D. João Peculiar - Quem foi?
A
propósito de Grijó, deixei no ar a pergunta: quem já ouviu falar de D. João
Peculiar? Não serão muitos… E, no entanto, este vulto da Igreja (cofundador de
Santa Cruz de Coimbra, fundador de S. Cristóvão de Lafões, bispo do Porto e
arcebispo de Braga) foi um dos pilares em que assentou a independência de
Portugal. Afonso Henriques foi o conquistador; D. João Peculiar, o diplomata. Sem
este, aquele não seria rei, dificilmente, conquistaria Lisboa e o Condado Portucalense
não passaria a Reino. Ignorá-lo é falsear a nossa História.
Valeu
a sua amizade com o Cardeal Guido de Bico que desempenhou papel importante,
como legado papal, no Tratado de Zamora, em 1143. No Concílio de Piza em 1135, conheceu
S. Bernardo de quem falou a D. Afonso Henriques que se entusiasmou com a
prodigiosa multiplicação das abadias cistercienses por ele fundadas. Não foi
por acaso que, em 1144, a Ordem de Cister se estabeleceu em S. João de Tarouca e,
depois, em Alcobaça e em muitos outros mosteiros. O apoio de Cister à causa
portuguesa serviu de contrapeso à influência que Cluny exercia no papado em
favor de Castela. Foi particularmente importante nas 14 viagens (e naquele
tempo não havia comboios nem carros e muito menos aviões…) que D. João fez a
Roma para convencer o Papa a reconhecer a independência de Portugal. Mesmo
assim, apenas em 1179 é que o Papa Alexandre III escreveu: “concedemos e
confirmamos por autoridade apostólica ao teu excelso domínio o reino de
Portugal com inteiras honras de reino e a dignidade que aos reis pertence”.
Portugal nasceu em Zamora, mas, só passados 36 anos, foi reconhecido
internacionalmente.
A
conquista de Lisboa também se deve, em grande medida, à sua ação. Como? Foi ele
quem pediu a S. Bernardo para convencer os flamengos a colaborar nessa
conquista. Quando, em 16 de Junho de 1147, na Sé do Porto, o seu bispo, D. Pedro
Pitões, exortou os Cruzados a participar na tomada de Lisboa e leu a carta de D.
Afonso Henriques que formalizava o pedido e lhes oferecia recompensas, das
diversas nações nórdicas só os flamengos, inicialmente, se mostraram-se
disponíveis. E foi preciso que na Armada, com D. Pedro Pitões, embarcasse
também D. João Peculiar como penhor das promessas do Rei e para que, em Lisboa,
o obrigasse a cumprir a sua palavra. E assim aconteceu. Não é sem razão que a
nossa capital evoca estes dois bispos num baixo-relevo no metro em Martim
Moniz. Braga honra D. João Peculiar com uma imponente estátua perto da catedral.
E o Porto? - Deu seu nome a uma pequena rua no bairro de S. Roque da Lameira. Muito
pouco para tão grande nome.
O
livro D. Afonso Henriques, de José
Mattoso, ajuda-nos a conhecer este português insigne, um dos nossos egrégios avós que o Hino Nacional enaltece e a Escola esquece.
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