O Tanoeiro da Ribeira

sexta-feira, junho 26, 2015

D. António Barroso na memória dos Média (II)

(Continuação)
    2º – Romagens a Remelhe, Barcelos - “Mereceu especial atenção o primeiro centenário das primeiras ordenações na capela de São Tiago com uma romagem, em 2011, presidida por D. Manuel Clemente, de que se fez memória no ano seguinte na romagem presidida por D. Pio Alves com o descerramento da lápide comemorativa: No ano de 1911, D. António Barroso, exilado da sede episcopal, ordenou nesta capela de S. Tiago 23 sacerdotes da sua diocese do Porto. No dia 4 de Setembro de 2011, recordando os 100 anos do acontecimento, a Fundação Voz Portucalense, com a participação do Bispo D. Manuel Clemente, fez memória desse gesto profético, com um Te Deum e uma evocação neste local pelo Padre José Adílio de Macedo.”
Esta placa foi idealizada pela Voz Portucalense ao verificar que, na capela de S. Tiago, não havia qualquer alusão às ordenações sacerdotais que dela fizeram a “catedral do exílio” da Igreja do Porto. A iniciativa foi, desde a primeira hora, apadrinhada pelo então pároco, P. José Adílio, que assumiu todo o trabalho e despesa com a sua concretização. Foram de homenagem e gratidão as palavras D. Pio Alves na sua inauguração.
3º – Primeiro centenário do regresso de D. António ao Porto.- A crónica começa por citar a VP de 26 de novembro: “ A memória agradecida da Igreja do Porto não pode deixar terminar o ano sem lembrar o primeiro centenário do regresso, em 3 de abril de 1914, de D. António Barroso à sua diocese. No “Dia da Voz Portucalense”, em 21 de dezembro, iremos rezar pela sua beatificação e recordaremos o Te Deum, de há cem anos, que congregou milhares de pessoas na Sé Catedral, muitas das quais choravam de alegria ao ouvir de novo a voz do pastor a quem amavam”. Diz, ainda, que o senhor Bispo irá presidir com “o báculo que, há cem anos, os párocos do Porto ofereceram ao seu bispo amado”. E termina com a homilia de D. António Francisco: “Raras figuras da história religiosa dos séculos XIX e XX reuniram, como D. António Barroso, a admiração diante do seu dinamismo apostólico e da coragem da sua fé no contexto dos tempos frágeis do fim da Monarquia e dos desafios imensos colocados ao nosso País nos tempos conturbados do início da República. (...) Em 21 de fevereiro de 1899, o mesmo dia em que, por coincidência, fui, 115 anos depois, nomeado Bispo do Porto, D. António Barroso foi transferido para a sede do Porto. (…) Demos graças a Deus por este nosso Bispo, que serviu a Igreja do Porto e a Igreja Universal, em tantas e delicadas frentes de missão. Rezemos para que de Deus possamos merecer a sua beatificação e canonização. Tudo procurarei fazer nesse sentido!”
A que se deve este perpetuar da memória? A resposta deu-a D. Manuel Clemente em Remelhe, em 2011: “Aqui há santidade”.
(24/6/2015)





quarta-feira, junho 17, 2015

D. António Barroso na Memória dos Média



Cem anos são passados e, no entanto, a imprensa não o esquece. Ainda há pouco me chegaram três textos. O primeiro li-o, no JN do dia de Páscoa, na entrevista com D. António Francisco. O jornalista afirma: “D. António Barroso, D. António Ferreira Gomes, D. Manuel Clemente... Não faltam bispos carismáticos à diocese do Porto.”. E D. António acrescenta: “D. António Barroso que foi bispo missionário em Angola e Moçambique, veio para a nossa diocese e deixou a marca de coragem nos tempos difíceis da República e do exílio, mas também outro lado, não tão conhecido, mas muito importante, que é o da bondade”. O segundo, na Boa Nova, de abril, com o título “D. António Barroso a Caminho dos Altares”, afirma que “a santidade de D. António Barroso foi construída na sua vida de seminarista, sacerdote missionário e bispo”. O terceiro, no Boletim de D. António Barroso, diz: “A Voz Portucalense tem apoiado sempre e de variadas formas a causa de beatificação de D. António Barroso. Com as amêndoas desta Páscoa recebemos dois textos de colaborador(es) daquele semanário. Amêndoas com licor, doces e boas. D. António agradece.”
Resolvi fazer-me eco da primeira dessas crónicas. Começa por afirmar o apoio que a VP tem recebido dos bispos do Porto na sua tarefa de manter viva a memória de D. António Barroso: “A Voz Portucalense, na esteira de D. António Ferreira Gomes, seu fundador, sempre deu relevo à memória do “bispo santo de barbas brancas”. Mas, nos últimos anos, inicialmente com o incentivo de D. Manuel Clemente e, agora, de D. António Francisco, tem dedicado particular atenção à causa da sua beatificação”. A este propósito, transcreve parte da homilia de D. António Francisco no último “Dia da Voz Portucalense”: Voz Portucalense tem procurado esta proximidade com o senhor D. António Barroso, acompanhando também este caminho que vamos fazendo no sentido de manter vivo o interesse e intensificada a oração em prol da sua beatificação, cujo processo foi iniciado em 1992.” De seguida, o texto realça três momentos dessa proximidade:
1º - Conferências sobre D. António Barroso promovidas no dia de S. Francisco de Sales: D. António Barroso e a Primeira República, por D. Carlos Azevedo (2010); A Santidade da Igreja: três processos de beatificação que correm na Diocese:Padre Américo, D. Sílvia Cardoso e D. António Barroso por Monsenhor Ângelo Alves, Vigário Judicial (2012); A ação missionária de D. António Barroso, por Dr. Amadeu Araújo, Vice – postulador da Causa de Canonização (2012); De S. Francisco de Sales a D. António Barroso, por P. José Adílio de Macedo, Pároco de Remelhe (2014) (continua)

(17/6/2015)





quinta-feira, junho 11, 2015

O BRIO DE SER PORTUGUÊS


Foi na 5.ª Feira Santa. Embalado, ainda, pelo misticismo de Meteora que respirara nos mosteiros de Varlaam e de Santo Estêvão, fui, ao chegar a Atenas, surpreendido pela notícia. A EuroNews abria o seu noticiário da noite:“Manuel de Oliveira morreu”. Sem mais nem menos, a notícia corria mundo e encontrava eco nas grandes cadeias de televisão da “Aldeia Global”. Manuel de Oliveira era tratado como personagem universal. Só ao iniciar a longa reportagem sobre a sua vida e obra é que acrescentou: “O português Manuel de Oliveira morreu”. Seguiram-se longos minutos com fotografias, reportagens, excertos de filmes, entrega de prémios, entrevistas, comentários... E, mais uma vez, o Porto e o Douro foram exaltados... Logo aí senti saudade da sua figura acolhedora a passear, de chapéu e bengala, nas ruas da “Baixa” mas soube-me bem vê-lo enaltecido como figura mundial. Esqueci que estava num hotel de Atenas. Sentia-me em casa. E o gosto de ser português saiu redobrado quando vi o relevo que lhe era dado na imprensa internacional. Nos escaparates da “Placa”, no sopé do Areópago onde S. Paulo pregou aos atenienses (Atos dos Apóstolos, 17,16), lá estava o El País, com fotografia e notícia de primeira página. Apetecia-me dizer: “Eu sou português! Ele é da minha cidade!” Mas contive-me...

Na semana seguinte, ao ver cheia a Sé Catedral, emocionei-me. Fez bem a família e a Câmara Municipal ao querer que a “Missa de 7.º Dia” fosse celebrada na Casa- Mãe da Diocese. A Universidade do Porto fez-se representar pelo vice-reitor Pedro Teixeira. Na homilia D. António Francisco disse: Manuel de Oliveira era um homem de brilhante saber que se maravilhava diante da sensibilidade dos mais humildes e dos gestos mais simples! (…) Assumia o trabalho como arte caldeada na arte da vida. Antes de ser mestre internacionalmente prestigiado na arte do cinema foi mestre exemplar na arte da vida que nos legou, como primeira e sublime herança.
Deixo aqui uma homenagem ao Mestre na arte da vida e à Cidade dos Afetos que o amou porque se sentiu amada por ele. E também a Fernanda Matos, a Terezinha do Aniki-Bóbó, que nos honra como nossa assinante. E faço-o, transcrevendo um excerto da entrevista que, há anos, me concedeu: “- E do Manuel de Oliveira, que recordações tem? É capaz de nos falar dele? - Do tempo de criança, recordo a sua paciência, ternura, gentileza que sempre demonstrou para com todas as crianças. Hoje, como mulher, rendo-lhe as mais humildes homenagens e sinto-me orgulhosa do grande cineasta e Senhor que continuou e desejo continue ainda por alguns anos mais.” (VP, 16/1/2008)
Sem chauvinismos mas em tempos de crise identitária, são pessoas como Manuel de Oliveira que acalentam a honra de ser português...
(10/6/2015)


quarta-feira, junho 03, 2015

Foi na década de sessenta...


Ao passar em Leiria, (ainda não havia autoestradas), dei-lhe boleia. Apresentou-se como um cigano que vinha da “peregrinação dos ciganos”em Fátima e queria iria para Viana do Castelo. Combinámos que o deixaria na estação de Campanhã. Falámos longamente sobre o seu povo. Como nessa data, a Câmara do Porto tinha pedido ajuda à “Obra dos Bairros” na preparação da comunidade cigana da Areosa que, proximamente, iria ser transferida para o bairro de S. João de Deus, aproveitei para ouvir a sua opinião. Logo me perguntou se as casas eram de um só piso e tinham espaço para guardar os panos e cestos e corte para os burros. Outros tempos... Refletimos sobre as dificuldades na sedentarização dum povo nómada com hábitos muito próprios. E o interesse da conversa foi tanto que acabei por o levar a Viana. Ainda falei dessa conversa com responsáveis camarários mas sem qualquer resultado. O que foi pena, poder-se-ia ter evitado muitos problemas.
E porquê falar duma conversa com cerca de 50 anos? Por causa de duas notícias que li nos jornais.
A primeira, no JN de 1 de fevereiro, tinha por título “Esta escola também é dos meninos ciganos” e acrescentava: “Santo Tirso – Escola Básica de S. Bento da Batalha é exemplo de integração de crianças de etnia cigana”. Falava dum menino que “até ganhou prémios de mérito escolar”. A assistente social afirmava que “todos os meninos do bairro de Argemil, com 143 moradores, estão inscritos no pré-escolar e no 1.º Ciclo. Estes pais valorizam o sistema de ensino e percebem a importância da escola”. A diretora do Agrupamento completava que “a integração está feita em pleno”. E o jornalista esclarecia que “o pleno não é mera retórica: envolve os alunos e todos os encarregados de educação, ciganos ou não”. E acrescentava que o”exemplo estende-se à freguesia de Sequeiró e à escola “onde, num total de 82 alunos, 25 são ciganos”.
A segunda notícia, com o título “Ciganos agitam a Casa da Música” (JN, 28/4), dizia: “Para marcar a efeméride do Dia Mundial da Música, a Casa da Música organizou o espetáculo “Romani”. O espetáculo, em ensaios desde novembro, reúne as comunidades ciganas dos bairros do Seixo e da Biquinha, em Matosinhos.” E o diretor musical realçava que “a maioria destes músicos não sabe ler uma pauta, tocam tudo de ouvido. O maior trabalho que tenho é fazê-los parar de tocar. Por eles, estavam aqui todo o dia”. No dia 1 de maio, o mesmo diário informava: ”Comunidade cigana esgota Casa da Música – Rumbas ciganas puseram Casa da Música a dançar em pé”. E a Sala Suggia tem 1238 lugares...
Fico-me por estes dois bons exemplos da integração dum povo, originário do Punjab no subcontinente indiano, cujas migrações são conhecidas na Europa desde o século X. E a recordação de um homem bom...

( 3/6/2015)