O Tanoeiro da Ribeira

sábado, março 03, 2007

UM CD E UM DVD EM HONRA DA VIRGEM E DA “CIDADE DA VIRGEM”

Como prometi num post que escrevi em Bolonha, falei aos meus colegas do Coro Gregoriano do Porto para gravarmos um CD temático dedicado a Nossa Senhora em homenagem à “Cidade da Virgem”. A sugestão foi acolhida com entusiasmo por todos.
O CD será preenchido com dois motetos das festas marianas: “Imaculada Conceição”, “ Natividade de Nossa senhora”, “Santa Maria, Mãe de Deus”, “Apresentação de Nossa Senhora”, “Anunciação”, Visitação”, “Maternidade”, Purificação”, Sete Dores”, Assunção”, Santíssimo Rosário” e, no final, terá alguns “motetos populares, tais como o “Salve Regina”.
Os ensaios estão a correr num bom ritmo e a gravação já está marcada para a primeira semana de Julho.
Para além do CD, sugeri ao grupo fazê-lo acompanhar com um DVD. Pensei: a Cidade do Porto possui altares lindíssimos dedicados a Nossa Senhora com belíssimas imagens, algumas com grande valor histórico e artístico. Por que não enriquecer o CD com um DVD desses altares? E se o CD era uma homenagem à Virgem, que nos habituámos a ter por “Mãe” desde a infância por influência das nossas mães (que também são homenageadas), o DVD seria em honra desta cidade que nos acolheu e nos congregou, e que se orgulha do seu título de “Cidade da Virgem”. Falei ao Zé Felismino, o nosso companheiro do Coro, antigo editor de programas da RTP, especialista em imagem. Ficou encantado. E o Grupo apadrinhou a ideia. Na próxima 2ª feira, vai reunir-se um pequeno grupo para seleccionar os altares/imagens a incluir no DVD. Para além do Freitas Soares, maestro/ensaiador, e os elementos da Direcção ( Rocha Marques, Branco e eu), irão estar presentes o Chico (Ribeiro da Silva), e o Justiniano. Se o Justiniano é um especialista em temas litúrgicos e linguísticos, o Ribeiro da Silva, sobre quem já escrevi o post “ Um homem de olhar tranquilo”, é um historiador de renome e um grande investigador da História do Porto. Depois de ouvir os colegas do Grupo, convidei-o para integrar o nosso projecto ao que ele anuiu com grande satisfação. Irá elaborar o texto para o DVD.
Estou muito entusiasmado, e os meus colegas do Coro também, com este projecto que nos diz muito e fará memória de muita da nossa memória, e da memória do seminário, e da memória da cidade. Será um monumento à memória. Só espero que seja digno dessa memória tão rica. Que a Virgem seja louvada! Que a Cidade seja honrada! Que a nossa memória seja dignificada!
Irei propor que o título do CD seja “ Ecce Mater”. Não sei se será aceite. Mas gostava que fosse. Para além do paralelismo com o “Ecce Homo”, seria como que uma apresentação aos outros não do “ Ecce mater tua”, mas sim do “ Eis a Mãe”. Parece-me mais universalizante. Para o DVD, proporei o título de “Civitas Virginis”.
Na minha busca de material sobre este tema, encontrei três documentos que, de seguida, vou apresentar: Decreto Pontifício da Proclamação da Padroeira Portucalense; Provisão de D. Florentino a propósito desse Decreto e a reacção da Câmara Municipal do Porto à comunicação do D. Florentino.

Decreto Pontifício da Proclamação da Padroeira Portucalense

. Sagrada Congregação dos Ritos . Prot. N.P. 28/962 de 3 de Fevereiro de 1964

Porto

Na cidade do Porto, que já desde a Idade Média, inscreveu piedosamente no seu brasão de armas as palavras “Civitas Virginis”, a Bem-aventurada Virgem Maria Imaculada é honrada com especial devoção. A documentar esta devoção ergue-se o magnífico templo chamado da “ Senhora da Conceição” e recentemente construído em honra da Augusta Virgem, ornada com esse singular privilégio. Em muitas outras igrejas e capelas existem imagens em honra da mesma Virgem Imaculada, que os fiéis acodem a venerar com assiduidade. Em vista disso, para mais e mais fomentar a piedade, o Ex.mo e Rev.mo Senhor D. Florentino de Andrade e Silva, Bispo titular de Heliossebaste, Administrador Apostólico da Diocese do Porto, humildemente suplicou ao Santíssimo Senhor nosso o Papa Paulo VI que se dignasse constituir e declarar a Beatíssima Virgem Maria Imaculada celeste Padroeira principal da cidade do Porto, junto de Deus, em lugar de São Pantaleão, que hoje é quase desconhecido na cidade.
A Sagrada Congregação dos Ritos, em virtude das faculdades que lhe foram concedidas pelo mesmo Santíssimo Senhor nosso, atentas as peculiares circunstâncias expostas, constituiu e declarou a Beatíssima Virgem Imaculada Padroeira principal da Cidade do Porto, com todos os competentes direitos e privilégios litúrgicos. Não obstante o que quer que seja em contrário.
Dia 3 de Fevereiro de 1964
Arc. M. Card. Larraona, S.R.C. Praef.
Henricus Dante, Archiep. Carpas, S.R.C. Secretis
(In “AVoz do Pastor”, 25 – 7- 1964)


2. Senhora da Conceição, Padroeira da Cidade do Porto

DOM FLORENTINO DE ANDRADE E SILVA, administrador Apostólico.

Às Ex.mas Autoridades Portuenses, ao Il.mo Cabido Catedral, ao Rev.º Clero e demais fiéis desta Cidade da Virgem, Saúde, paz e bênção em Jesus Cristo Nosso Senhor e Salvador.
A comunicação que vamos fazer-vos, será decerto a todos muito grata, pois o seu objectivo está muito no coração da própria Cidade, nas raízes e trama da sua história, e comove no mais íntimo a alma da sua gente que, como portuense, foi sempre cristã e exemplarmente devota de Nossa Senhora.
Na verdade, é sabido que o Porto, como Portugal a quem deu nome, nasceu já cristão; e foi à sombra da Catedral, dedicada a Nossa Senhora da Assunção, que o velho burgo se aglutinou e cresceu. Desde tempos imemoriais, uma acendrada devoção a Nossa Senhora sempre caracterizou a gente do Porto e vem sendo atestada, ao longo dos séculos, em templos e esculturas dedicadas à Virgem sob formosas invocações. Nossa Senhora de Vandoma, da Silva, da Batalha, do Presépio, de Campanhã, Nossa Senhora do Carmo, da Misericórdia, da Caridade, da Lapa, da Ajuda, da Saúde, de Fátima, da Conceição, são nomes de amor e prece, outrora como hoje, sempre vivos nos lábios do povo portucalense: Bem significativo é que, já na Idade Média, o Porto se ufanava de se denominar Cidade da Virgem, título de honra que inscreveu no seu brasão de armas, ornado também com a imagem da Senhora. E esta imagem ainda hoje se conserva no brasão.
Factos de projecção nacional ou universal, como a proclamação da Padroeira de Portugal em meados do século XVII, a definição dogmática da Imaculada e as aparições de Lourdes dois séculos depois, com as respectivas comemorações jubilares subsequentes, foram incentivando, na alma do nosso povo, um especial afecto e culto pela Senhora da Conceição.
E a piedade mariana do Porto continua hoje a enfocar-se no mistério dessa prerrogativa excelsa da Virgem, que a invocação de Fátima não fez esquecer. Imagens da Imaculada se vêem um pouco por toda a parte e dos três templos erguidos em nossos dias, nesta Cidade, em honra de Nossa Senhora – o maior dos quais obra de um exemplar Sacerdote diocesano já falecido – dois são dedicados à Imaculada Conceição. E no Monte da Virgem, tão intimamente ligado à Cidade do Porto, esperamos que em breve surja também um santuário condigno, segundo o projecto por Nós aprovado. Não podemos esquecer que por ocasião da festa da Imaculada, em 8 de Dezembro, as igrejas desta Cidade registam um movimento extraordinariamente intenso, com elevado número de comunhões.
Por todas estas razões do passado e do presente, era tempo de restituir oficialmente à Virgem o padroado da Sua Cidade.
E assim, em requerimento datado de 7 de Outubro de 1961 e baseado nessas razões, e depois de ouvir o Il.mo Cabido, solicitámos do Santo Padre Se dignasse declarar a Senhora da Conceição Padroeira da Cidade do Porto, em substituição de São Pantaleão que quase não tem culto entre nós e cujas relíquias, oferecidas por uns vagos católicos Arménios que, aportando ao Douro, desejavam aqui ser bem recebidos, não têm garantias seguras de autenticidade.
A Sagrada Congregação dos Ritos houve por bem aceitar a petição e os motivos e, em virtude dos poderes que recebeu de Sua Santidade, pelo Prot. N.P. 28/962, de 3 de Fevereiro de 1964, declarou a Virgem Santíssima, sob a invocação da Sua Imaculada Conceição, Padroeira da Cidade do Porto.
Por novos títulos, pois, continua a Senhora a presidir e a velar sobre nós: Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal, da nossa Cidade e seu Seminário Maior; Senhora da Assunção, Titular da Sé Catedral e, desde agora de modo expresso conforme pedimos para o nosso calendário litúrgico particular já aprovado, Padroeira da Diocese do Porto.
É com filial devoção e reconhecimento, com esperança e íntimo júbilo, que entregamos e confiamos à Mãe do Céu toda esta Diocese com as suas paróquias e suas famílias, com a sua juventude, as suas crianças e os seus pobres, com os seus Seminários e demais casas de educação, com o seu Clero e o seu laicado, com todas as suas obras de apostolado e caridade e todas as iniciativas de bem; e, em especial, esta Cidade do Porto com as suas instituições públicas, o seu comércio, a sua indústria, o seu trabalho. Tudo guarde a Senhora, tudo proteja e preserve do mal, tudo encaminhe, abençoe e faça prosperar.
Pois que devemos gratidão a Deus pela honra e graça que nos foram concedidas e a Cidade da Virgem deve honrar de modo condigno a sua Padroeira e procurar merecer d’Ela a celeste protecção de que precisa,
HAVEMOS POR BEM declarar e determinar quanto segue:
Celebraremos na Igreja de Nossa senhora da Conceição um solene “Magnificat” de acção de graças, às 19 horas do próximo dia 15 de Agosto, festa da Assunção da Virgem. Esta breve mas solene cerimónia, para qual convidamos as Ex.mas Autoridades, o Rev.º Clero mormente paroquial e os Fiéis, será seguida de Missa rezada por Nós com homilia, pelas 19 ¼ h.
Presidiremos este ano pessoalmente, querendo Deus, à peregrinação do Monte da Virgem que se efectuará na manhã de 9 de Agosto, domingo, e esperamos que todas as paróquias enviem as suas representações condignas.
Na Sé catedral, celebraremos o Pontifical da Imaculada Conceição, em 8 de Dezembro de cada ano, com a maior solenidade possível. Este será o Acto maior e oficial da festa da Padroeira, para a qual pedimos se considerem desde já e sempre convidadas as Ex.mas Autoridades citadinas e todo o povo cristão da Cidade.
Vamos comunicar em primeira mão à Ex.ma Câmara Municipal a nomeação pontifícia da Padroeira, bem como o teor deste documento, antes da sua publicação.
Exortamos vivamente no Senhor o Rev.º Clero e todos os Fiéis a redobrarem de devoção na celebração da festa da Padroeira, mormente pela purificação das suas almas e participação da Palavra e da Eucaristia.
Outra iniciativas poderão ser bem-vindas e louváveis e às que o merecerem, daremos o nosso caloroso aplauso. Em especial, seria certamente esta ocasião de a Cidade da Virgem reparar o que se poderá considerar falta de omissão, lançando eficazmente a ideia de se erguer, em uma das suas praças ou lugares mais dignos e centrais, uma estátua-monumento à sua Padroeira Imaculada.
Esta nossa Provisão será lida e explicada ao povo de Deus em todas as igrejas, capelas e oratórios semi-públicos da Cidade, no domingo seguinte à sua publicação.

Dada no Porto e Paço Episcopal da Torre da Marca, aos 13 de Julho de 1964.

Florentino, Adm. Apost.
( in “A Voz do Pastor” – 18-7-1964)


3. A Câmara Municipal do Porto

“ A Câmara Municipal do Porto, na sua última reunião, congratulou-se com a decisão da Santa Sé em declarar Padroeira da cidade do Porto Nossa Senhora da Conceição e agradeceu a gentileza do Senhor Administrador Apostólico em comunicar o feliz acontecimento “em primeira mão” às Autoridades citadinas.
Usaram da palavra para enaltecer o significado da determinação pontifícia e realçar a devoção dos portuenses de todas as épocas à Sua celeste Padroeira, os vereadores sr. Prof. Esteves Pinto e sr.ª D. Maria José Novais, e o Presidente sr. Dr. Nuno Pinheiro Torres.
Foi sublinhada a necessidade de se erguer, na Cidade, uma estátua-monumento à Virgem, conforme sugestão do Venerando Prelado.
Após a sessão, o Presidente e os vereadores deslocaram-se ao paço Episcopal, onde apresentaram cumprimentos ao Senhor D. Florentino de Andrade e Silva, ao mesmo tempo que lhe significaram o seu reconhecimento por ter comunicado à Câmara a decisão da Santa Sé.”

( in “A Voz do Pastor”, 25 -7-1964; “A Voz do Pastor”, 12-11-1964)