O Tanoeiro da Ribeira

sexta-feira, novembro 29, 2013

É bom estarmos aqui



À maneira de S. Pedro no monte Tabor (Mt 17,4), era este o meu sentimento quando, no passado dia 15 de junho, percorria, com um grupo de amigos, a “via-sacra” em Fátima. Um caminho longo que começa junto da “rotunda sul” e termina na capela do Calvário, depois de uma paragem no monumento a Nª Senhora, nos “Valinhos”. Longo, mas pouco íngreme, o que permite a subida mesmo àqueles, como acontecia a alguns do nosso grupo, a quem os anos já vão pesando nas pernas. Mais do que um sacrifício, é um espaço marcado pelo silêncio apenas entrecortado pelo cantar de um ou outro passarinho e pelo ciciar do vento nas folhas das oliveiras e azinheiras que bordejam o caminho. E nesse silêncio, associei-me à natureza que, em manhã de primavera, me convidada a louvar o Criador. - ” Creio em Deus Pai todo poderoso, Criador do céu e da terra”. Evoquei o episódio bíblico em que “ Melquidesec, sacerdote do Deus Altíssimo (…) abençoou Abrão, dizendo: “Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo que criou o céu e a terra!” (Gn, 14,18). Deu-se o encontro do Deus da Criação de Melquidesec com o Deus da Revelação de Abraão. E porque, em Jesus, o “ Verbo se fez carne” (Jo 1,14) e se realizou a plena manifestação de Deus, acrescentei -”Creio em Jesus Cristo, seu único filho, Nosso Senhor”.



A via-sacra é um convite à oração, feita de recolhimento e encontro interior. Num mundo aos berros onde a verdade se mede pela força dos gritos, é bom fazer silêncio, um silêncio não de solidão, mas de comunhão.

Comunhão com nós próprios que, mergulhados num presente sombrio, andamos descentrados do essencial, estranhos a nós mesmos. É o momento para cada um mergulhar na sua intimidade e interrogar-se sobre quem é e qual o sentido da sua vida. Comunhão com os outros. O Cristo padecente faz-nos vê-Lo nos mais frágeis. Numa sociedade em que tantos sofrem abandonados, é tempo de me perguntar o que posso fazer para atenuar a sua solidão, a começar pelos que me são mais próximos. “Põe tudo o que és na mais pequena coisa que faças”, dizia Fernando Pessoa.

Comunhão com aqueles que partilharam a vida connosco e já partiram para a “Casa do Pai”. -“Creio na Comunhão dos Santos”. E lembrei os amigos com quem, no passado, rezei por aqueles caminhos solidários. Escreveu Saint-Exupéry: “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”. Senti que seguiam connosco naquela caminhada que também foi romagem de saudade. E dei graças a Deus por eles. -“Creio na vida eterna”.
 
 
Faz-nos bem calcorrear estes caminhos serranos que nos remetem para o tempo em que os “três pastorinhos” por eles corriam atrás das ovelhas. Limpa os pulmões, tonifica os músculos, refresca a alma e revigora o espírito. Fica como sugestão para o “Ano da Fé”.