Foi na década de sessenta...
Ao passar em Leiria, (ainda não havia
autoestradas), dei-lhe boleia. Apresentou-se como um cigano que vinha
da “peregrinação dos ciganos”em Fátima e queria iria para
Viana do Castelo. Combinámos que o deixaria na estação de
Campanhã. Falámos longamente sobre o seu povo. Como nessa data, a
Câmara do Porto tinha pedido ajuda à “Obra dos Bairros” na
preparação da comunidade cigana da Areosa que, proximamente, iria
ser transferida para o bairro de S. João de Deus, aproveitei para
ouvir a sua opinião. Logo me perguntou se as casas eram de um só
piso e tinham espaço para guardar os panos e cestos e corte para os
burros. Outros tempos... Refletimos sobre as dificuldades na
sedentarização dum povo nómada com hábitos muito próprios. E o
interesse da conversa foi tanto que acabei por o levar a Viana. Ainda
falei dessa conversa com responsáveis camarários mas sem qualquer
resultado. O que foi pena, poder-se-ia ter evitado muitos problemas.
E porquê falar duma conversa com cerca
de 50 anos? Por causa de duas notícias que li nos jornais.
A primeira, no JN de 1 de
fevereiro, tinha por título “Esta escola também é dos meninos
ciganos” e acrescentava: “Santo Tirso – Escola Básica de S.
Bento da Batalha é exemplo de integração de crianças de etnia
cigana”. Falava dum menino que “até ganhou prémios de mérito
escolar”. A assistente social afirmava que “todos os meninos do
bairro de Argemil, com 143 moradores, estão inscritos no pré-escolar
e no 1.º Ciclo. Estes pais valorizam o sistema de ensino e percebem
a importância da escola”. A diretora do Agrupamento completava que
“a integração está feita em pleno”. E o jornalista esclarecia
que “o pleno não é mera retórica: envolve os alunos e todos os
encarregados de educação, ciganos ou não”. E acrescentava que
o”exemplo estende-se à freguesia de Sequeiró e à escola “onde,
num total de 82 alunos, 25 são ciganos”.
A segunda notícia, com o título
“Ciganos agitam a Casa da Música” (JN, 28/4), dizia:
“Para marcar a efeméride do Dia Mundial da Música, a Casa da
Música organizou o espetáculo “Romani”. O espetáculo, em
ensaios desde novembro, reúne as comunidades ciganas dos bairros do
Seixo e da Biquinha, em Matosinhos.” E o diretor musical realçava
que “a maioria destes músicos não sabe ler uma pauta, tocam tudo
de ouvido. O maior trabalho que tenho é fazê-los parar de tocar.
Por eles, estavam aqui todo o dia”. No dia 1 de maio, o mesmo
diário informava: ”Comunidade cigana esgota Casa da Música –
Rumbas ciganas puseram Casa da Música a dançar em pé”. E a Sala
Suggia tem 1238 lugares...
Fico-me por estes dois bons exemplos da
integração dum povo, originário do Punjab no subcontinente
indiano, cujas migrações são conhecidas na Europa desde o século
X. E a recordação de um homem bom...
( 3/6/2015)
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