Em homenagem às gentes do campo
Aconteceu em Soalhães, no passado dia 20 de Outubro. O dobre a finados, que se alongara pelas quebradas dos montes, anunciava a morte de um “freguês” (filho da Igreja) e convidava para o seu funeral. E as pessoas vieram, a maioria muito alquebrada pelos anos, vários com o apoio de bengalas e mesmo em cadeira de rodas. E a igreja paroquial encheu-se.
Quem morrera? Quem juntara ali toda aquela gente? Um senhor da “Casa da Quintã? Uma pessoa influente? - Não. Foi a tia Maria da Venda da Giesta, um mulher do campo que passara a vida a guardar vacas e ovelhas, a cuidar de umas magras “leiritas” e a tratar das lides domésticas. Mulher modesta, pobre nos haveres, mas rica na bondade do coração, nas palavras mansas e no sorriso que, mesmo nas horas mais duras da doença, partilhava com toda a gente. Que o digam os que com ela privaram e que tão bem a trataram no lar da Santa Casa da Misericórdia do Marco.
E quem eram aquelas pessoas que, com sacrifício, deixaram as suas casas, interromperam o trabalho e vieram acompanhar a vizinha ao seu último repouso?
Na casa mortuária, vi os rostos tisnados da maioria e apertei-lhes as mãos rugosas, ásperas, mãos calejadas pelo cabo da enxada e pela rabiça do arado. Gente digna que não vive à custa do suor alheio, e, quantas vezes, “come o pão que o diabo amassou”. Trabalho que urge o Estado incentivar e a sociedade valorizar. Lembrei-me, então, da homilia que, há anos, ouvira, em S. Martinho de Campo, ao saudoso Pe. Torres Maia, no funeral dum criado de lavoura. Em homenagem às gentes do campo e a todos os que, com o seu trabalho, colaboram ou colaboraram com Deus na renovação da terra, deixo-vos com alguns excertos desse belo poema:
Estes homens do campo passaram uma vida em contacto com a natureza, magoando os pés na fraga e tisnando o rosto ao sol, no calor da eira, escorrendo suor na hora da canícula ou tiritando e sacudindo as mãos geladas, a cortar mato, pela solidão dos montes e no silêncio das cavadas.
Como foram dignos ao comer o seu pão, tantas vezes amargo, na incompreensão injusta da sociedade.
Vivendo ao ritmo da natureza, espreitando o sol e a chuva da vidraça da janela, o trabalhador agrícola está na dependência do tempo atmosférico e sereno para aceitar a intempérie. Ele é, sobretudo, o homem que põe a sua vida nas mãos de Deus.
Felizes aqueles que conservarem pela vida fora um coração simples e uma fé robusta e temperada como a alma do homem da lavoura e que não se deixaram engolfar pela vaidade, o orgulho, a ambição!
Todo o trabalho honesto dignifica o homem e fá-lo participante da acção criadora de Deus, mas o trabalhador do campo, ao alegrar-se com o desabrochar das sementes que lançou à terra e com o frutificar das árvores que plantou, sente-se mais próximo de Criador que “colocou o homem no jardim do Éden, para o cultivar e guardar.” (Gn. 2,15).
Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o reino dos céus”. “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.” (Mt 5,3,5)
Quem morrera? Quem juntara ali toda aquela gente? Um senhor da “Casa da Quintã? Uma pessoa influente? - Não. Foi a tia Maria da Venda da Giesta, um mulher do campo que passara a vida a guardar vacas e ovelhas, a cuidar de umas magras “leiritas” e a tratar das lides domésticas. Mulher modesta, pobre nos haveres, mas rica na bondade do coração, nas palavras mansas e no sorriso que, mesmo nas horas mais duras da doença, partilhava com toda a gente. Que o digam os que com ela privaram e que tão bem a trataram no lar da Santa Casa da Misericórdia do Marco.
E quem eram aquelas pessoas que, com sacrifício, deixaram as suas casas, interromperam o trabalho e vieram acompanhar a vizinha ao seu último repouso?
Na casa mortuária, vi os rostos tisnados da maioria e apertei-lhes as mãos rugosas, ásperas, mãos calejadas pelo cabo da enxada e pela rabiça do arado. Gente digna que não vive à custa do suor alheio, e, quantas vezes, “come o pão que o diabo amassou”. Trabalho que urge o Estado incentivar e a sociedade valorizar. Lembrei-me, então, da homilia que, há anos, ouvira, em S. Martinho de Campo, ao saudoso Pe. Torres Maia, no funeral dum criado de lavoura. Em homenagem às gentes do campo e a todos os que, com o seu trabalho, colaboram ou colaboraram com Deus na renovação da terra, deixo-vos com alguns excertos desse belo poema:
Estes homens do campo passaram uma vida em contacto com a natureza, magoando os pés na fraga e tisnando o rosto ao sol, no calor da eira, escorrendo suor na hora da canícula ou tiritando e sacudindo as mãos geladas, a cortar mato, pela solidão dos montes e no silêncio das cavadas.
Como foram dignos ao comer o seu pão, tantas vezes amargo, na incompreensão injusta da sociedade.
Vivendo ao ritmo da natureza, espreitando o sol e a chuva da vidraça da janela, o trabalhador agrícola está na dependência do tempo atmosférico e sereno para aceitar a intempérie. Ele é, sobretudo, o homem que põe a sua vida nas mãos de Deus.
Felizes aqueles que conservarem pela vida fora um coração simples e uma fé robusta e temperada como a alma do homem da lavoura e que não se deixaram engolfar pela vaidade, o orgulho, a ambição!
Todo o trabalho honesto dignifica o homem e fá-lo participante da acção criadora de Deus, mas o trabalhador do campo, ao alegrar-se com o desabrochar das sementes que lançou à terra e com o frutificar das árvores que plantou, sente-se mais próximo de Criador que “colocou o homem no jardim do Éden, para o cultivar e guardar.” (Gn. 2,15).
Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o reino dos céus”. “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.” (Mt 5,3,5)
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