O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, março 11, 2015

A Casa da Música faz dez anos...


A Casa da Música, inaugurada em 2005, iniciou as celebrações do seu 10º aniversário com um concerto de órgão na igreja dos Clérigos no dia 16 de janeiro que apresentou obras de Bach e Buxtehude. Foi à hora de almoço e, mesmo assim, o templo encheu-se por completo... até no coro alto e nos varandins laterais. Um bem-haja para a Casa da Música e para a Irmandade dos Clérigos por esta abertura à cidade. À noite, a Sala Suggia tornou-se pequena para o concerto “Alemanha em concerto” em que a Orquestra Sinfónica do Porto deu vida a obras dos compositores alemães Weber, Lachenmann e Beethoven. Se o Schreiben de Lachenmann, “compositor em Residência 2015”, que subiu ao palco, foi uma surpresa pela inusitada simbiose de ruídos e sons, foi o concerto para piano e orquestra de Beethoven que levantou a assistência pela excelência do seu intérprete, Pedro Burmester, de ascendência alemã, que, após vários anos, se reencontra com a Cidade e seus dirigentes. “Contar uma história da Alemanha através dos seus maiores compositores, desde o século XVI até à atualidade, é o mote da primeira narrativa que anuncia o País Tema de 2015 e se estende ao longo de todo o ano.” Este privilegiar da Alemanha que, no dizer do diretor artístico da CdM, tem na música o “dominador comum que formou o magma da identidade nacional”, não fecha a Casa da Música a outras iniciativas. E assim, no dia 1 de fevereiro ao meio-dia, a Banda Sinfónica Portuguesa apresentou um concerto com obras de compositores portugueses: Cândido Lima, Coros e Danças Medievais; Pedro Lima Soares, Sopro do Côncavo; Rui Rodrigues, A viagem de balão; Diogo Novo Carvalho, Gestos e Lino Guerreiro, al-Uqsur “Luxor”. Todos os compositores subiram ao palco com a exceção de Rui Rodrigues, a estudar em Viena. No final do concerto, o diretor da Banda Sinfónica Portuguesa e da Academia de Música Costa Cabral agradeceu e enalteceu a qualidade dos intervenientes, todos portugueses, incluindo o diretor musical Pedro Soares, maestro titular da Orquestra Clássica de Espinho. Foi uma viagem que nos transportou a tempos da Idade Média e do Antigo Egípcio; que nos levou a viajar por mundos imaginários e nos fez mergulhar na profundidade da introspeção. E nos gestos sentimos a interação entre o som e as emoções. Foi, no entanto, o Sopro do Côncavo que mais me prendeu a atenção: tudo começa no silêncio de um sopro no seio materno que, pouco a pouco, se faz turbulência na agitação do vida para vir a mergulhar, numa progressiva solidão, no silêncio absoluto dum túmulo. Não fora a fé na Ressurreição...
Com a Casa da Música, o Porto passou a contar com um equipamento cultural que faz dele um polo de atração para nacionais e estrangeiros. Saibamos aproveitá-lo.
(11/3/2015)