O Tanoeiro da Ribeira

quinta-feira, abril 25, 2013

A lembrar João XXIII

Aconteceu que, inesperadamente, a coragem, o calor humano, o bom humor e a bondade de João XXIII conquistaram o afeto de todo o mundo católico e a estima dos não-católicos. (…) Tinha uma fé inabalável em Deus, na presença contínua do Espírito Santo como guia da Igreja e uma abertura total ao diálogo com todos, sem dilações nem condições”. Estas palavras do meu primo Manuel Oliveira na palestra inaugural da “celebração do quinquagésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II”, no Colégio Português de Roma, referem-se ao bom Papa João, mas poderiam aplicar-se ao Papa Francisco. O novo papa tem gestos que me fazem recordar o que, na mesma comemoração do Colégio Português, disse monsenhor Crispino Valenziano: “vivemos então o novo Pentecostes”. Para o comprovar, contou dois episódios a que chamou as “intuições” de João XXIII. O primeiro aconteceu em 11 de setembro de 1962 em São João de Latrão. “Começou por dizer: daqui a um mês, reunir-nos-emos em Concílio e virão muitos… mas, repentinamente, num salto de pensamento sem nexo algum, disse: Lumen Christi e todos cantam: Deo gratias. Mas não só Lumen Christi, também Deo gratias, lumen ecclesiae. Deo gratias, lumen gentium… O que estava o papa a dizer? Não havia sintaxe. Tive a impressão clara de que estava a profetizar. Lumen Christi – lumen ecclesiae – lumen gentium. Depois retomou o discurso, como se estivesse a sair dum transe”. O segundo foi em 10 de outubro, na véspera da inauguração do Concílio. “Monsenhor Capovilla, secretário de João XXIII, conta que, quando surgiu a procissão das velas, o papa estava lá e observava tranquilamente. Então, disse-lhe: “Santidade, veja o que está na praça” ao que ele respondeu: “Não, não, não. Acabei. Acabou-se.” Depois, levantou-se, foi olhar no outro lado do apartamento que não dava para a Praça de S. Pedro, mas para o castelo de Sant’Angelo. De repente, abriu a janela: ”Filhinhos, filhinhos!” E recomeçou novamente este discurso sem sintaxe, um discurso sem sentido: Estamos. Nesta manhã. Irmão. Eu sou vosso irmão, mas um irmão que também se tornou pai. E verdadeiramente queiramos agradecer… devemos… mas fraternidade, paternidade e tudo em conjunto. E olhai também para a Lua, nesta noite, apressou-se… Entre estes dois sem-sentido, percebeu-se para onde o papa queria levar a Igreja”. O profeta anuncia novos horizontes de esperança mas nem sempre tem consciência do alcance das suas palavras e gestos. O Papa João, ao convocar o Concílio, certamente não previu os seus caminhos e o Papa Francisco nunca imaginaria a repercussão que iriam ter a sua apresentação e a saudação “Irmãos e irmãs, boa noite!”, após ser eleito. São intuições. Que os “ricos” da Igreja e do Mundo não impeçam esta “passagem do Espírito”...