O cuidado para bem ajudar
Como prometi, hoje vou explicitar três situações em que não é fácil
manter o equilíbrio na ajuda.
- É bom
que os pais ajudem os filhos mas sem nunca os substituir, nem infantilizar ou
tornar paterno-dependentes. O perigo cresce quando estes casam e se redobram as
atenções e, por vezes, as concorrências afetivas. Cuidado. Ajudar sim, mas
apenas quando solicitarem. Há matrimónios que se desfazem devido à demasiada
intromissão da família. No programa “Prós e Contras” “ do dia 31 de março, o
psiquiatra Daniel Sampaio apontava a dependência da família como uma das atuais
grandes causas de divórcio. O perigo redobra nos nossos tempos em que muitos
filhos casados, por razões económicas, voltam a viver com os pais. Ajudá-los,
sim, mas sem interferir na sua autonomia: não é por viver em nossa casa que
voltam a ser solteiros… Não é por acaso que logo no início da Bíblia, Deus diz:
Por isso, o homem deixará o seu
pai e a sua mãe para se unir à sua mulher (Gn, 2,24).
- É bom
que nos preocupemos com um amigo em hora de sofrimento. Mas atenção. Em certos
momentos, as palavras podem estar a mais. Especialmente, na morte de um
familiar. E há pessoas que têm sempre muito para dizer - “De que morreu? E a
que horas foi? Onde? E sofreu muito? Foi de repente? Coitadinho!...” E têm
sempre uma história para contar, um conselho para dar. Como apetece repetir o
dito do Rei de Espanha a Hugo Chávez: por qué no te callas?”… A morte é a mais
íntima e a mais silenciosa das interrogações que nos confronta com o sentido da
vida. Como soberana, impõe respeito e distanciamento. Quão reconfortante se
torna, nessas horas, a presença dum amigo, disposto a partilhar dos nossos
silêncios…
- Quão
digno de louvor é quem cuida de idosos. Exerce a sublime
missão de apoiar aqueles em quem e por quem Deus fez maravilhas. São tesouros
em vasos de vidro: o invólucro é frágil mas a joia é preciosa. Também aqui é
preciso adequar a ajuda ao seu ritmo e não esquecer a sua experiência de vida.
Lembro aquela senhora que entrou para um lar de idosos e, logo no dia seguinte,
uma funcionária veio dizer-lhe que estava na hora da ginástica. Perante a
insistência, suplicou: “ó menina, toda a vida fui criada de servir, cansei-me a
correr de um lado para o outro ao mando das patroas. Agora, ao menos, deixe-me
ficar aqui descansadinha!”. Devido às muitas preocupações, nem sempre se respeita
a identidade, a intimidade, a autonomia, os silêncios, os laços afetivos dos
idosos. Eu sei que fazê-lo não é tarefa fácil porque exige disponibilidade de
tempo e muita paz interior. Coisas que, nestes tempos conturbados, não abundam.
Concluindo… Ajudar
é bom, mas ajudar de forma ajustada às circunstâncias e num respeito total
pelas pessoas é ainda melhor.
(9/7/2014)
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