Foi há 185 anos - II
No
Porto, houve quem aclamasse D. Miguel em 29/4/1828. Mas foram muitos os
liberais que se revoltaram. A primeira tentativa, falhada, deu-se logo no dia
seguinte, com milhares de pessoas no Campo de Santo Ovídio. Teve mais sucesso a acção revolucionária,
levada a cabo quinze dias depois, precisamente a 16 de Maio no mesmo local, em
acção concomitante das cidades de Aveiro e Porto e dos regimentos de Caçadores
n.º 10 e de Infantaria n.º 6. A Junta Provisória do Porto aclamou rei D.
Pedro IV. Porém, também esta revolta acabou por fracassar. E D. Miguel foi
impiedoso. A “Alçada do Porto”, nomeada, em 14 de Julho para julgar breve, sumariamente e em última instância os responsáveis e
seus cúmplices, acusou 1.200 pessoas e condenou quarenta e duas à morte das
quais doze foram enforcadas, em 1829, na Praça Nova, bem no centro do Porto. A horrenda imolação arrastou-se por três
longas horas e incluiu a degolação das cabeças. No final, os cadáveres foram
levados pela Santa Casa da Misericórdia nas suas tumbas para o Adro dos
Justiçados, situado nas traseiras do Hospital de Santo António. Consumado o
enforcamento, as cabeças dos condenados foram separadas e, no dia seguinte,
foram levadas para as terras onde supostamente foram cometidos os delitos. Aí,
espetadas em paus ou mastros, foram expostas durante três dias em local bem
visível. Que selvajaria, caro leitor! Que barbárie! E isto deu-se há apenas
185 anos nesta “Cidade da Virgem”. E nós hoje, com razão, horrorizamo-nos perante
as atrocidades do “Estado Islâmico”…
Após
a vitória de D. Pedro no Cerco do Porto e a Convenção de Évora-Monte (1834), as
gentes do Porto honraram-nos como mártires
da pátria e mártires da liberdade. Os
dois títulos são referenciados em documentos da época. Logo na tarde do dia 7
de maio de 1836, um grandioso cortejo fúnebre conduziu seus restos mortais para
a igreja da Santa Casa da Misericórdia, armada
para o efeito a expensas dos mesários. A
armação do túmulo esteve patente à veneração pública durante três dias. Em
18 de junho de 1878, um impressionante e
memorável cortejo fúnebre trasladou-os para o mausoléu que a Santa Casa
mandou construir no cemitério do Prado do Repouso onde repousam. Na Praça Nova
que, em 1910, passou a chamar-se da Liberdade, foram colocadas duas placas de
bronze no pedestal da estátua de D. Pedro IV, com a inscrição: “Homenagem da
Câmara Municipal do Porto – Em 1914 – À Memória dos Mártires da Pátria –
Executados em 7 de Março e em 9 de Outubro de 1829”, onde constam seus nomes e
profissões. O Porto sempre se quis pátria da liberdade.
As citações foram retiradas, com vénia, do
livro Os Mártires da Liberdade e a Santa
Casa da Misericórdia do Porto (1829-1878) de Francisco Ribeiro da Silva.
(19/11/2014)
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