O Tanoeiro da Ribeira

quinta-feira, março 29, 2012

Eu nasci para ser eterno

Este é o tempo da Paixão. A vida sorria-te. A natação no Porto e o andebol no Vigorosa deram-te uma forte compleição física. Apenas umas dores nas costas de origem desconhecida... Acabaras o curso, tinhas começado a trabalhar em clínicas veterinárias da Maia e de Espinho. No dia seguinte, teu irmão ia casar e tu eras o padrinho. Na véspera, tinhas animado a “festa de despedida de solteiro” que para ele, em segredo, organizaras. Era um dia de inverno. Ao fim da tarde, soubeste que tinhas um tumor maligno no ilíaco. E decidiste nada dizer para não estragar a festa do casamento. Nessa noite, durante o jantar com amigos, ainda tiveste forças para seres, como sempre, o animador com a piada certeira, com a espontaneidade do teu humor, com a alegria das tuas gargalhadas. No casamento, eras o padrinho feliz que sorria para os noivos. E, no almoço, sempre o teu bom humor… O teu rosto não deu sinais de tristeza.
A tua “via-sacra” passou por sucessivas sessões de Químio e Rádio no IPO do Porto; pelo Instituto Rizzoli em Bolonha com seis cirurgias; pelo Hospital Universitário de Lovaina na Bélgica; por visitas a especialistas de Barcelona e Londres; por incontáveis internamentos hospitalares de urgência.
No teu longo calvário, nunca se te ouviu uma palavra de revolta, um queixume. Nas horas de maior sofrimento, limitavas-te a dizer: “Estou cansado”. Nos tempos horríveis de Bolonha, rezavas o terço. Quando te sentias melhor, levavam-te à igreja onde participavas na Eucaristia. Aí, te ofereceram a medalha de Nª Senhora que, com o “tau franciscano”, sempre te acompanhou e levaste contigo. A “maca” era o altar do teu sacrifício.
Quando estavas internado, procuravas evitar trabalho aos que de ti cuidavam. E a todos dizias “obrigado”, com um sorriso. Havia sempre uma piada na ponta da língua, um piropo simpático para as funcionárias, enfermeiras e médicas da tua idade que te acarinhavam.
Na tua dor, não faltaram cireneus que te ajudaram a levar a cruz. Nunca esqueceste o Frei Alfredo que, todos os dias, te visitava no hospital de Bolonha e te falava do santo que tu gostavas de tratar simplesmente por Francisco. Quanto te ajudou a psicóloga que te acompanhou no IPO! Como te confortava o carinho do teu irmão e da tua cunhada! E quão preciosos foram os teus amigos!
Nunca desanimaste. Sempre povoaste de esperança os teus sonhos de futuro. Nós vamos vencer! Nas horas de maior sofrimento, era assim que rematavas as conversas. Mesmo quando já sabias que o fim estava próximo, nunca falaste da morte, mas sim da vida.
- Eu nasci para ser eterno? – Essa é a nossa Fé. – Então está bem. Obrigado.
E partiste para renasceres corpo ressuscitado. Já lá vão dois anos e o teu sorriso permanece vivo naqueles que te amam. Neste “vale de lágrimas”…