me uma pessoa mais comunicadora e crítica, que aprendeu a reflectir e a exprimir as suas opiniões.”

-“Quando alguém realmente quer, basta-nos dar liberdade ao pensamento, ouvir o outro e abrir o coração. E quando damos por nós, já crescemos interiormente”

-“Fiquei consciente que o homem mais rico do mundo não é aquele que guarda a primeira moeda que ganhou, mas aquele que conserva o primeiro amigo que fez”.

-“ Ao longo deste ano, eu cresci. Agora sinto que sou mais exigente comigo mesma.”

-“Esta disciplina ensinou-me a saber pensar, agir e estar”.

-“Este ano foi espectacular, crescemos muito e aprendemos muito uns com os outro. Foi uma oportunidade excelente de poder trabalhar com os colegas. Ao longo do ano, fomo-nos conhecendo e agora não somos só uma turma mas sim um grupo de amigos.”

-“Eu desenvolvi muito o meu sentido de responsabilidade. Outro ponto que queria salientar foi o meu enriquecimento não só ao nível dos conhecimentos mas também ao nível da sabedoria que tenho para com a vida.”

-“A Filosofia foi muito produtiva. Tocou-me muito. Fez-me ponderar muito as decisões da minha vida.”

-“ Ajudou-me muito a desenvolver a minha capacidade de pensamento. Espero continuar a gostar de Filosofia como agora.”

-“Finalmente encontrei pessoas que gostam de mim tal como sou. As aulas de Filosofia fizeram-me crescer por dentro o que é bastante gratificante.”

-“As aulas tornaram-me mais autónoma pois fizemos trabalhos de reflexão pessoal e isso fez-me crescer como pessoa. A partir desta disciplina, aprendi a escrever e ter gosto de o fazer.”

-“Sinto-me mais “rica”, com mais experiência, mais madura e com muito para dar. A Filosofia ajuda-nos a crescer.”

-“Aprendi a ser mais autónomo e a ter mais responsabilidade.”

-“Agora eu sei que “boa educação” é respeitar as outras pessoas, compreendê-las e acima de tudo fazer com que elas se sintam bem na nossa presença, ajudando-as. Graças à Filosofia, agora sou um rapaz mais maduro, responsável e sensível ao mundo que me rodeia.”

-“Tornou-me mais “eu”, mais conhecedora de mim mesmo. Descobri a infinidade da Sabedoria”.

-“A vida é como uma flor, nasce, perde pétalas e morre, mas se não houver uma abelha que coloque o pólen noutros sítios nunca mais volta a existir uma da mesma família.”

-“Acima de tudo foi uma “viagem” agradável e sem “enjoos”, descobrindo e aprendendo algo de valioso para a vida.”

-“O homem foi feito para se ajudar uns aos outros com conhecimentos e objectivos que se vão fazer, passando e deitando abaixo fronteiras alcançadas. Vai melhorando vidas e renascendo outras”.

-“A Filosofia é a arte de pensar mas sobretudo a arte de saber pensar e saber reflectir. Eu gostei das aulas de Filosofia mas principalmente gostei de filosofar. E aquilo que aprendi vai ficar guardado e vai ser utilizado em todas as alturas.”

-“Aquilo que eu digo é que ainda tenho muito que aprender mas também tenho muito para ensinar”.

-“A chave da Filosofia é ter uma mente aberta acima de tudo.”

-“Aprendi a respeitar e a ver a vida com outros olhos”.


Estas foram algumas das respostas que alunos do 10.º ano, de modo absolutamente anónimo, deram, na última aula do ano lectivo, à questão: o que foi para mim este meu primeiro ano de Filosofia. O programa de Filosofia do 10º ano centra-se na “acção humana” e nos “valores”. Os autores destas frases são adolescentes com 15 e 16 anos.

Quando tanto se apregoa a crise de valores da nossa juventude, ainda há quem minimize o ensino da Filosofia e deprecie o trabalho educativo das escolas...

terça-feira, junho 07, 2011

Foi bonito!...




No dia 28 de Maio, o Coro Gregoriano do Porto foi dar um concerto à paróquia de S. João Bosco, em Mirandela. O pároco, depois de uma palavra de saudação, mostrou os diversos espaços e as múltiplas valências do Centro Social S. João Bosco que acolhe cerca de três dezenas de jovens, de famílias desestruturadas e enviados pelas Comissões de Protecção de Menores e pelos serviços da Segurança Social. Em todos os locais, sentia-se o carisma salesiano que vive no entusiasmo do P. Manuel Mendes. Comovia ouvi-lo falar dos rapazes e ver como os seus olhos brilhavam quando repetia que o mais velho já frequenta a universidade. E era recíproco o carinho que a todos dedicava.




Ao ver esta magnífica obra social, questionei-me por que razão há políticos, de olhar tão enviesado, que querem reduzir a fé ao foro íntimo de cada um e remeter a Igreja para o interior dos templos! Ah!... Se a Igreja suspendesse a sua actividade sócio-caritativa, ainda que fosse só durante uma semana!...Mas não. Para ela, as pessoas estão primeiro…




O concerto, que tinha como tema geral “ O Percurso dos tempos”, iniciou-se às 21.00 horas, com o Coro, em cortejo, a cantar o Veni Creator” e cumpriu o programa pré-estabelecido:
1.Advento / Natal
Rorate - O Sapienta - Puer Natus - Hodie Christus
Poema: Se me apartar de ti da Marquesa de Alorna
2. Quaresma
Attende, Domine - Parce Domine -Christus Factus Est
3. Páscoa / Pentecostes
Et Valde Mane - Victimae Paschali - Factus Est - Spiritus Domini
Poema: Imortalidade de Campos Monteiro
4. Tempo Comum
Ave verum - Cibavit eos - Sanctus da “Cum Jubilo
Poema: Nª Senhora de José Régio
5. Nossa Senhora
Nativitas Tua - Stabat Mater -Alma Redemptoris -Ave Maria




E porque o canto gregoriano é arte e é oração, terminou com toda a assembleia, de pé, a cantar/rezar a “Salve Regina”.



Quando o Coro se preparava para iniciar os motetes de Nª Senhora, o relógio da igreja demorou-se a tocar as 10.00 horas. O P. Mendes aproveitou essa interrupção para aconselhar a assistência a ouvir os cânticos finais de olhos fechados porque, assim, a espiritualidade do gregoriano penetra mais profundamente na nossa intimidade e faz-nos sentir mais próximos de Deus.




Durante o concerto, o silêncio foi total. Nem tosse, nem sussurros, nem telemóveis… Foi consolador até porque, naquela assembleia de mais de duzentas pessoas, havia bastantes jovens e não poucas crianças. Estão todos de parabéns.




No final, três crianças foram à sacristia para, muito empertigadas no alto dos seus dez anitos, dizer aos elementos do Coro: Cantaram muito bem. Eu gostei. Foi bonito! Surpreendidos e encantados, todos sorriram e agradeceram. Foi uma doçura….

Bloco 12 – Entrada 160 – Casa 11

José Augusto Mourão fazia da subtileza um adorno da competência e uma espécie de amortecimento da profundidade. Homem de enormes recursos, foi padre, professor, poeta, ensaísta. Tem um lugar na história da cultura contemporânea”. (António Teixeira, JN, 12/05/11)

Foi músico, poeta, professor, tradutor, investigador. E, além de tudo, frade dominicano. Homem despojado, olhava para a estética como central na experiência cristã contemporânea. Vivia entre dois mundos, este homem discreto, tímido: Estou entre o mundo de Deus e o mundo dos homens – que não há outro. (António Marujo, Público, 10/5/11)

Que têm estes textos a ver com o título desta crónica?

É que, numa fase determinante da vida, o jovem Mourão viveu nesta casa do bairro de S. Roque da Lameira, no Porto.

Foi na Páscoa de 1970. O Dr. Albino, de boa e saudosa memória, Reitor do Seminário Maior do Porto, entrou, muito preocupado, na Obra Diocesana de Promoção Social. E contou que o Bispo de Vila Real, por causa de uma carta que lhe escreveram a propósito da “procissão do enterro” de Sexta-Feira Santa na cidade de Vila Real, acabava de expulsar dois excelentes seminaristas, o Domingos, do último, e o Mourão, do penúltimo ano de Teologia. Só faltavam três meses para terminar o ano lectivo. Não podiam continuar a viver no seminário, mas ele podia autorizá-los a frequentar as aulas como alunos externos. A dificuldade era que, sendo de Vila Real, não tinham, no Porto, onde morar. Só precisavam de uma casa para dormir. E de uma família de confiança onde, à noite, pudessem ver um pouco de televisão. Pedia um total sigilo porque não queria conflitos com o bispo de Vila Real e, muito menos, queria causar problemas ao seu bispo, D. António Ferreira Gomes, recém-chegado do exílio.

Como a Obra, nesse momento, tinha disponível aquela casa, nela foram viver. Quando muita comunicação social se compraz em denegrir os bairros sociais, é bom saber que houve uma casa camarária no caminho do Frei Mourão. E ele nunca mais o esqueceu. Ainda no dia 24 de Setembro último, quarenta anos passados, quando veio ao Porto fazer a conferência Um entre os outros (À escuta do Outro), o Frei José Augusto Mourão e o Domingos foram visitar a família onde costumavam ver televisão.
É bem verdade que a gratidão embeleza a alma e espelha a sua nobreza.

Como são insondáveis os caminhos de Deus!...

Um dia, quando se fizer a história do catolicismo português que nos é agora contemporânea, há-de ver-se, em toda a clareza, que um dos seus actores magistrais foi, afinal, um frade e poeta, quase clandestino. Chamava-se José Augusto Mourão. (P. Tolentino Mendonça, VP, 11/05/11).

Silêncios que falam





O Verão está à porta. As esplanadas das praias começam a encher-se. Há dias, estive numa. Na mesa ao lado, um jovem casal de namorados. Conversavam um com outro? - Não. – Contemplavam a beleza do mar que quase lhes beijava os pés? – Não. Partilhavam a emoção silenciosa de se olharem? – Não. O que faziam, então? - Enquanto a rapariga mantinha uma longa conversa ao telemóvel, o rapaz escrevia e enviava mensagens. Ignoravam-se pura e simplesmente. Cada um estava no seu mundo.





Nem partilha de palavras nem comunhão de silêncios.






Sem querer generalizar, julgo poder afirmar que o mesmo acontece nas famílias. Lembro um amigo que, no último Natal, na consoada com os filhos e os netos, ao ver como todos se dispersavam por emails de computadores e sms de telemóveis, desabafou: que viemos aqui fazer? Isto não é uma família, é um arquipélago onde cada um vive isolado do outro.










O que mais importa não são tanto as horas que passamos juntos, mas o modo como interagimos. Urge encontrar espaços, tempos e temas comuns. Se não, a casa deixa de ser a morada da família e transforma-se numa simples pensão onde se vai para comer e dormir.






Como escreveu Jorge Cunha, a incarnação é palavra e é silêncio. A palavra e o silêncio implicam-se mutuamente: o silêncio antecede e sucede à palavra, o silêncio transporta a palavra. Em Deus, o silêncio é palavra.





Para a comunicação ser completa precisa de palavras e de pausas silenciosas. Muitas vezes, evita-se o silêncio porque ele pode tornar-se perigoso ao possibilitar perguntas indesejáveis e embaraçosas. Tive um professor que, nas provas orais, não interrompia o aluno enquanto ele falasse. Sabendo isso, íamos preparados para não nos calarmos durante os quinze minutos da prova, e, assim, evitarmos perguntas sobre matérias que não dominávamos. Também quando alguém teme que lhe invadam a privacidade absorve o tempo a falar de banalidades.










As palavras tanto podem servir para revelar como para encobrir o que nos vai na alma. Meu pai, para elogiar alguém, costumava dizer: ele quando fala conversa. Hoje, muito se fala e tão pouco se conversa. Grassa uma preocupante poluição de palavras. E os telemóveis dão grande contributo a esta vacuidade comunicacional.






Se hoje se banalizou a palavra também se perdeu o valor do silêncio.
No “Rio das Flores” de Miguel Sousa Tavares, diz-se que o melhor que uma amizade tem é a partilha do silêncio e uma lenda judaica afirma que amigo é aquele que, no seu silêncio, escuta o silêncio do outro.










Como é importante ouvir e partilhar o silêncio do e com o outro! Há momentos em que as palavras estão a mais. Quão fecundo, então, pode ser um simples olhar!





Os silêncios também conversam…