O Dom da Vida
Há tempos, um jovem casal mostrou-nos uma ecografia do filho
(ou filha?) com seis semanas de vida e dois centímetros de comprimento, que
incluía já o gráfico do seu ritmo cardíaco.
Poderemos, ainda falar da origem da vida como um mistério quando se diz que a ciência tudo
explica? De facto, ela ensina que a conceção se dá quando o espermatozoide
fecunda o óvulo, dando origem ao ovo. Este começa por ser uma célula única que
se divide em duas novas células e cada uma destas noutras duas e assim
sucessivamente até se formar a totalidade do organismo. O ovo, como as demais
células, compõe-se de citoplasma e núcleo, no interior do qual se encontram os
cromossomas cujo número é constante nas células do mesmo indivíduo. As células
humanas possuem quarenta e seis cromossomas, dispostos em vinte e três pares, à
exceção das células sexuais que só têm vinte e três cromossomas cada. No ovo,
juntam-se vinte e três de origem materna e vinte e três de origem paterna, cuja
combinação origina a constituição genética individual. No interior dos
cromossomas, encontram-se milhares de genes, constituídos por ácido desoxirribonucleico
(DNA). Os genes são os responsáveis pelo aparecimento no indivíduo das suas caraterísticas
físicas, como a cor dos olhos, dos cabelos, da pele, Rh sanguíneo e outras
potencialidades afetivas e intelectuais. Estão na origem da hereditariedade
específica, racial e individual. Como diz o povo: ”quem sai aos seus não degenera”
e “ninguém sai aos bichos do monte”. Os milhares de genes podem combinar-se de
numerosíssimas formas, o que explica a diversidade existente entre os seres
humanos. Todos já ouvimos falar nos testes de ADN para identificar um indivíduo
ou seus progenitores. Teoricamente, não há dois indivíduos de constituição
igual na espécie humana, salvo os “gémeos verdadeiros” que proveem do mesmo ovo
inicial.
Mais ainda. O homem, como diz Edgar Morin, é um ser
bio-psico-social. E pensar eu que as etapas do desenvolvimento da
personalidade, que inclui estruturas físicas, biológicas, afetivas,
intelectuais, sociais e espirituais, já estão em gérmen naquele tão pequenino
embrião humano de dois centímetros… E as perguntas surgem. A quem se deve a
vida que anima as células germinais? E a programação para uma progressiva complexificação
organizacional que, em interação com o meio, irá fazer daquele indivíduo uma
pessoa única e original?
Para uns, foi a
natureza. Para outros, o acaso. Eu,
porém, faço minhas as palavras de D. António Francisco, na última Vigília
Pascal: Sempre que uma vida nasce há
razão para celebrarmos a surpresa e a bênção do dom do amor de Deus, que essa
vida significa. E bendigo Deus que associou a mulher e o homem à sua Obra Criadora:
Frutificai e multiplicai-vos (Gn,1,28).
(11/6/2014)
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