O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, novembro 12, 2013

Havia nuvens sobre Varsóvia



Aqueles que não podem lembrar o passado, estão condenados a repeti-lo”. O aforisma de George Santyana afixado à entrada de Auschwitz motivou este meu texto.

Foi em 27 de abril de 1940 que Himmler, comandante SS, mandou construir esta “fábrica de morte”, símbolo do holocausto e do genocídio do povo judaico. Começou por ser prisão para os polacos cultos que os alemães consideravam perigosos: sacerdotes, professores, intelectuais, artistas e líderes sociais. Mas, cedo, se transformou num centro de “extermínio em massa” para 1 100 000 judeus. Caro leitor, não passe adiante. Isto não é um número com muitos algarismos. São pessoas, pessoas como nós. Pense se uma delas fosse seu pai, filho, neto…

No dia em que se completavam 73 anos sobre essa data vergonhosa, as nuvens encobriam o céu de Varsóvia, cidade que sofreu os horrores do nazismo e do estalinismo. Nela, fiz silêncio e rezei junto dos monumentos evocativos das centenas de milhar de judeus que os alemães encurralaram e chacinaram no seu famoso gueto e dos cerca de 1 000 000 de polacos deportados pelos soviéticos para a Sibéria. O mesmo silêncio no gueto de Cracóvia.

Em Auschwitz, recordei o ódio racista de Hitler para quem era preciso “exterminar” os judeus, até mesmo enforcá-los em “candeeiros de rua”. Estima-se que, neste campo de extermínio, foram assassinados um milhão e trezentos mil prisioneiros não só judeus, mas não é possível saber-se o número exato. É que, ao descer do comboio, eram examinados pelos médicos nazis e os que não serviam para “bestas de trabalho”, como deficientes, doentes, crianças, velhos, mulheres grávidas e com bebés, seguiam logo para a câmaras de gás, sem qualquer registo. Os outros iam para os campos de “trabalho escravo” onde morriam de “morte lenta”. Impressionou-me, sobremaneira, a fotografia com mulheres que aguardavam, sem o saber, a entrada na câmara de gás, com criancitas a brincar na sua frente. Dos objetos expostos, emocionaram-me as próteses dos deficientes, as bonecas das meninas, os cabelos das mulheres assassinadas. E os sapatos de criança. Ao “entrar” nas câmaras de gás e fornos crematórios, sentia-se um estremecimento geral. Fazia-se silêncio em todas as vozes e, nalguns olhos, brilhavam lágrimas. De dor e de vergonha. Que animal é o homem? Como foi possível?

Enquanto peregrinava pelos “campos da morte”, perseguia-me o espectro de Rosemberg, “o principal ideólogo nazi” condenado pelo tribunal de Nuremberga, que, antes da sua execução, disse que o nacional-socialismo “renasceria de uma geração endurecida pelo sofrimento”. E também o medo de que a crise atual possa fazer renascer tenebrosos fantasmas numa Alemanha em que os jovens começam a sofrer as dificuldades da recessão que esmaga a Europa. Nuvens negras…