O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, janeiro 03, 2012

Salmos para rezar

Em 1988, visitei Pitões da Júnias e "desci até ao rio que vai escondido pelas margens de salgueiros e bétulas. De onde a onde, abre o seu coração em pequenas cascatas e pias límpidas de rocha nua. Tão belo! Bem lá no fundo as ruínas do mosteiro e o moinho dos monges coberto de colmo.”

E fiquei intrigado porque, enquanto o mosteiro jazia em total abandono, no moinho, havia sinais evidentes de recente utilização. Um pastor, que passava com a vezeira, informou-me que, no ano anterior, ali vivera o P. Telmo dos Gaiatos.


Para quê? - "Retiro? Desejo irreprimível, dum encontro comigo e com o Senhor?"


E no fim? "Na alma muita areia e caliça que a mó do moinho não conseguiu moer".

Abri a porta e ainda encontrei a "tarimba para o colchão e, no centro, a grande mó de granito. É o meu moinho! Nele cozinho, leio, rezo e falo com o Senhor!"


A mó era mesa e era altar.


"O Rio engrossou. O som da cachoeira é mais cavo. De todas as rochas e barrancos escorrem fios de prata.

Celebrei a Eucaristia no moinho.

A mó

Foi o Teu altar!

Tanto grão

Nela se fez farinha!

Saiu pão

Que de novo

Veio à mó

Adormecida;
Porque sobre ela

O converti

No Senhor da Vida!"

Há dias, ao visitar o P. Fontes, em Vilar de Perdizes, ele mostrou-me um livro e disse: - São salmos para rezar.
Sentado no velho escano ao calor da lareira, deliciei-me com os poemas e pensamentos que P. Telmo escrevera nos oito meses que viveu no moinho.
Porque fiquei maravilhado, apressei-me a oferecer-vos este convite que, para ser mais doce, polvilhei com citações do livro “Mourela o Rio e o Moinho do Mosteiro”.


Amigo, se puder, suba até à Mourela.


"Nua de arvoredo, sempre vestida de erva, urze e carqueja. Cumes e encostas em semicírculo convergem para as colinas e vales, no fundo dos quais se aninham os telhados vermelhos de Pitões das Júnias.


Cuidado com "a bosta das vacas, honradas e puras".


No “Café do Preto”, adquira o livro cujo produto vai inteirinho para os Gaiatos de Angola.


Desça até ao moinho.

Extasie-se:


"O tom azulado das montanhas! Cantam os pássaros! As ervas e as urzes largam, agradecidas, uma a uma, gotas de luz! Desce a encosta íngreme o chocalho solene duma vaca barrosã".


Bendiga:


"TEU silêncio, meu Deus

Me envolve

Neste anel de ternura!

Mistério infinito

Que cicia

Na solidão dos penedos

E na quietude profunda

Dos cumes;

Na flor da carqueja,

Na urze que viceja

E no som dos rios

Que vem lá do fundo

E é sangue a correr

Em cada veia

Desta imensidão!!! "


Reze:


"Senhor!

Quisera ser pedra

No alto do monte:

Quieta e muda

Banhada pelo Sol

Batida pela chuva

Varrida pelos ventos

Ou nuvens apressadas

E, nos dias de brancura,

Com os campos de neve

- para TE adorar! "


Tonifica os músculos, purifica os pulmões e faz muito bem à alma!