O Tanoeiro da Ribeira

sexta-feira, julho 11, 2014

Para bem ajudar


 

A recente visita do Santo Padre à Terra Santa aliada à sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais trouxe-me à mente a reflexão que, no ano 2 000, fiz na antiga estrada que desce de Jerusalém para Jericó onde a tradição coloca o episódio que nos fala do “Bom Samaritano” (Lc10,30). Ao ver aquele local medonho no fundo de um barranco, pensei no que poderia ter levado o sacerdote a não prestar atenção ao homem que agonizava no seu caminho: viu e passou adiante. Descia de Jerusalém onde trabalharia. Dirigir-se-ia para sua casa. Que preocupações lhe encheriam a mente? Que medos o atormentariam? E, mais do que condená-lo, refleti no que ainda hoje nos acontece. Não é verdade que, por vezes, andamos tão angustiados com a vida que nem reparamos na miséria dum vizinho, no rosto triste de um amigo, no silêncio de um filho, nos olhos húmidos da esposa? Quantos medos e desconfianças não nos inibem a espontaneidade! Como diz o papa Francisco, o outro não será para nós “um estranho de quem é melhor manter distância”?

Em contraponto, um samaritano viu e moveu-se de compaixão. Desceu do cavalo, tratou-lhe as feridas, deixou-o numa estalagem, comprometendo-se a pagar o que fosse preciso pelo seu tratamento. Na volta to pagarei. E seguiu viagem. O samaritano é um exemplo não só porque ajudou mas também pelo modo como ajudou. O seu gesto faz-nos pensar no cuidado que se deve ter quando se presta uma ajuda. É que algumas pessoas, embora bem-intencionadas, tornam-se incómodas e intrometidas. Fazem lembrar aquele jovem que, para cumprir a sua “boa ação diária”, ajudou uma velhinha a atravessar a passadeira. Só que ela não ia atravessar… Há pessoas a quem apetece dizer: ajude… mas não tanto. Na ânsia de ser úteis, não veem que estão a ultrapassar os limites. É que até nas ofertas e nos gestos de delicadeza pode haver violência… A ajuda nunca pode invadir a intimidade do outro nem afetar a sua autonomia. Ajudar, sim, mas com equilíbrio para que a virtude não se transforme em vício. Razão tinha o grande Aristóteles que escreveu: “Sendo assim, um mestre em qualquer arte evita o excesso e a falta, buscando e preferindo o justo meio. Estou falando da virtude, pois é esta que se relaciona com as emoções e ações, e nestas há excesso, falta e justa medida”. E Séneca, filósofo latino contemporâneo de Jesus, dizia: Toda a virtude assenta na justa medida, e a justa medida baseia-se em proporções determinadas. Penso que é neste sentido que deve ler-se o que diz a Bíblia (Ecl 7, 16) “Não sejas justo excessivamente, nem sábio além da medida. Porque te tornarias estúpido”.

É como o sal na comida: nem de mais, nem de menos… Na próxima semana, explicitarei três situações em que este equilíbrio se torna bem difícil.

(3/7/14)