O Tanoeiro da Ribeira

segunda-feira, maio 19, 2014

Mandela fala de si


 
Muito se falou de Nelson Mandela aquando da sua morte. Quando as luzes se iam apagando, soube-me bem ouvir Cristiano Ronaldo, ao receber a “bola de Ouro -2013“, lembrar “Madiba” como um dos seus modelos.

Para podermos penetrar melhor na intimidade deste “mestre em humanidade”, deixo aqui a sua voz como a li em Mandela a construção de um homem, de António Mateus.

Quem era? Um santo? - Não sou santo, a menos que vejam um santo como um pecador que continua a tentar. Apenas um homem que se foi construindo…

- Um homem que lutou contra o domínio branco e contra o domínio negro e para quem o amor é mais forte que o ódio: Se as pessoas aprendem a ser racistas e preconceituosas também podem ser ensinadas a amar, porque o amor é mais natural no coração humano do que o seu opositor.

- Um homem que amava a família. Quando lhe perguntaram o que mais o magoou na vida, segredou, com olhos humedecidos: A minha mãe… passam vinte e cinco anos que morreu e nunca lhe pude dizer adeus, nem a pude sepultar. Estava na prisão, pedi ao diretor, mas não fui autorizado a ir ao funeral… três meses depois, foi o meu filho mais velho… aconteceu o mesmo…Dei comigo impossibilitado de cumprir os meus deveres como filho, irmão e marido.

- Um homem que perdoava. Mesmo ao sentir-se “o homem mais só do mundo”, devido à traição da primeira esposa, confessou: Afasto-me da minha mulher sem ressentimentos… abraço-a com todo o amor e afeição que nutri por ela, dentro e fora da prisão, desde o primeiro momento em que a vi. Até nos guardas da sua prisão encontrou bondade: Conheci lá guardas que faziam o possível para amenizar a nossa situação.

- Um homem que soube cultivar o humor. Numa passagem clandestina por Portugal (1961), gracejou: Se algum dia vos disserem que insultei alguém ou me embriaguei, só pode ter sido com vinho do Porto.

- Um homem para quem o que importa é o futuro. Ao assumir a presidência, disse aos funcionários do anterior governo racista: O que é passado, é passado. Agora olhamos para o futuro. Queremos a vossa ajuda. Se quiserem ficar, estarão a prestar um grande serviço ao vosso país.Tudo o que vos peço é que o façam de bom coração. Eu prometo fazer o mesmo.(…) O momento de maior escuridão surge sempre imediatamente antes da alvorada.

- Um homem fiel ao diálogo. Dois dias antes das eleições, disse a De Klerk, o último presidente do regime de “apartheid”: Peço-lhe que ponha na mesa as suas cartas voltadas para cima. Trabalhemos em conjunto abertamente, sem agendas secretas. Estou disposto a trabalhar consigo apesar de todos estes erros.

Ah!...  se os nossos políticos o ouvissemSe quiseres fazer a paz com o teu inimigo, tens de trabalhar com ele. Aí, ele torna-se teu parceiro. E, no nosso caso, nem de inimigos se trata…

(25/2/14)