Foi há duzentos e cinco anos
As
“alminhas” que povoam os caminhos e encruzilhadas das nossas terras mostram-nos
quão antiga e popular é a “devoção das almas”. Não é, pois, de admirar que, após
o desastre da ponte das barcas, o
povo do Porto tenha erguido umas “alminhas” no local onde aconteceu a tragédia.
A sua gestão foi entregue à Irmandade das
Almas de São José das Taipas que, criada em 1780, resultou da fusão de duas
anteriores: a de S. Nicolau Tolentino das Almas, instituída em 1634 na igreja
de S. João Novo, e a de S. José das Taipas que reunia na capela privativa
fundada em 1666 ao cimo da rua do Calvário (atual Dr. Barbosa de Castro, onde se
situa a casa em que nasceu Almeida Garrett). O incremento da irmandade levou à
construção de uma nova igreja. O projeto do arquiteto Carlos Amarante, o mesmo
que desenhara a “ponte das barcas”, integrou a antiga capela no novo espaço
religioso. Começou a ser construída em 1795 mas só terminou 1878 por falta de
verbas e também pelo conturbado momento político que, então, se vivia com as
Invasões Francesas, o Cerco do Porto e a Guerra da Patuleia.
Em 1810, por decisão dos habitantes da Ribeira,
a Irmandade foi incumbida de zelar pelas Alminhas
da Ponte e aplicar as suas esmolas no sufrágio dos que morreram afogados no
Douro. A partir daí, a Irmandade passou a comemorar o aniversário desse trágico
acontecimento (29 de março de 1809) com uma solene procissão que percorria as
íngremes e tortuosas ruas que descem da sua igreja, junto da Cordoaria, até à
Ribeira. Esta manifestação de fé e memória realizou-se durante um século e apenas
terminou, em 1910, com o advento da República. É, pois, de louvar a iniciativa
da atual mesa da Irmandade ao retomar esta tradição, só que, agora, a procissão
inicia-se e acaba na capela da Lada que fica próxima da Ponte Luís I. Mudam-se
os tempos…
A
igreja conserva ainda, à entrada do lado direito, a tela original que esteve
nas Alminhas da Ponte até ser
substituída, em 1897, pelo painel de bronze de Teixeira Lopes (pai). A pintura,
com cenas da tragédia, concentra a admiração de quantos visitam este templo, de
estilo neoclássico, que ostenta, no retábulo do altar-mor, as imagens de S.
José e S. Nicolau Tolentino. Na capela-mor, suscita particular interesse o
sacrário, o segundo maior da cidade, pela beleza dos seus ornamentos. Nos
quatro altares laterais, veneram-se: Nª Senhora das Dores, Nª Senhora da Saúde,
Santo António e Nª Senhora da Conceição. No museu de arte sacra e sacristia,
merecem relevo o presépio de Machado de Castro e uma pintura da escola alemã
representando N.ª S.ª da Divina Providência.
A
igreja de São José das Taipas, pelo rico património artístico e pelo
significado da sua história na alma portuense, é digna de ser conhecida.
(14/5/2014)
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home