O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, março 09, 2010

Os mosteiros - centros de espiritualidade e cultura.

Neste ano em que se celebra o 40º aniversário da Voz Portucalense, é com alegria e renovada esperança que a Fundação Voz Portucalense alarga a sua cooperação com as irmãs carmelitas do Mosteiro de Bande.

- E quem são estas irmãs? - Perguntará o leitor.
No “site” (www.mosteirobande.home.sapo.pt), são as próprias irmãs que nos respondem: “ Somos uma Comunidade monástica de monjas carmelitas descalças que (…) seguimos hoje Jesus Cristo, fazendo do Evangelho a nossa Profissão a tempo inteiro com uma particular acentuação dos valores da oração e da amizade.”

No silêncio da sua clausura, as monjas procuram realizar a comunhão com Deus e com o próximo. Estas duas dimensões da comunidade passam pela oração e pelo trabalho.
* A Oração - A regra da Ordem, dada por Santo Alberto, patriarca de Jerusalém entre 1206 e 1214, estabelece: ” Permaneça cada um na sua cela ou nas imediações dela, meditando dia e noite na Lei do Senhor e velando em oração”.
Esse Serviço Divino distribui-se por tempos de oração em Assembleia e tempos de oração na solidão. “ O Ofício Divino, juntamente com a Eucaristia marca o ritmo da nossa jornada Monástica

* Trabalho – A regra afirma: Deveis fazer algum trabalho para que o diabo vos encontre constantemente ocupados e assim não encontre entrada nas vossas vidas. Nisto tendes o ensinamento e exemplo do apóstolo S. Paulo (…) Vivemos entre vós - diz ele -trabalhando dia e noite sem descanso, para não sermos pesados a nenhum de vós”(…) O Apóstolo recomenda o silêncio, quando manda que se trabalhe em silêncio; do mesmo modo afirma o profeta: o silêncio fomenta a justiça, e ainda: no silêncio e na esperança está a vossa força.”


Cumprindo este preceito, as irmãs de Bande, pelo trabalho das suas mãos, à maneira de S. Paulo, procuram assegurar a sua subsistência:
• confeccionam hóstias
• fazem ícones, trabalhos de escrita a gótico e iluminura, pinturas a óleo, restauro de paramentaria antiga, artesanato.
Tudo é feito por elas. Todos os seus produtos são inteiramente artesanais e realizados em oração.
Para além deste serviço à arte e à cultura com que procuram assegurar a sua sobrevivência, “o trabalho realizado em silêncio possui uma dimensão interior, escondida, especificamente cristã”, iminentemente espiritual:
- é uma forma de participação na obra criadora de Deus, e nos sofrimentos de Cristo Salvador;
- é ocasião de fazer coisas comuns com o Amor extraordinário de Deus;
- fá-las solidárias com os pobres.

Em síntese: “O trabalho das monjas é a banalidade do quotidiano transfigurado em oração pela Graça do Espírito Santo.”

A Voz Portucalense ouviu o seu apelo: “Comprando produtos monásticos ajuda os mosteiros a sobreviver”.
A nossa livraria vai ser uma porta aberta, um elo de contacto entre as irmãs e os católicos do Porto.

Neste ano da “Missão 2010”, aconselhamos os nossos leitores a adquirirem os seus produtos não só pela sua alta qualidade artística mas também porque ajudam as irmãs a sobreviver. Se não formos nós a apoiá-las quem esperamos que o faça? É preciso que as irmãs, no silêncio do seu trabalho e da sua oração, se apercebam que a Igreja precisa delas, as estima e apoia. A Igreja realiza a Unidade na pluralidade dos seus carismas.

Em tempos de Paixão

Deixei de ir à igreja, perdi a fé. Porque é que Deus a deixou morrer? Ela era um anjo! Que mal fiz eu?”, desabafava, entre lágrimas, uma senhora cuja filha falecera, ainda muito jovem. Vivemos num “vale de lágrimas”, como rezamos na Salve-Rainha.
Uma doença grave surge quando menos se espera. A vida desmorona-se. E os amigos, na partilha silenciosa da dor mais do que nas palavras, são cireneus que atenuam o peso da cruz.
Nessas horas, o crente, como Cristo no Jardim das Oliveiras, reza: “Pai, afasta de mim este cálice.”
Quando o inevitável acontece, questiona Deus sobre o porquê, como se Ele fosse um nosso igual, ou mesmo um subordinado a quem se pode pedir/exigir satisfações: “Porquê, Senhor? Porquê a mim?”. Esquece que, como disse Jesus, os seus caminhos não são os nossos caminhos…

A morte de um filho é uma encruzilhada onde se entrechocam forças de aniquilamento e de sublimação, de revolta e de aceitação, de esperança e de lágrimas. Baloiça-se entre a noite dos sentidos e a luz da Fé. É humanamente compreensível o desabafo amargo daquela mãe. Quem não passou por essa situação não imagina o que será perder um filho na “flor da idade e dos sonhos”. Tudo o faz recordar, as coisas transformam-se em sacramentos de presença e ausência. “ É a Esperança que nos anima; mas é a saudade que faz doer!”, como, há bem pouco tempo, escreveu um bispo português.
Os pais confrontam-se com a mais dolorosa das impotências. Não são os autores da vida do seu filho. Como eles desejariam substituí-lo no leito de morte. - Por que não eu, Senhor? Mas não, não é possível. Este facto poderá suscitar o desespero mas também poderá ajudá-los a tomar consciência do seu papel na Criação, como instrumentos do Deus-Amor. Na pequenez de criaturas finitas, sabem que Deus os ama e partilha do seu sofrimento.
Como escreveu Torres Queiruga a propósito da tragédia do Haiti,
Deus podia não ter criado o mundo e sabe que, se o cria, terá que ser finito. Por consequência, a imperfeição, a carência, o conflito - o mal - o acompanharão como uma sombra terrível. A experiencia religiosa mais profunda, porém, intuiu sempre que, se Deus criou, é porque valia a pena; que Ele, como Anti-mal de amor infinito, acompanha e sustenta a nossa aventura humana, chamando-nos a colaborar com Ele no trabalho do amor e da justiça, dando sentido à vida e abrindo-nos à esperança.”(www.religiòndigital.com).

Se a Criação, no seu conjunto, é obra do amor de Deus, muito mais o será o Homem, criado como Sua imagem. Deus quer-nos felizes.
Os pais, mesmo de coração retalhado, dão graças a Deus que os associou à Sua Obra Criadora e pedem-Lhe forças para, à semelhança da Mãe no Calvário -“Stabat Mater”-, aguentarem de pé as horas mais duras da vida.
E, na busca de sentido, interrogam-se: - “Para quê? – Para completar o que falta à Paixão de Cristo, responde-lhes S. Paulo. A Paixão culmina na Ressurreição e não há Ressurreição sem Paixão.

E, assim, se, pela paternidade/maternidade, os pais colaboram com o Pai na Criação; pelo sofrimento, cooperam na obra redentora de Cristo. Esta é a Alegria Pascal que procuramos e nos conforta. “Bem-aventurados os que choram porque serão consolados” (Mt 5,4)