O Tanoeiro da Ribeira

sexta-feira, julho 11, 2014

O cuidado para bem ajudar


 

Como prometi, hoje vou explicitar três situações em que não é fácil manter o equilíbrio na ajuda.

- É bom que os pais ajudem os filhos mas sem nunca os substituir, nem infantilizar ou tornar paterno-dependentes. O perigo cresce quando estes casam e se redobram as atenções e, por vezes, as concorrências afetivas. Cuidado. Ajudar sim, mas apenas quando solicitarem. Há matrimónios que se desfazem devido à demasiada intromissão da família. No programa “Prós e Contras” “ do dia 31 de março, o psiquiatra Daniel Sampaio apontava a dependência da família como uma das atuais grandes causas de divórcio. O perigo redobra nos nossos tempos em que muitos filhos casados, por razões económicas, voltam a viver com os pais. Ajudá-los, sim, mas sem interferir na sua autonomia: não é por viver em nossa casa que voltam a ser solteiros… Não é por acaso que logo no início da Bíblia, Deus diz: Por isso, o homem deixará o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher (Gn, 2,24).

- É bom que nos preocupemos com um amigo em hora de sofrimento. Mas atenção. Em certos momentos, as palavras podem estar a mais. Especialmente, na morte de um familiar. E há pessoas que têm sempre muito para dizer - “De que morreu? E a que horas foi? Onde? E sofreu muito? Foi de repente? Coitadinho!...” E têm sempre uma história para contar, um conselho para dar. Como apetece repetir o dito do Rei de Espanha a Hugo Chávez: por qué no te callas?”… A morte é a mais íntima e a mais silenciosa das interrogações que nos confronta com o sentido da vida. Como soberana, impõe respeito e distanciamento. Quão reconfortante se torna, nessas horas, a presença dum amigo, disposto a partilhar dos nossos silêncios…

- Quão digno de louvor é quem cuida de idosos. Exerce a sublime missão de apoiar aqueles em quem e por quem Deus fez maravilhas. São tesouros em vasos de vidro: o invólucro é frágil mas a joia é preciosa. Também aqui é preciso adequar a ajuda ao seu ritmo e não esquecer a sua experiência de vida. Lembro aquela senhora que entrou para um lar de idosos e, logo no dia seguinte, uma funcionária veio dizer-lhe que estava na hora da ginástica. Perante a insistência, suplicou: “ó menina, toda a vida fui criada de servir, cansei-me a correr de um lado para o outro ao mando das patroas. Agora, ao menos, deixe-me ficar aqui descansadinha!”. Devido às muitas preocupações, nem sempre se respeita a identidade, a intimidade, a autonomia, os silêncios, os laços afetivos dos idosos. Eu sei que fazê-lo não é tarefa fácil porque exige disponibilidade de tempo e muita paz interior. Coisas que, nestes tempos conturbados, não abundam.

Concluindo… Ajudar é bom, mas ajudar de forma ajustada às circunstâncias e num respeito total pelas pessoas é ainda melhor.

(9/7/2014)