O Tanoeiro da Ribeira

segunda-feira, agosto 22, 2011

Passos de um calvário


Foram de sofrimento os caminhos que D. António Barroso percorreu por terras de Angola, Congo, Moçambique e Índia, mas o seu verdadeiro calvário começou era já Bispo do Porto.

1.º Passo - “Caso Calmon”- A filha do Cônsul do Brasil no Porto queria entrar para o convento mas era impedida pelo pai. A sua tentativa de fuga, em 1901- tinha 32 anos -, despoletou uma onda de anticlericalismo na rua e no Governo. Os bispos reagiram e D. António, o mais novo, foi escolhido para apresentar ao Rei uma mensagem a favor das ordens religiosas. Como rosto do episcopado, foi apupado na Universidade de Coimbra e os jacobinos mais assanhados não mais o deixaram em paz.

2.º - Exílio da Diocese – Com o advento da República em 1910, Afonso Costa começou a publicar legislação contra a Igreja. D. António escreveu-lhe, em 12 de Outubro, lembrando que as leis deveriam aguardar pela Assembleia Constituinte.
As iniciativas anti-religiosas continuaram e os bispos publicaram, em 24 de Dezembro, uma Pastoral Colectiva, revista por D. António Barroso. Afonso Costa deu ordem aos bispos para proibirem a sua leitura nas igrejas. D. António resistiu e só recomendou a suspensão na cidade do Porto. Enfurecido, Afonso Costa ordenou-lhe que se apresentasse em Lisboa a 7 de Março de 1911. No Rossio, foi insultado pelos carbonários que atacaram o seu carro à pedrada e à cacetada.
No Ministério, já o esperava a sentença do desterro que impunha a destituição das suas funções no Porto, a proibição de voltar ao território diocesano e, pelos serviços prestados nas Colónias, atribuía-lhe uma pensão que D. António nunca aceitou. Foi levado para o Colégio das Missões em Cernache do Bonjardim que teve de abandonar devido a uma sublevação. Em 10 de Junho, passou a viver em Remelhe.

3.º – Novo julgamento – Em 12 de Junho de 1913, é acusado em tribunal por se ter deslocado a Custóias, para ser padrinho em representação do Papa Pio X. Saiu absolvido.

4.ºNovo exílio - Regressado à Diocese em 1914, volta a ser condenado em 7 de Agosto de 1917. Nem a intercessão do Presidente Bernardino Machado impediu o seu desterro para Coimbra. Foi acusado, falsamente, de ter atentado contra a dissolução das ordens religiosas. Só a chegada de Sidónio Pais permitiu o seu regresso, em 20 de Dezembro.

5.º Passo - Morte – Morreu com apenas 63 anos, em 31 de Agosto do ano seguinte. “Todos estes abalos debilitaram o porte atlético e minaram a resistência física”.

O processo da sua beatificação foi introduzido em 1992. Procede-se, agora, ao reconhecimento de um milagre que lhe é atribuído.

Para saber mais sobre este venerável Homem da Igreja, aconselho a leitura do “Réu da República”, que citei neste texto.
Bem-aventurados sereis quando vos perseguirem por causa de mim” Mt 5,11.