É bom estarmos aqui
À
maneira de S. Pedro no monte Tabor (Mt 17,4), era este o meu sentimento quando,
no passado dia 15 de junho, percorria, com um grupo de amigos, a “via-sacra” em Fátima.
Um caminho longo que começa junto da “rotunda sul” e termina na capela do Calvário,
depois de uma paragem no monumento a Nª Senhora, nos “Valinhos”. Longo, mas
pouco íngreme, o que permite a subida mesmo àqueles, como acontecia a alguns do
nosso grupo, a quem os anos já vão pesando nas pernas. Mais do que um
sacrifício, é um espaço marcado pelo silêncio apenas entrecortado pelo cantar
de um ou outro passarinho e pelo ciciar do vento nas folhas das oliveiras e
azinheiras que bordejam o caminho. E nesse silêncio, associei-me à natureza
que, em manhã de primavera, me convidada a louvar o Criador. - ” Creio em Deus Pai todo poderoso, Criador do
céu e da terra”. Evoquei o episódio bíblico em que “ Melquidesec, sacerdote
do Deus Altíssimo (…) abençoou Abrão, dizendo: “Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo
que criou o céu e a terra!” (Gn, 14,18). Deu-se o encontro do Deus da Criação de
Melquidesec com o Deus da Revelação de Abraão. E porque, em Jesus, o “ Verbo se
fez carne” (Jo 1,14) e se realizou a plena manifestação de Deus, acrescentei -”Creio em Jesus Cristo, seu único filho,
Nosso Senhor”.
A
via-sacra é um convite à oração, feita de recolhimento e encontro interior. Num
mundo aos berros onde a verdade se mede pela força dos gritos, é bom fazer
silêncio, um silêncio não de solidão, mas de comunhão.
Comunhão
com nós próprios que, mergulhados num presente sombrio, andamos descentrados do
essencial, estranhos a nós mesmos. É o momento para cada um mergulhar na sua
intimidade e interrogar-se sobre quem é e qual o sentido da sua vida. Comunhão
com os outros. O Cristo padecente faz-nos vê-Lo nos mais frágeis. Numa
sociedade em que tantos sofrem abandonados, é tempo de me perguntar o que posso
fazer para atenuar a sua solidão, a começar pelos que me são mais próximos.
“Põe tudo o que és na mais pequena coisa que faças”, dizia Fernando Pessoa.
Comunhão
com aqueles que partilharam a vida connosco e já partiram para a “Casa do Pai”.
-“Creio na Comunhão dos Santos”. E
lembrei os amigos com quem, no passado, rezei por aqueles caminhos solidários. Escreveu
Saint-Exupéry: “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Senti que seguiam connosco
naquela caminhada que também foi romagem de saudade. E dei graças a Deus por
eles. -“Creio na vida eterna”.
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