Como um rio...
“Ela doou-lhe um rim por amor. Para lá de uma bela história de amor sem nada a destacar além desse amor. “Porque gosto dele” É a verdade insofismável que deita por terra qualquer interrogação. Albertina tinha dois rins. (…) Amam-se como quem ama 35 anos e uma filha depois, qual era a dúvida? Nenhuma. Hoje, além de ter Albertina no coração, tem-na dentro dele, a dar-lhe vida. “Estou feliz…”, diz ela” (JN, 12/06/12)
Ao realçar este exemplar gesto de amor quero homenagear o heroísmo silencioso de muitos casais que enaltece a beleza do amor conjugal. Como são fortes as horas de sofrimento partilhado!...
Como um rio vai engrossando com as águas que vai recebendo, assim o amor do casal se vai enriquecendo ao longo da vida com filhos e amigos, triunfos e fracassos, dores e alegrias, quais “afluentes do silêncio”que nos vão moldando as margens. Quando ao alpinista João Garcia, depois de ter chegado ao cimo das mais altas montanhas da Terra, lhe foi perguntado se já nada mais tinha para subir, respondeu – “Tenho de subir as montanhas da vida”. O amor é essa conquista de cada dia. E, nesta escalada, é bom sentar, de vez em quando, para, em conjunto, admirar o caminho percorrido e ganhar forças para continuar. O casamento é, ainda, uma maratona com muitos obstáculos que é preciso vencer com elegância. Não é a paixão mas o amor apaixonado que alegra e fortalece o matrimónio. É como uma árvore que, quanto mais fundas as raízes, mais se agarra à terra e não há tempestade que a derrube. Os ramos que dão sombra e frutificam são os frutos da fecundidade do casal.
O casamento, como sacramento do amor, é a escada de Jacob que nos eleva até Deus. “ Via uma escada. (…) No alto estava o Senhor”. (Gn 28, 12)
Em síntese, podemos dizer que o amor conjugal se alimenta e expressa:
- na Solidariedade - nos momentos mais difíceis mas também nos atos mais comezinhos da vida, como quando um quer ver telenovela e outro um jogo de futebol… Saber abdicar sem teimosias nem subserviências, mas por assumidas cumplicidades é próprio de quem ama.
- no Companheirismo – Como é bom ter com quem possamos partilhar entusiasmos e desilusões. Alguém que vai a meu lado, não por sacrifício mas por carinho e disponível para me ouvir, sem recriminações ou paternalismos.
- no Agradecimento – Quem ama estima, cuida, acarinha, elogia e agradece. Somos fartos em queixumes e parcos em elogios. Sabemos exigir mas esquecemo-nos de agradecer. Somos fáceis em maldizer mas escassos em louvar. É bem verdade que as telhas encobrem muita coisa…
Deixo-vos com a poesia de Carlos Tê que Rui Veloso canta:
“Mas tu não ficaste, nem meia hora.
Não fizeste um esforço para gostar e foste embora.
Contigo aprendi uma grande lição.
Não se ama alguém que não houve a mesma canção”.
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