Quem vem e atravessa o rio...
Há
dias, quando subi ao zimbório da igreja que coroa o antigo monte de
S. Nicolau em Gaia, senti-me “fascinado
por todo aquele casario que se derramava às golfadas no
Douro”(Eugénio
de Andrade) e comecei a cantar: Quem
vem e atravessa o rio/Junto à serra do Pilar...
Esta
ligação do Porto ao monte de S. Nicolau vem de longe. Já em 1140,
o bispo do Porto, D. Pedro Rabaldes, fundou nele um mosteiro de
“freiras emparedadas” que foi abandonado no século XIV. Aí,
terá ocorrido o “episódio da história do Porto” narrado por
Arnaldo Gama em “A última Dona de S. Nicolau”. No século XVI, o
prior do mosteiro de Grijó aproveitou as ruínas para construir uma
filial do seu mosteiro.
As obras, iniciadas em 1537, só terminaram
em 1670 com a igreja dedicada a Nossa Senhora del Pilar, (de
Saragoça). Esta invocação vinha do tempo dos Filipes e traduziria
a vontade de “castelhanizar”. Seja como for, este mosteiro sempre
esteve ao serviço da Pátria e da liberdade . Logo em 1580, acolheu
D. António, Prior do Crato que apenas o abandonou quando as tropas
espanholas já estavam na vila de Gaia. Mais tarde, em 1809, aquando
da 2ª invasão francesa, o Wellesley nele estabeleceu o
quartel-general e comandou as tropas anglo-lusas que, de 11 para 12
de maio, sob a calada da noite, atravessaram o Douro e derrotaram os
franceses no antigo seminário” (Colégio dos Órfãos), com o
apoio dos canhões escondidos na base do mosteiro.
Durante
o Cerco do Porto (1832-34), as tropas liberais instalaram-se nas suas
dependências protegendo o Porto sitiado. Por dez vezes, o exército
miguelista tentou conquistar este local estratégico, mas nunca o
conseguiu devido ao heroísmo dos seus defensores comandados pelo
“General Torres” cujo nome a toponímia de Gaia perpetua. D.
Pedro honrou-os com o epíteto de “polacos” comparando-os aos
filhos da Polónia que defenderam a Pátria contra russos, prussianos
e austríacos. Ainda hoje a “rua dos Polacos” lhes presta
homenagem.
O
mosteiro, que ficou em ruínas, foi, depois, restaurado e a igreja
aberta ao culto.
É
possível fazer visitas ao templo, ”um
dos mais originais da Europa”;
ao claustro “exemplar
único em Portugal”
e ao zimbório com um panorama de sonho.
Mais ainda, como é
gratificante participar na Eucaristia dominical que, há 40 anos,
congrega a "Comunidade da Serra do Pilar"! Foi o que
fizemos no passado dia oito. Demos graças pelo amor que nessa igreja
se fez sacramento e encarnou no Francisco e na Clarinha que acabava
de nascer e, com o celebrante, rezámos "Ó Maria,/ doce porto,
certa guia/gloriosa Virgem pura..." (Frei Agostinho da Cruz).
Com
votos de SANTO NATAL, convido-o a subir a este monte onde beleza e
história se entrelaçam. No próximo dia 28, o mosteiro completa 477
anos...
( 23/12/2014)
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