O Tanoeiro da Ribeira

segunda-feira, maio 19, 2014

Foi há duzentos e cinco anos



As “alminhas” que povoam os caminhos e encruzilhadas das nossas terras mostram-nos quão antiga e popular é a “devoção das almas”. Não é, pois, de admirar que, após o desastre da ponte das barcas, o povo do Porto tenha erguido umas “alminhas” no local onde aconteceu a tragédia. A sua gestão foi entregue à Irmandade das Almas de São José das Taipas que, criada em 1780, resultou da fusão de duas anteriores: a de S. Nicolau Tolentino das Almas, instituída em 1634 na igreja de S. João Novo, e a de S. José das Taipas que reunia na capela privativa fundada em 1666 ao cimo da rua do Calvário (atual Dr. Barbosa de Castro, onde se situa a casa em que nasceu Almeida Garrett). O incremento da irmandade levou à construção de uma nova igreja. O projeto do arquiteto Carlos Amarante, o mesmo que desenhara a “ponte das barcas”, integrou a antiga capela no novo espaço religioso. Começou a ser construída em 1795 mas só terminou 1878 por falta de verbas e também pelo conturbado momento político que, então, se vivia com as Invasões Francesas, o Cerco do Porto e a Guerra da Patuleia.

 Em 1810, por decisão dos habitantes da Ribeira, a Irmandade foi incumbida de zelar pelas Alminhas da Ponte e aplicar as suas esmolas no sufrágio dos que morreram afogados no Douro. A partir daí, a Irmandade passou a comemorar o aniversário desse trágico acontecimento (29 de março de 1809) com uma solene procissão que percorria as íngremes e tortuosas ruas que descem da sua igreja, junto da Cordoaria, até à Ribeira. Esta manifestação de fé e memória realizou-se durante um século e apenas terminou, em 1910, com o advento da República. É, pois, de louvar a iniciativa da atual mesa da Irmandade ao retomar esta tradição, só que, agora, a procissão inicia-se e acaba na capela da Lada que fica próxima da Ponte Luís I. Mudam-se os tempos…

A igreja conserva ainda, à entrada do lado direito, a tela original que esteve nas Alminhas da Ponte até ser substituída, em 1897, pelo painel de bronze de Teixeira Lopes (pai). A pintura, com cenas da tragédia, concentra a admiração de quantos visitam este templo, de estilo neoclássico, que ostenta, no retábulo do altar-mor, as imagens de S. José e S. Nicolau Tolentino. Na capela-mor, suscita particular interesse o sacrário, o segundo maior da cidade, pela beleza dos seus ornamentos. Nos quatro altares laterais, veneram-se: Nª Senhora das Dores, Nª Senhora da Saúde, Santo António e Nª Senhora da Conceição. No museu de arte sacra e sacristia, merecem relevo o presépio de Machado de Castro e uma pintura da escola alemã representando N.ª S.ª da Divina Providência.

A igreja de São José das Taipas, pelo rico património artístico e pelo significado da sua história na alma portuense, é digna de ser conhecida.

(14/5/2014)