A nostalgia do Absoluto
Neste início de ano, vivemos tempos de medos e incertezas. Onde encontrar sentido para a vida, nas horas de sofrimento?
A religião tem uma envolvência social, mas também um lado moral, também nos ajuda a lidar com a dor. Somos péssimos a lidar com a dor fora da religião, diz-nos Alain de Botton, autor do best-seller Religião para Ateus.
Perante a dor e, especialmente, perante a morte, duas questões nos assaltam: “porquê?” e “para quê?”. Se para responder à primeira basta invocar a fragilidade humana, já a segunda abre a horizontes para além da finitude. Que sentido têm a dor e a morte para quem traz em si o desejo de viver e ser feliz?
Se não aceito a orientação para Deus como sentido norteador da vida, como poderei responder a estas questões, sem me deixar cair no vazio?
A apregoada “morte de Deus” conduz-nos a uma sociedade desumanizada. Com ela, diz o filósofo neomarxista alemão, Horkheimer, “eliminar-se-á o aspeto teológico, desaparecendo com ele do mundo aquilo a que chamamos “sentido”. Dominará, sem dúvida, uma grande comercialização, mas carente de sentido ”. O filósofo João Duque acrescenta que temos de “ regressar à questão de Deus, exigida pela questão do absoluto que nos salva. Falharam os substitutos e o ser humano continua, com razão e por amor de si mesmo, nostalgicamente à procura de um sentido absoluto, que não encontra no mundo que o rodeia, nem em si mesmo”.
A atualidade procurou esse “ absoluto” na atividade crítica, mas, continua João Duque,” a crítica absoluta transforma-se em algo corrosivo, que acaba por se moer a si mesma, originando apenas o niilismo total”. Procurou-o na ciência mas, apesar da sua excelência, “a ciência é limitada”, dizia o grande Einstein. Procurou-o na arte mas “o absoluto da arte exige um absoluto em que se integre o próprio artista”, diz Vergílio Ferreira. Procurou-o na política mas, diz Horkheimer, “a política que não contenha teologia não passará, no fim de contas, de um negócio, por mais hábil que seja”. Procurou-o na ética, mas, continua o mesmo autor, ”O positivismo não encontra nenhuma instância que transcenda os seres humanos, para poder distinguir entre a bondade e a crueldade, a avareza e a entrega de si meso… Tudo o que tem relação com a moral fundamenta-se, em definitivo, na teologia”.
A divinização dos substitutos de Deus faz-me recordar a estátua de Nabucodonosor, com cabeça de ouro e pés de barro. (Dan, 2, 31). Razão tinha Einstein ao afirmar que “o primeiro dever da inteligência é desconfiar de si mesma”.
Donde nos vêm esta necessidade do “sentido absoluto” que a todos inquieta? Só Deus, porque Absoluto, pode ser o seu autor. Como diz Santo Agostinho, “criaste-nos para Vós, Senhor…”.
Deus é a raiz mais profunda do sentido e da beleza da vida.
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