O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, novembro 26, 2013

Deus ainda não disse a sua última palavra



“A vida (dos jovens) acusa uma surdez geral a tudo o que diga respeito a Deus, à fé, à oração, à comunidade. Uma surdez, ainda, aprovada por uma cultura difusa completamente estranha ao Cristianismo que tem influenciado fortemente as novas gerações”. Estas e outras afirmações de Armando Matteo em “A primeira geração incrédula” avolumaram e explicitaram preocupações que, já há muito, me inquietam.

Foi, pois, com redobrado interesse que participei no Colóquio “Deus ainda tem futuro?” que abriu com a palestra “A situação espiritual do nosso mundo” pelo professor Jean-Paul Willaime, “um dos maiores sociólogos das religiões do Mundo”.

Porque os dados da sociologia, sem atenuar razões de inquietação, indicam caminhos para o agir da Igreja e abrem horizontes de esperança, resolvi partilhá-los convosco. Respiguei algumas afirmações que, com vénia, transcrevo.

Começou por dizer “à partida, podemos, aliás, afirmar que os aspetos simbólicos da condição humana, que as representações e as práticas religiosas são, têm um grande futuro pela frente, de tal modo o facto religioso constitui um facto cultural e social massivo, que atravessa os séculos e as culturas”. E acrescentou: “Fechar-se na alternativa opondo uma sociedade religiosa a uma sociedade ateia é um beco sem saída. O desafio do futuro de Deus é também o desafio do seu lugar nas sociedades democráticas, respeitando os direitos de cada um e tendo em conta a pluralidade das religiões e das convicções não religiosas. Uma laicidade bem compreendida é, portanto, uma condição sine qua non do futuro de Deus”.

Após bem fundamentada exposição, concluiu: “As religiões são recursos identitários e éticos que podem exercer um papel positivo nas sociedades democráticas e laicas. (…) As religiões também são fontes de sentido, de solidariedade e de esperança que podem ser tanto mais pertinentes quanto as sociedades ocidentais um pouco desencantadas não estão imunes às derivas que podem pôr em causa o humanismo democrático. O paradoxo seria que as religiões (…) se tornassem os melhores garantes, nomeadamente para assegurar o futuro de um ideal humanista e solidário. Deus não disse ainda a sua última palavra.”

Gostei de ouvir um sociólogo corroborar o que o nosso bispo D. António escrevera nas “Cartas ao Papa”, em setembro de 1983: “Parece-me que as próprias condições de exaustão das civilizações e a necessidade de paz dão ao Evangelho novas oportunidades de aparecer como a boa Nova e aos cristãos o convite a serem homens do futuro”.

Faço minhas as últimas palavras dessa carta: “Cremos e professamos que o Bem supera o Mal, que onde abundou o pecado aí superabundou a Redenção. É isto que dá sentido à História, da qual Deus nos confiou o encargo na Esperança teologal”.