"É no mistério que eu encontro a paz"
Das
palavras que, em 18 de setembro, o Papa dirigiu aos bispos transcrevo três
ideias: “Recomendo-vos sobretudo os
jovens e os idosos. Os primeiros porque são as nossas asas e os segundos porque
são as nossas raízes”; “Peço-vos
principalmente que nunca deis por certo o mistério com o qual fostes investidos”;
“Permiti que o sucessor de Pedro olhe
profundamente para vós do alto do mistério que nos une”. A primeira encantou-me
pela ternura, as seguintes pelo “mistério”.
Por
coincidência, no dia seguinte, assisti ao concerto “Fortaleza”, em S. João da Madeira, onde Teresa Salgueiro apresentou
o CD “O Mistério”: “Nas ondas do
mar/Na luz serena da chuva/Eu sei/ Aguardo as palavras/Suspensas no silêncio/E
vou/Abraço o medo/Que a memória traz/É no mistério
/Que eu encontro a paz (…)”.
O Santo Padre realçou o mistério como
fundamento do ministério episcopal, Teresa Salgueiro apresentou-o como fonte da
paz. No princípio, na penumbra do palco, uma sombra fez-se palavra. E uma voz
doce cantou a esperança: “A luz da manhã/Revela, anuncia/Ó terra, a esperança
não é vã/ Renasce a cada dia E o sonho é lugar/Da criação”. E explicou o título
do concerto: “A fortaleza
e a virtude/Que forjei em mim/Não são de ferro ou de fogo/Eu não combato assim/A
minha espada, o meu escudo/A minha oração/ A minha crença nos versos de uma
canção”.
A
audição do CD, cujas letras ela escreveu, fez-me compreender o porquê da sua gravação
no “Convento da Arrábida”. Os poemas trazem reminiscências do “eremita da serra
da Arrábida”. A analogia transparece no bucolismo onde o belo é caminho para o
transcendente, na linha do “Itinerarium Mentis in Deum” de S. Boaventura; no
alcance metafórico dos elementos naturais; na intuição mística; na saudade do futuro.
O poema “Cântico” é um convite à contemplação do mistério na natureza: ”Vem
comigo ver noite de luar/O firmamento/O brilho das estrelas, de todos os
astros/Em movimento/Quisera eu/Imitar a sua dança, o seu encanto/Desnudar a
minha esperança”. E “A Espera” canta o amanhã que se anseia: “É a saudade/que
me transporta/A um lugar de claridade. (…) Aqui o tempo não me consegue
alcançar/ Canto a saudade/Canto esta espera/A eternidade”
Estes
e outros poemas trazem-me à mente os versos de Frei Agostinho da Cruz: “ Por onde quer que for, levantarei/Os meus
olhos ao céu, de cuja vista/Aquelas saudades colherei”; “Ah! Doce saudade,
alta, divina/Da visão de seu Deus, em que se acende.”
Mistério.
Que Mistério? Não será este um outro nome de Deus? Um nome menos gasto pelo uso
e abuso? De um Deus menos enclausurado nas categorias humanas, menos objetivado,
menos antropomórfico?
O
que quis o Santo Padre dizer com “Nunca
deis por certo o mistério”?
“No princípio era a Palavra” (Jo 1,1)
(15/10/2014)
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