Deus ainda não disse a sua última palavra
“A
vida (dos jovens) acusa uma surdez geral a tudo o que diga respeito a Deus, à
fé, à oração, à comunidade. Uma surdez, ainda, aprovada por uma cultura difusa
completamente estranha ao Cristianismo que tem influenciado fortemente as novas
gerações”. Estas e outras afirmações de Armando Matteo em “A primeira geração
incrédula” avolumaram e explicitaram preocupações que, já há muito, me
inquietam.
Foi,
pois, com redobrado interesse que participei no Colóquio “Deus ainda tem
futuro?” que abriu com a palestra “A
situação espiritual do nosso mundo” pelo professor Jean-Paul Willaime, “um
dos maiores sociólogos das religiões do Mundo”.
Porque
os dados da sociologia, sem atenuar razões de inquietação, indicam caminhos para
o agir da Igreja e abrem horizontes de esperança, resolvi partilhá-los
convosco. Respiguei algumas afirmações que, com vénia, transcrevo.
Começou
por dizer “à partida, podemos, aliás, afirmar que os aspetos simbólicos da
condição humana, que as representações e
as práticas religiosas são, têm um grande futuro pela frente, de tal modo o
facto religioso constitui um facto cultural e social massivo, que atravessa os
séculos e as culturas”. E acrescentou: “Fechar-se na alternativa opondo uma sociedade
religiosa a uma sociedade ateia é um beco sem saída. O desafio do futuro de Deus é também o desafio do seu lugar nas
sociedades democráticas, respeitando os direitos de cada um e tendo em
conta a pluralidade das religiões e das convicções não religiosas. Uma laicidade bem compreendida é, portanto,
uma condição sine qua non do futuro
de Deus”.
Após
bem fundamentada exposição, concluiu: “As
religiões são recursos identitários e éticos que podem exercer um papel
positivo nas sociedades democráticas e laicas. (…) As religiões também são fontes de sentido, de solidariedade e de
esperança que podem ser tanto mais pertinentes quanto as sociedades
ocidentais um pouco desencantadas não estão imunes às derivas que podem pôr em
causa o humanismo democrático. O paradoxo seria que as religiões (…) se
tornassem os melhores garantes, nomeadamente para assegurar o futuro de um ideal humanista e solidário. Deus não disse ainda a sua última palavra.”
Gostei
de ouvir um sociólogo corroborar o que o nosso bispo D. António escrevera nas
“Cartas ao Papa”, em setembro de 1983: “Parece-me que as próprias condições de
exaustão das civilizações e a necessidade de paz dão ao Evangelho novas oportunidades de aparecer como a boa Nova e aos
cristãos o convite a serem homens do futuro”.
Faço
minhas as últimas palavras dessa carta: “Cremos e professamos que o Bem supera
o Mal, que onde abundou o pecado aí superabundou a Redenção. É isto que dá
sentido à História, da qual Deus nos confiou o encargo na Esperança teologal”.
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