O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, junho 11, 2014

O Dom da Vida


Há tempos, um jovem casal mostrou-nos uma ecografia do filho (ou filha?) com seis semanas de vida e dois centímetros de comprimento, que incluía já o gráfico do seu ritmo cardíaco.

Poderemos, ainda falar da origem da vida como um mistério quando se diz que a ciência tudo explica? De facto, ela ensina que a conceção se dá quando o espermatozoide fecunda o óvulo, dando origem ao ovo. Este começa por ser uma célula única que se divide em duas novas células e cada uma destas noutras duas e assim sucessivamente até se formar a totalidade do organismo. O ovo, como as demais células, compõe-se de citoplasma e núcleo, no interior do qual se encontram os cromossomas cujo número é constante nas células do mesmo indivíduo. As células humanas possuem quarenta e seis cromossomas, dispostos em vinte e três pares, à exceção das células sexuais que só têm vinte e três cromossomas cada. No ovo, juntam-se vinte e três de origem materna e vinte e três de origem paterna, cuja combinação origina a constituição genética individual. No interior dos cromossomas, encontram-se milhares de genes, constituídos por ácido desoxirribonucleico (DNA). Os genes são os responsáveis pelo aparecimento no indivíduo das suas caraterísticas físicas, como a cor dos olhos, dos cabelos, da pele, Rh sanguíneo e outras potencialidades afetivas e intelectuais. Estão na origem da hereditariedade específica, racial e individual. Como diz o povo: ”quem sai aos seus não degenera” e “ninguém sai aos bichos do monte”. Os milhares de genes podem combinar-se de numerosíssimas formas, o que explica a diversidade existente entre os seres humanos. Todos já ouvimos falar nos testes de ADN para identificar um indivíduo ou seus progenitores. Teoricamente, não há dois indivíduos de constituição igual na espécie humana, salvo os “gémeos verdadeiros” que proveem do mesmo ovo inicial.

Mais ainda. O homem, como diz Edgar Morin, é um ser bio-psico-social. E pensar eu que as etapas do desenvolvimento da personalidade, que inclui estruturas físicas, biológicas, afetivas, intelectuais, sociais e espirituais, já estão em gérmen naquele tão pequenino embrião humano de dois centímetros… E as perguntas surgem. A quem se deve a vida que anima as células germinais? E a programação para uma progressiva complexificação organizacional que, em interação com o meio, irá fazer daquele indivíduo uma pessoa única e original?

Para uns, foi a natureza. Para outros, o acaso. Eu, porém, faço minhas as palavras de D. António Francisco, na última Vigília Pascal: Sempre que uma vida nasce há razão para celebrarmos a surpresa e a bênção do dom do amor de Deus, que essa vida significa. E bendigo Deus que associou a mulher e o homem à sua Obra Criadora: Frutificai e multiplicai-vos (Gn,1,28).

(11/6/2014)