O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, abril 15, 2015

MEMÓRIA AGRADECIDA


Foi há cem anos. No dia 9 de abril de 1915, nasceu em Mosteirô, Santa Maria da Feira. Ordenado presbítero em 1937, Florentino de Andrade e Silva foi nomeado professor do seminário diocesano. Sentindo-se atraído pela vida contemplativa, ainda contactou um mosteiro em Espanha para entrar na Ordem de Cister, mas acabou nomeado diretor espiritual do Seminário de Vilar onde o fui encontrar em finais de 1954. Logo em março de 1955, foi sagrado bispo. Pouco o tempo de convivência, mas, na minha memória adolescente, ficou-me a voz pausada, a palidez do rosto, o semblante de asceta, a palavra mística. Os tempos passaram... e voltei a encontrá-lo, em 1961, já como Administrador Apostólico da Diocese do Porto durante o exílio a que Salazar condenara o seu bispo, D. António Ferreira Gomes. E senti-o bem mais próximo. Era o pastor que sabia ouvir e procurava pôr em prática o que tinha escrito em 1944: “o ideal mais alto que se poderá viver na terra é a aliança da contemplação com a acção”. A sua preocupação pelos pobres levou-o a criar o Secretariado de Acção Social donde nasceu a Obra Diocesana de Promoção Social. Atento às alterações demográficas e suas exigências pastorais, lançou as bases de novas paróquias: Senhora da Boavista, Senhora do Porto, Senhora do Calvário, Senhora da Ajuda, Cristo-Rei, Padrão da Légua, Baguim, Santo Ovídio, Coimbrões, Candal, Corim, Araújo, S. Pedro de Ovar, S. Pedro de Azevedo, Fontiscos. Para formação e assistência do Clero, fez nascer o Seminário do Bom Pastor e fundou a Fraternidade Sacerdotal. Ordenou cerca de duas centenas de presbíteros. Criou o Conselho Presbiteral. Introduziu na diocese os Cursos de Cristandade e incentivou muitos outros movimentos de apostolado. Acompanhou as novas experiências pastorais e, para lhes dar base segura, enviou para Madrid um teólogo a especializar-se em pastoral e liturgia. Em 1964, transferiu a sua residência da Torre da Marca para o antigo Paço junto da Sé e criou o Centro de Cultura Católica que ocupou o edifício deixado livre. Interessou-se pelas novas problemáticas como o planeamento familiar. Numa “semana de estudo” no Seminário Maior, em 1964 (?), após a intervenção do Dr. Albino Aroso, afirmou: “ a pílula é uma questão médica e, como tal deve ser tratada. Os sacerdotes, quando abordados, devem encaminhar os fiéis para um médico de boa formação cristã”. Foram anos de intenso e esperançoso labor pastoral. O livro “Para a História da Diocese do Porto – Dom Florentino de Andrade e Silva”, de António Teixeira Fernandes, pode ajudar-nos a compreender melhor quem foi e o que fez.
Viviam-se tempos de angústia na sociedade portuguesa e de contradição na Igreja do Porto. D. Florentino, homem do silêncio, sofreu e morreu em silêncio e, em silêncio, tem permanecido a sua memória...
( 15/4/2015)