O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, fevereiro 04, 2014

D. João Peculiar - Quem foi?


 

 

A propósito de Grijó, deixei no ar a pergunta: quem já ouviu falar de D. João Peculiar? Não serão muitos… E, no entanto, este vulto da Igreja (cofundador de Santa Cruz de Coimbra, fundador de S. Cristóvão de Lafões, bispo do Porto e arcebispo de Braga) foi um dos pilares em que assentou a independência de Portugal. Afonso Henriques foi o conquistador; D. João Peculiar, o diplomata. Sem este, aquele não seria rei, dificilmente, conquistaria Lisboa e o Condado Portucalense não passaria a Reino. Ignorá-lo é falsear a nossa História.

Valeu a sua amizade com o Cardeal Guido de Bico que desempenhou papel importante, como legado papal, no Tratado de Zamora, em 1143. No Concílio de Piza em 1135, conheceu S. Bernardo de quem falou a D. Afonso Henriques que se entusiasmou com a prodigiosa multiplicação das abadias cistercienses por ele fundadas. Não foi por acaso que, em 1144, a Ordem de Cister se estabeleceu em S. João de Tarouca e, depois, em Alcobaça e em muitos outros mosteiros. O apoio de Cister à causa portuguesa serviu de contrapeso à influência que Cluny exercia no papado em favor de Castela. Foi particularmente importante nas 14 viagens (e naquele tempo não havia comboios nem carros e muito menos aviões…) que D. João fez a Roma para convencer o Papa a reconhecer a independência de Portugal. Mesmo assim, apenas em 1179 é que o Papa Alexandre III escreveu: “concedemos e confirmamos por autoridade apostólica ao teu excelso domínio o reino de Portugal com inteiras honras de reino e a dignidade que aos reis pertence”. Portugal nasceu em Zamora, mas, só passados 36 anos, foi reconhecido internacionalmente.

A conquista de Lisboa também se deve, em grande medida, à sua ação. Como? Foi ele quem pediu a S. Bernardo para convencer os flamengos a colaborar nessa conquista. Quando, em 16 de Junho de 1147, na Sé do Porto, o seu bispo, D. Pedro Pitões, exortou os Cruzados a participar na tomada de Lisboa e leu a carta de D. Afonso Henriques que formalizava o pedido e lhes oferecia recompensas, das diversas nações nórdicas só os flamengos, inicialmente, se mostraram-se disponíveis. E foi preciso que na Armada, com D. Pedro Pitões, embarcasse também D. João Peculiar como penhor das promessas do Rei e para que, em Lisboa, o obrigasse a cumprir a sua palavra. E assim aconteceu. Não é sem razão que a nossa capital evoca estes dois bispos num baixo-relevo no metro em Martim Moniz. Braga honra D. João Peculiar com uma imponente estátua perto da catedral. E o Porto? - Deu seu nome a uma pequena rua no bairro de S. Roque da Lameira. Muito pouco para tão grande nome.

O livro D. Afonso Henriques, de José Mattoso, ajuda-nos a conhecer este português insigne, um dos nossos egrégios avós que o Hino Nacional enaltece e a Escola esquece.