Um amigo é um tesouro
“3 semanas morto em casa onde vivia sozinho.” (JN, 30/7/12)
São muitas as notícias más que enchem os jornais. Mas notícias como esta doem de modo muito especial. Como foi possível? Não houve ninguém da família que desse pela sua ausência? E os vizinhos não se aperceberam? Vivemos em tempo de anonimato e de indiferença. É toda uma sociedade que é posta em causa. E mesmo as paróquias… Não será a “pastoral de vizinhança” uma das suas prioridades?
Morre só e abandonado quem, certamente, teve família, vizinhos, amigos. E onde para toda esta gente? Mais ainda, onde estão os antigos colegas de trabalho com quem partilhou alegrias e sofrimentos? Queixamo-nos de que os patrões esquecem os trabalhadores quando estes se reformam. Mas os colegas não fazem o mesmo? “Longe da vista, longe do coração”, diz e com razão o povo. Reformou-se, marginalizou-se, esqueceu-se. E há pessoas cuja vida se resumiu a casa - trabalho; trabalho - casa. A única convivência que tinham era com os colegas de emprego. Quando se reformam, fecham-se em casa. Perdem rotinas e referências. E definham rapidamente na solidão.
Numa sociedade em que quase só lhes resta o direito à mágoa e à indignação, os idosos não se podem deixar soçobrar no isolamento e no desânimo. A vida é dom de Deus. Tratá-la bem é sinal de respeito por Quem no-la oferece. E porque viver é conviver, não nos podemos fechar no nosso casulo.
Neste sentido, gostaria de apresentar a iniciativa de um grupo de professores aposentados duma determinada escola. Tudo é simples. Nada de inscrições ou justificações. O coordenador organiza todos os meses uma atividade de enriquecimento cultural e convívio e envia o convite para os endereços dos colegas do seu, sempre atualizado, banco de dados. Aparecem os que podem e querem. Quem falta não tem de se justificar. A liberdade é total. O encontro é aberto aos cônjuges. A reportagem fotográfica do acontecimento é depois mandada a todos, até aos que não participaram. Não são encontros nem de “bota abaixo” nem de nostalgia do tipo “no meu tempo é que era bom”. Vive-se o presente. E, do passado, só interessam as boas memórias. Sem lamentações. Mantêm vivo aquilo que a reforma não retira: a amizade que se foi criando ao longo de anos de trabalho conjunto. Desenferruja-se a língua e a mente. Desabafam-se mágoas e revoltas. Partilham-se ideias e esperanças. Como isto faz bem!...
O verão está a findar. A vida retoma o seu curso normal. Pesadelos não faltam, infelizmente. Se temos um amigo com quem não contactamos há já algum tempo, façamos um telefonema e, se possível, marquemos um encontro para avivar amizades. E por que não organizar convívios com antigos colegas de trabalho? “Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade” (Ecli,6,16).
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