HOMENAGEM A UM AMIGO
Um amigo de longos e cruzados caminhos partiu... para ficar ainda mais íntimo.
Dessa memória quero aqui realçar dois poemas que irei transcrever: "REQUIEM POR MINHA MÃE MORTA" e "PARA O PAI JOÃO, PARA A MÃE ANA, PARA OS FILHOS JOSÉ E JOÃO"
REQUIEM POR MINHA MÃE MORTA
Foi com emoção que, a pedido do Doutor Brito, li este poema, na Missa do funeral de sua mãe, na igreja de Irivo, Penafiel, no dia 18 de Maio de 2006.
Publicou-o no jornal “Voz Portucalense”, no dia 31 de Maio de 2006.
A transcrição que aqui apresento foi feita a partir dessa publicação em texto corrido. A divisão dos versos poderá não estar de acordo com o original que, de momento, desconheço, mas corresponde ao ritmo da minha leitura no funeral que teve a aprovação do seu autor.
Requiem pela minha mãe morta
São oitenta e nove rosas,
ó Rosa,
que murcharam
e caíram desmaiadas no teu regaço.
São perfumes de uma vida,
ó mãe,
que se evaporaram no espaço.
São afectos de ternura em volúpias pelo ar.
São gotas de orvalho
neste dia cinzento de Primavera contrafeita.
São anjos celestes
pegando em ti com suas asas protectoras.
São velas ao vento
que sopra dos céus.
São círios ardendo
a alumiar os pascais caminhos
labirínticos da morte.
São rosas,
ó Rosa,
mas eriçadas de espinhos.
Vão-se as pétalas
e ficamos sozinhos.
Sem ti,
ó mãe,
a vida é um deserto ressequido.
Crescem ervas ruins
onde outrora havia jardins.
Não vás demasiado longe nessa tua viagem,
ó mãe,
para que não se dissipe a tua imagem…
Queremos ainda brincar de novo
no teu colo.
Manda-nos outra vez para a escolinha,
ó Rosa das rosas,
de sacola de serapilheira à tiracolo.
Manda-nos outra vez aprender no catecismo
os últimos fins do homem:
morte, juízo, inferno ou paraíso.
É este o jardim que escolhemos para ti.
Que Mozart reescrevera para nós um Requiem
com solistas, coros e orquestra.
Que Palestrina nos faça esquecer
o doloroso trágico desta hora.
Que Berlioz com sua Grand-Messe des morts
te acompanhe à eterna beatitude.
Que Querubins e Serafins abram alas à tua passagem,
porque és a rosa mais perfumada
que encontrei nestes jardins,
que teus filhos e amigos
regam com lágrimas
para que não desbotem nas tuas mãos
e perfumem
o tesouro sagrado da tua memória.
FERREIRA DE BRITO
PARA O PAI JOÃO, PARA A MÃE ANA, PARA OS FILHOS JOSÉ E JOÃO 1.
Considerámos que este poema que o amigo Brito nos ofereceu aquando da morte do nosso filho Zé,e de que ele muito gostava, merecia um enquadramento que não desmerecesse da sua beleza. Pedimos às irmãs carmelitas do Carmelo de Bande para, com ele, fazer uma iluminura.
No dia 27 de Janeiro, dia dO seu aniversário natalício, fomos a sua casa mostrar-lhe a iluminura. Já estava muito mal (faleceu no dia 30). No seu rosto brilhou ainda aquele sorriso com que sempre nos brindou. Resta-nos a consolação deste, se não o último, dos últimos dos seus sorrisos.
Este poema foi publicado na Voz Portucalense no dia 17 de Fevereiro de 2010.
Não deplores ó Ana,
Com a tua voz aguda e dorida
O decurso magoado desta vida
João, jovem bondoso e de Fé
Não chores que as tuas mãos estão unidas
Juntinhas com as do Zé
São duas guaritas em forma de Cruz
bonitas
Eu clamei pela Ana,
E a Ana não me falou
Ó Ana, ó Ana
Senhora, minha Mãe, já vou
E uma pomba branca de mansinho esvoaçou
No vosso coração fez um ninho
com macias felgas,
Com muito carinho
Acompanhando à eternidade
quem anda triste,
mas não anda sozinho.
Para os filhos, pais e irmãos aqui vai
Aqui fica o nosso doloroso testamento,
Que não o leve o vento
Mesmo que tenhamos vontade infinita de chorar
Ergamos as mãos e vamos rezar…
Uma lição de vida no leito de morte…
3 de Fevereiro de 2010
FERREIRA DE BRITO NOTAS
Dessa memória quero aqui realçar dois poemas que irei transcrever: "REQUIEM POR MINHA MÃE MORTA" e "PARA O PAI JOÃO, PARA A MÃE ANA, PARA OS FILHOS JOSÉ E JOÃO"
REQUIEM POR MINHA MÃE MORTA
Foi com emoção que, a pedido do Doutor Brito, li este poema, na Missa do funeral de sua mãe, na igreja de Irivo, Penafiel, no dia 18 de Maio de 2006.
Publicou-o no jornal “Voz Portucalense”, no dia 31 de Maio de 2006.
A transcrição que aqui apresento foi feita a partir dessa publicação em texto corrido. A divisão dos versos poderá não estar de acordo com o original que, de momento, desconheço, mas corresponde ao ritmo da minha leitura no funeral que teve a aprovação do seu autor.
Requiem pela minha mãe morta
São oitenta e nove rosas,
ó Rosa,
que murcharam
e caíram desmaiadas no teu regaço.
São perfumes de uma vida,
ó mãe,
que se evaporaram no espaço.
São afectos de ternura em volúpias pelo ar.
São gotas de orvalho
neste dia cinzento de Primavera contrafeita.
São anjos celestes
pegando em ti com suas asas protectoras.
São velas ao vento
que sopra dos céus.
São círios ardendo
a alumiar os pascais caminhos
labirínticos da morte.
São rosas,
ó Rosa,
mas eriçadas de espinhos.
Vão-se as pétalas
e ficamos sozinhos.
Sem ti,
ó mãe,
a vida é um deserto ressequido.
Crescem ervas ruins
onde outrora havia jardins.
Não vás demasiado longe nessa tua viagem,
ó mãe,
para que não se dissipe a tua imagem…
Queremos ainda brincar de novo
no teu colo.
Manda-nos outra vez para a escolinha,
ó Rosa das rosas,
de sacola de serapilheira à tiracolo.
Manda-nos outra vez aprender no catecismo
os últimos fins do homem:
morte, juízo, inferno ou paraíso.
É este o jardim que escolhemos para ti.
Que Mozart reescrevera para nós um Requiem
com solistas, coros e orquestra.
Que Palestrina nos faça esquecer
o doloroso trágico desta hora.
Que Berlioz com sua Grand-Messe des morts
te acompanhe à eterna beatitude.
Que Querubins e Serafins abram alas à tua passagem,
porque és a rosa mais perfumada
que encontrei nestes jardins,
que teus filhos e amigos
regam com lágrimas
para que não desbotem nas tuas mãos
e perfumem
o tesouro sagrado da tua memória.
FERREIRA DE BRITO
PARA O PAI JOÃO, PARA A MÃE ANA, PARA OS FILHOS JOSÉ E JOÃO 1.
Considerámos que este poema que o amigo Brito nos ofereceu aquando da morte do nosso filho Zé,e de que ele muito gostava, merecia um enquadramento que não desmerecesse da sua beleza. Pedimos às irmãs carmelitas do Carmelo de Bande para, com ele, fazer uma iluminura.
No dia 27 de Janeiro, dia dO seu aniversário natalício, fomos a sua casa mostrar-lhe a iluminura. Já estava muito mal (faleceu no dia 30). No seu rosto brilhou ainda aquele sorriso com que sempre nos brindou. Resta-nos a consolação deste, se não o último, dos últimos dos seus sorrisos.
Este poema foi publicado na Voz Portucalense no dia 17 de Fevereiro de 2010.
Não deplores ó Ana,
Com a tua voz aguda e dorida
O decurso magoado desta vida
João, jovem bondoso e de Fé
Não chores que as tuas mãos estão unidas
Juntinhas com as do Zé
São duas guaritas em forma de Cruz
bonitas
Eu clamei pela Ana,
E a Ana não me falou
Ó Ana, ó Ana
Senhora, minha Mãe, já vou
E uma pomba branca de mansinho esvoaçou
No vosso coração fez um ninho
com macias felgas,
Com muito carinho
Acompanhando à eternidade
quem anda triste,
mas não anda sozinho.
Para os filhos, pais e irmãos aqui vai
Aqui fica o nosso doloroso testamento,
Que não o leve o vento
Mesmo que tenhamos vontade infinita de chorar
Ergamos as mãos e vamos rezar…
Uma lição de vida no leito de morte…
3 de Fevereiro de 2010
FERREIRA DE BRITO NOTAS

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