O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, novembro 19, 2014

Foi há 185 anos - II


No Porto, houve quem aclamasse D. Miguel em 29/4/1828. Mas foram muitos os liberais que se revoltaram. A primeira tentativa, falhada, deu-se logo no dia seguinte, com milhares de pessoas no Campo de Santo Ovídio. Teve mais sucesso a acção revolucionária, levada a cabo quinze dias depois, precisamente a 16 de Maio no mesmo local, em acção concomitante das cidades de Aveiro e Porto e dos regimentos de Caçadores n.º 10 e de Infantaria n.º 6. A Junta Provisória do Porto aclamou rei D. Pedro IV. Porém, também esta revolta acabou por fracassar. E D. Miguel foi impiedoso. A “Alçada do Porto”, nomeada, em 14 de Julho para julgar breve, sumariamente e em última instância os responsáveis e seus cúmplices, acusou 1.200 pessoas e condenou quarenta e duas à morte das quais doze foram enforcadas, em 1829, na Praça Nova, bem no centro do Porto. A horrenda imolação arrastou-se por três longas horas e incluiu a degolação das cabeças. No final, os cadáveres foram levados pela Santa Casa da Misericórdia nas suas tumbas para o Adro dos Justiçados, situado nas traseiras do Hospital de Santo António. Consumado o enforcamento, as cabeças dos condenados foram separadas e, no dia seguinte, foram levadas para as terras onde supostamente foram cometidos os delitos. Aí, espetadas em paus ou mastros, foram expostas durante três dias em local bem visível. Que selvajaria, caro leitor! Que barbárie! E isto deu-se há apenas 185 anos nesta “Cidade da Virgem”. E nós hoje, com razão, horrorizamo-nos perante as atrocidades do “Estado Islâmico”…

Após a vitória de D. Pedro no Cerco do Porto e a Convenção de Évora-Monte (1834), as gentes do Porto honraram-nos como mártires da pátria e mártires da liberdade. Os dois títulos são referenciados em documentos da época. Logo na tarde do dia 7 de maio de 1836, um grandioso cortejo fúnebre conduziu seus restos mortais para a igreja da Santa Casa da Misericórdia, armada para o efeito a expensas dos mesários. A armação do túmulo esteve patente à veneração pública durante três dias. Em 18 de junho de 1878, um impressionante e memorável cortejo fúnebre trasladou-os para o mausoléu que a Santa Casa mandou construir no cemitério do Prado do Repouso onde repousam. Na Praça Nova que, em 1910, passou a chamar-se da Liberdade, foram colocadas duas placas de bronze no pedestal da estátua de D. Pedro IV, com a inscrição: “Homenagem da Câmara Municipal do Porto – Em 1914 – À Memória dos Mártires da Pátria – Executados em 7 de Março e em 9 de Outubro de 1829”, onde constam seus nomes e profissões. O Porto sempre se quis pátria da liberdade.

 As citações foram retiradas, com vénia, do livro Os Mártires da Liberdade e a Santa Casa da Misericórdia do Porto (1829-1878) de Francisco Ribeiro da Silva.

(19/11/2014)