A delicadeza surpreendente de um gesto
Há uns tempos atrás, teria o meu neto uns treze meses, tive, por motivos familiares, de o levar comigo à Missa. Apesar do esforço para o entreter e manter calado, ele, de vez em quando, entusiasmado com as luzes dos altares, dizia;”xaxux”e apontava para uma imagem que lhe ficava próxima. No final, fui à sacristia pedir desculpa ao celebrante pela possível perturbação. O pároco, com a simpatia que lhe conhecemos, respondeu: “pelo contrário, agora é tão raro ouvir um bebé na igreja que até me soube muito bem”. E a sorrir, perguntou: “onde está o meu concorrente?” E foi com muita ternura que lhe deu um beijo e colocou a mão sobre a sua cabeça num gesto de bênção que emocionou os avós e os pais agradeceram.
Esta atitude carinhosa fez-me lembrar um episódio que, há anos, vivi em Genebra, numa eucaristia dominical em que participei. Ao entrar na igreja, fiquei admirado por ver que muitos adultos se faziam acompanhar de crianças de tenra idade. No momento da comunhão, os casais, com os filhos/netos pela mão, aproximavam-se do altar. Reparei que as criancitas, que ainda não comungavam, regressavam com um sorriso no rosto e olhavam com alegria para a mãe/ avó. Fiquei surpreendido com este comportamento, porque as crianças, que acompanham os adultos e não comungam, costumam regressar de semblante triste e desconsolado.
Ao abeirar-me do altar, encontrei a explicação para aquele ar feliz. Vi que o sacerdote, depois de dar a comunhão aos adultos, fazia o sinal da cruz na fronte e uma leve carícia no rosto da criança que a esperava e recebia como se fosse um rebuçado. Não sei o que pensarão os liturgistas, mas eu fiquei encantado com a ternura deste gesto. Como ele poderá ajudar os pais a falar aos filhos da “ importância do sinal da cruz na manifestação do ser cristão” e da bondade do Jesus que disse ”Deixai vir a mim as criancinhas”(Mt 19,14)…
No final da missa, um casal explicou-me que a sua filhita de quatro anos, que os acompanhava, queria vir com eles à igreja só para receber aquela carícia e, durante a missa, aguardava, ansiosamente, o momento de os acompanhar ao altar.
Que coisa bonita! Como ela facilita a vida aos pais. E quão reveladora é do Amor de Deus que ora se manifesta na meiguice duma carícia ora na dádiva de Seu Filho. Se, como diz um hino litúrgico, Deus se “regozija e prolonga nas pequenas mãos humanas as suas poderosas mãos criadoras”, quanto se alegrará ao acariciar aquelas crianças com as mãos que oferecem em alimento o Seu próprio Filho! E como nos encheria de alegria ver as igrejas cheias de crianças.
É assim a grandeza dos pequenos gestos… A força criadora de quem ama e sabe ler os sinais dos tempos. É bem verdade que “Quem meus filhos beija minha boca adoça”.
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