O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, junho 07, 2011

Silêncios que falam





O Verão está à porta. As esplanadas das praias começam a encher-se. Há dias, estive numa. Na mesa ao lado, um jovem casal de namorados. Conversavam um com outro? - Não. – Contemplavam a beleza do mar que quase lhes beijava os pés? – Não. Partilhavam a emoção silenciosa de se olharem? – Não. O que faziam, então? - Enquanto a rapariga mantinha uma longa conversa ao telemóvel, o rapaz escrevia e enviava mensagens. Ignoravam-se pura e simplesmente. Cada um estava no seu mundo.





Nem partilha de palavras nem comunhão de silêncios.






Sem querer generalizar, julgo poder afirmar que o mesmo acontece nas famílias. Lembro um amigo que, no último Natal, na consoada com os filhos e os netos, ao ver como todos se dispersavam por emails de computadores e sms de telemóveis, desabafou: que viemos aqui fazer? Isto não é uma família, é um arquipélago onde cada um vive isolado do outro.










O que mais importa não são tanto as horas que passamos juntos, mas o modo como interagimos. Urge encontrar espaços, tempos e temas comuns. Se não, a casa deixa de ser a morada da família e transforma-se numa simples pensão onde se vai para comer e dormir.






Como escreveu Jorge Cunha, a incarnação é palavra e é silêncio. A palavra e o silêncio implicam-se mutuamente: o silêncio antecede e sucede à palavra, o silêncio transporta a palavra. Em Deus, o silêncio é palavra.





Para a comunicação ser completa precisa de palavras e de pausas silenciosas. Muitas vezes, evita-se o silêncio porque ele pode tornar-se perigoso ao possibilitar perguntas indesejáveis e embaraçosas. Tive um professor que, nas provas orais, não interrompia o aluno enquanto ele falasse. Sabendo isso, íamos preparados para não nos calarmos durante os quinze minutos da prova, e, assim, evitarmos perguntas sobre matérias que não dominávamos. Também quando alguém teme que lhe invadam a privacidade absorve o tempo a falar de banalidades.










As palavras tanto podem servir para revelar como para encobrir o que nos vai na alma. Meu pai, para elogiar alguém, costumava dizer: ele quando fala conversa. Hoje, muito se fala e tão pouco se conversa. Grassa uma preocupante poluição de palavras. E os telemóveis dão grande contributo a esta vacuidade comunicacional.






Se hoje se banalizou a palavra também se perdeu o valor do silêncio.
No “Rio das Flores” de Miguel Sousa Tavares, diz-se que o melhor que uma amizade tem é a partilha do silêncio e uma lenda judaica afirma que amigo é aquele que, no seu silêncio, escuta o silêncio do outro.










Como é importante ouvir e partilhar o silêncio do e com o outro! Há momentos em que as palavras estão a mais. Quão fecundo, então, pode ser um simples olhar!





Os silêncios também conversam…