O Tanoeiro da Ribeira

segunda-feira, agosto 22, 2011

O Bispo do Porto - D. António Barroso


D. António Barroso foi nomeado bispo do Porto, em 21 de Fevereiro de 1899, com o regozijo do Núncio Apostólico que o considerava um “homem apostólico, eclesiástico destemido e cheio de zelo e bispo que apoia e ajuda qualquer instituição. É inteligente, de boas maneiras e fala bem em público”.

O novo bispo foi recebido triunfalmente na estação de Campanhã, no dia de S. João. Seguido por 130 carruagens, dirigiu-se para a igreja de Santo Ildefonso onde se formou o cortejo que o levou até à Sé Catedral com um “acolhimento tão vibrante de entusiasmo e tão caloroso” como nunca se viu.

Na carta pastoral de apresentação, afirma”Ah! Quanto seria para desejar que os católicos tivessem tanta firmeza, tanto desassombro e sinceridade em professar publicamente a sua fé, quanta vanglória e audácia têm os inimigos em a atacar e escarnecer”.

As portas do Paço estavam sempre abertas a todos os que ali eram recebidos sempre com efusões de bondade”.
Esta abertura leva-o a iniciar logo as visitas pastorais “com espírito de caridade e mansidão” para ver “se tudo está bem disposto e corre prosperamente”.

Considera a ignorância religiosa um “encarniçado inimigo da Igreja e de Deus, inimigo que é preciso vencer e aniquilar”. Para isso, ordena que os sermões não sejam “ocos de doutrina”. Recomenda aos pregadores “que não se devem pregar a si próprios, mas a Jesus Cristo crucificado”. Exorta os padres a cuidar da catequese das crianças e dos adultos “em linguagem fácil e ao alcance deles”; aos pais pede que sejam corresponsáveis na educação cristã dos seus filhos. Incentiva as escolas católicas.

O clero merece-lhe um cuidado especial. Cria a Obra de Assistência aos Clérigos Pobres porque “há realmente padres pobres, muito pobres”. Cuida da formação contínua do clero, com o restabelecimento das “Conferências theológico-morais e litúrgicas” e obriga os exercícios espirituais. Preocupa-se com os seminários: introduz alterações programáticas, faz obras no seminário dos Carvalhos e cria a biblioteca no Seminário Maior. Preside à Comissão Promotora do Colégio Português em Roma.

Os problemas assistenciais foram uma preocupação constante. Apoiou a “Assistência Nacional de Tuberculose”. Acarinhou as Oficinas de S. José, o Asilo de Vilar, o Recolhimento das Meninas Desamparadas, o Recolhimento do Ferro, as Irmãzinhas dos Pobres. Em 1903, funda a Associação de Protecção à Infância. Também noutros quadrantes sociais se fez ouvir a sua voz. Considera que “a agricultura é a vida das outras indústrias e resistência dos povos”. Impulsionou as Escolas agrícolas. Denuncia os lucros excessivos na venda dos produtos e condena a “exploração monstruosa, sem entranhas e sem pudor”. Não esquece o problema salarial e recomenda aos patrões a prática da justiça. Fez renascer o Círculo Católico Operário. Impulsionou a fundação da Associação dos Médicos Católicos.

Como são actuais as suas palavras, os seus apelos, as suas preocupações... e já lá vão cem anos!...

Passos de um calvário


Foram de sofrimento os caminhos que D. António Barroso percorreu por terras de Angola, Congo, Moçambique e Índia, mas o seu verdadeiro calvário começou era já Bispo do Porto.

1.º Passo - “Caso Calmon”- A filha do Cônsul do Brasil no Porto queria entrar para o convento mas era impedida pelo pai. A sua tentativa de fuga, em 1901- tinha 32 anos -, despoletou uma onda de anticlericalismo na rua e no Governo. Os bispos reagiram e D. António, o mais novo, foi escolhido para apresentar ao Rei uma mensagem a favor das ordens religiosas. Como rosto do episcopado, foi apupado na Universidade de Coimbra e os jacobinos mais assanhados não mais o deixaram em paz.

2.º - Exílio da Diocese – Com o advento da República em 1910, Afonso Costa começou a publicar legislação contra a Igreja. D. António escreveu-lhe, em 12 de Outubro, lembrando que as leis deveriam aguardar pela Assembleia Constituinte.
As iniciativas anti-religiosas continuaram e os bispos publicaram, em 24 de Dezembro, uma Pastoral Colectiva, revista por D. António Barroso. Afonso Costa deu ordem aos bispos para proibirem a sua leitura nas igrejas. D. António resistiu e só recomendou a suspensão na cidade do Porto. Enfurecido, Afonso Costa ordenou-lhe que se apresentasse em Lisboa a 7 de Março de 1911. No Rossio, foi insultado pelos carbonários que atacaram o seu carro à pedrada e à cacetada.
No Ministério, já o esperava a sentença do desterro que impunha a destituição das suas funções no Porto, a proibição de voltar ao território diocesano e, pelos serviços prestados nas Colónias, atribuía-lhe uma pensão que D. António nunca aceitou. Foi levado para o Colégio das Missões em Cernache do Bonjardim que teve de abandonar devido a uma sublevação. Em 10 de Junho, passou a viver em Remelhe.

3.º – Novo julgamento – Em 12 de Junho de 1913, é acusado em tribunal por se ter deslocado a Custóias, para ser padrinho em representação do Papa Pio X. Saiu absolvido.

4.ºNovo exílio - Regressado à Diocese em 1914, volta a ser condenado em 7 de Agosto de 1917. Nem a intercessão do Presidente Bernardino Machado impediu o seu desterro para Coimbra. Foi acusado, falsamente, de ter atentado contra a dissolução das ordens religiosas. Só a chegada de Sidónio Pais permitiu o seu regresso, em 20 de Dezembro.

5.º Passo - Morte – Morreu com apenas 63 anos, em 31 de Agosto do ano seguinte. “Todos estes abalos debilitaram o porte atlético e minaram a resistência física”.

O processo da sua beatificação foi introduzido em 1992. Procede-se, agora, ao reconhecimento de um milagre que lhe é atribuído.

Para saber mais sobre este venerável Homem da Igreja, aconselho a leitura do “Réu da República”, que citei neste texto.
Bem-aventurados sereis quando vos perseguirem por causa de mim” Mt 5,11.