MEMÓRIA AGRADECIDA
Foi há cem anos. No dia 9 de abril de
1915, nasceu em Mosteirô, Santa Maria da Feira. Ordenado presbítero
em 1937, Florentino de Andrade e Silva foi nomeado professor do seminário diocesano. Sentindo-se
atraído pela vida contemplativa, ainda contactou um mosteiro em
Espanha para entrar na Ordem de Cister, mas acabou nomeado diretor
espiritual do Seminário de Vilar onde o fui encontrar em finais de
1954. Logo em março de 1955, foi sagrado bispo. Pouco o tempo de
convivência, mas, na minha memória adolescente, ficou-me a voz
pausada, a palidez do rosto, o semblante de asceta, a palavra
mística. Os tempos passaram... e voltei a encontrá-lo, em 1961, já
como Administrador Apostólico da Diocese do Porto durante o exílio
a que Salazar condenara o seu bispo, D. António Ferreira Gomes. E
senti-o bem mais próximo. Era o pastor que sabia ouvir e procurava
pôr em prática o que tinha escrito em 1944: “o ideal mais alto
que se poderá viver na terra é a aliança da contemplação com a
acção”. A sua preocupação pelos pobres levou-o a criar o
Secretariado de Acção Social donde nasceu a Obra Diocesana de
Promoção Social. Atento às alterações demográficas e suas
exigências pastorais, lançou as bases de novas paróquias: Senhora
da Boavista, Senhora do Porto, Senhora do Calvário, Senhora da
Ajuda, Cristo-Rei, Padrão da Légua, Baguim, Santo Ovídio,
Coimbrões, Candal, Corim, Araújo, S. Pedro de Ovar, S. Pedro de
Azevedo, Fontiscos. Para formação e assistência do Clero, fez
nascer o Seminário do Bom Pastor e fundou a Fraternidade Sacerdotal.
Ordenou cerca de duas centenas de presbíteros. Criou o Conselho
Presbiteral. Introduziu na diocese os Cursos de Cristandade e
incentivou muitos outros movimentos de apostolado. Acompanhou as
novas experiências pastorais e, para lhes dar base segura, enviou
para Madrid um teólogo a especializar-se em pastoral e liturgia. Em
1964, transferiu a sua residência da Torre da Marca para o antigo
Paço junto da Sé e criou o Centro de Cultura Católica que ocupou o
edifício deixado livre. Interessou-se pelas novas problemáticas
como o planeamento familiar. Numa “semana de estudo” no Seminário
Maior, em 1964 (?), após a intervenção do Dr. Albino Aroso,
afirmou: “ a pílula é uma questão médica e, como tal deve ser
tratada. Os sacerdotes, quando abordados, devem encaminhar os fiéis
para um médico de boa formação cristã”. Foram anos de intenso e
esperançoso labor pastoral. O livro “Para a História da Diocese
do Porto – Dom Florentino de Andrade e Silva”, de António
Teixeira Fernandes, pode ajudar-nos a compreender melhor quem foi e o
que fez.
Viviam-se tempos de angústia na
sociedade portuguesa e de contradição na Igreja do Porto. D.
Florentino, homem do silêncio, sofreu e morreu em silêncio e, em
silêncio, tem permanecido a sua memória...
( 15/4/2015)
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