O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, abril 24, 2013

“Terra de heróis e santos”- II

Em 23 de dezembro, o Público apresentou uma reportagem, de António Marujo, com o título: “O padre que foi de Leiria para Roma salvar judeus”. Na capa, dizia “Joaquim Carreira abrigou refugiados judeus e antifascistas nos longos meses de ocupação italiana pelas tropas nazis, nos anos 40”. - Quantos? – Cerca de meia centena. - Onde? - No Colégio Português de Roma de que era reitor. Fora um hipotético escândalo e as televisões tê-lo-iam dissecado até ao tutano. Assim... Para que se faça memória, a minha homenagem a este padre que confessou ter concedido “asilo e hospitalidade no colégio a pessoas que eram perseguidas na base de leis injustas e desumanas”. Salvou judeus da morte, como testemunhou um judeu italiano, “Estou-lhe muito grato e recordo sempre o facto de ele me ter salvo a vida”. Mereceria, por isso, o título de “justo entre as nações”, no Memorial de Jerusalém. O historiador D. Carlos Azevedo afirmou que “ele pode colocar-se ao lado de quem desobedeceu às autoridades desumanas por grandeza de alma, por obediência à consciência, correndo graves riscos”. Roma “via cada dia mais serem consumidas as suas reservas alimentares”. O P. Carreira, para que alunos e refugiados não passassem fome, ia à procura de comida, recorrendo aos moleiros que conhecia nos arredores de Roma: “o milho, cozido em grão, valia um bom bife”, conta ele. Apesar do espetro da fome, um refugiado recorda que “nunca faltou nada na mesa dos hóspedes clandestinos, graças ao sacrifício do padre Carreira”. Outro descreve o Colégio como um “oásis de serena espiritualidade, de alta intelectualidade e de afetuosa hospitalidade”. E quem eram estes refugiados? Um deles fala de “professores, estudiosos, comerciantes, militares, estudantes, judeus” que puderam experimentar o espírito altruísta do padre Carreira que “desafiou as ferozes leis de guerra alemãs e fascistas para ajudar os que estavam em perigo”. Termino referindo o testemunho do professor Mário Jacopetti. Num poema sobre a sua presença como refugiado no colégio português, menciona um nome que me despertou a atenção:“ Domingos de Pinho Brandão”. “Era ele que ensinava português (“a sonante língua de Camões”) aos refugiados”. É uma dimensão nova que desconhecia em D. Domingos e que muito me alegrou. Não é fácil resumir uma reportagem com 7 páginas de revista. Espero não ter desvirtuado o seu espírito. Acima de tudo, aconselho vivamente a leitura do texto integral. Valorizemos o que é nosso. Há dias, o embaixador português na Alemanha afirmou que “o único lugar do mundo em que se diz mal dos portugueses é em Portugal” e D. Manuel Monteiro de Castro confessou que o presidente do governo francês lhe disse “Olhe, aqui melhor gente que a portuguesa não temos”. Honremos os nossos heróis.