Havia nuvens sobre Varsóvia
“Aqueles que não podem lembrar o passado,
estão condenados a repeti-lo”. O aforisma de George Santyana afixado à
entrada de Auschwitz motivou este meu texto.
Foi
em 27 de abril de 1940 que Himmler, comandante SS, mandou construir esta
“fábrica de morte”, símbolo do holocausto e do genocídio do povo judaico.
Começou por ser prisão para os polacos cultos que os alemães consideravam
perigosos: sacerdotes, professores, intelectuais, artistas e líderes sociais.
Mas, cedo, se transformou num centro de “extermínio em massa” para 1 100 000
judeus. Caro leitor, não passe adiante. Isto não é um número com muitos
algarismos. São pessoas, pessoas como nós. Pense se uma delas fosse seu pai,
filho, neto…
No
dia em que se completavam 73 anos sobre essa data vergonhosa, as nuvens
encobriam o céu de Varsóvia, cidade que sofreu os horrores do nazismo e do
estalinismo. Nela, fiz silêncio e rezei junto dos monumentos evocativos das
centenas de milhar de judeus que os alemães encurralaram e chacinaram no seu
famoso gueto e dos cerca de 1 000 000 de polacos deportados pelos soviéticos
para a Sibéria. O mesmo silêncio no gueto de Cracóvia.
Em
Auschwitz, recordei o ódio racista de Hitler para quem era preciso “exterminar”
os judeus, até mesmo enforcá-los em “candeeiros de rua”. Estima-se que, neste
campo de extermínio, foram assassinados um milhão e trezentos mil prisioneiros
não só judeus, mas não é possível saber-se o número exato. É que, ao descer do
comboio, eram examinados pelos médicos nazis e os que não serviam para “bestas
de trabalho”, como deficientes, doentes, crianças, velhos, mulheres grávidas e
com bebés, seguiam logo para a câmaras de gás, sem qualquer registo. Os outros
iam para os campos de “trabalho escravo” onde morriam de “morte lenta”.
Impressionou-me, sobremaneira, a fotografia com mulheres que aguardavam, sem o
saber, a entrada na câmara de gás, com criancitas a brincar na sua frente. Dos
objetos expostos, emocionaram-me as próteses dos deficientes, as bonecas das
meninas, os cabelos das mulheres assassinadas. E os sapatos de criança. Ao
“entrar” nas câmaras de gás e fornos crematórios, sentia-se um estremecimento
geral. Fazia-se silêncio em todas as vozes e, nalguns olhos, brilhavam
lágrimas. De dor e de vergonha. Que animal é o homem? Como foi possível?
Enquanto
peregrinava pelos “campos da morte”, perseguia-me o espectro de Rosemberg, “o
principal ideólogo nazi” condenado pelo tribunal de Nuremberga, que, antes da
sua execução, disse que o nacional-socialismo “renasceria de uma geração endurecida pelo sofrimento”. E também o
medo de que a crise atual possa fazer renascer tenebrosos fantasmas numa
Alemanha em que os jovens começam a sofrer as dificuldades da recessão que
esmaga a Europa. Nuvens negras…
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