O futebol e a festa…
O futebol é desporto, é economia, é festa. É tudo isso e mais ainda... Vimo-lo no Campeonato do Mundo. Ouvimos a ministra francesa do Desporto dizer aos seus jogadores “ foi a imagem da França que vocês mancharam” e tememos pelo futuro da França multiétnica Ouvimos catalães, galegos, bascos, embrulhados em bandeiras espanholas, gritar”E Viva Espanha!” E o Rei desta Espanha Unida recebeu, no seu Palácio Real, os novos símbolos do orgulho espanhol.
E salta a pergunta: donde vem esta força?
-O futebol é um espectáculo maravilhoso e dramático. Maravilhoso porque permite uma fuga à monotonia do quotidiano e suscita uma experiência de tipo religioso em que os jogadores são os “deuses da bola”, os “gigantes” dos novos tempos. Dramático porque satisfaz a necessidade de emoções fortes e imprevisíveis onde o desfecho é ignorado pelos próprios actores. A linguagem desportiva, de cariz poético, possibilita o sonho e a evasão. Como festa, o futebol situa-se num tempo que se suspende fora do tempo. É o “eterno ontem” que se torna presente. Os adeptos falam das vitórias passadas como se elas acabassem de acontecer…
- É uma celebração da vida numa verdadeira liturgia do mundo. No centro está a bola, símbolo cosmológico por excelência, o altar é o rectângulo do jogo, os ministros do culto são os jogadores, os árbitros são os mestres de cerimónia E a assistência participa em cada rito com bandeiras, cânticos e gestos colectivos. Não é por acaso que alguns estádios viraram “catedrais” e alguns dirigentes “papas”! São celebrações que reactualizam o combate primordial. Tornam presente o conflito eterno entre o bem e o mal, a morte e vida. “É o mata-mata”. E a assistência projecta-se nos seus heróis. Grita com as vitórias, chora com as derrotas. As selecções nacionais são a incarnação da alma de um povo que se ufana ou se deprime. E quanto mais chauvinista maior a reacção.
- Como festa, gera estados de orgia, de excessos e desregramentos. O futebol, ao ritualizar a violência, poderá ajudar a sublimar os impulsos violentos das pessoas e das comunidades. Assume uma função catártica. Descarregamos, simbolicamente, sobre os adversários, sobre os árbitros, todas as nossas frustrações. O pior acontece quando o ritual é abandonado e o futebol se transforma num espectáculo degradante de violência gratuita e impune.
- É um sinal da necessidade que o homem sente de projectar-se na transcendência, de pintar o futuro de esperança. Veja-se o entusiasmo dos adeptos no início de cada época…
-É um rito que realiza um mito. A actual ruptura com o mito religioso da paz original abre o futebol a outros mitos, a outras sacralizações, mesmo as mais perigosas como a xenofobia, o racismo e o hooliganismo. E o futebol deixa de ser festa para ser terror.
Transcrevo um excerto da conclusão de ”Futebol. A grande festa dos tempos modernos”, de António da Silva Costa, professor do FCDEF -Universidade do Porto - que esteve subjacente às minhas reflexões: “ O futebol mostra que, quando a sociedade moderna quer, através duma festa permanente e sem limites espaciais, transformar a terra num paraíso, isto não é mais que o resultado duma nostalgia definitivamente perdida. A verdadeira festa e o paraíso com que o homem continua a sonhar é preciso procurá-lo no além. Por enquanto, é o tempo do jogo.”
E salta a pergunta: donde vem esta força?
-O futebol é um espectáculo maravilhoso e dramático. Maravilhoso porque permite uma fuga à monotonia do quotidiano e suscita uma experiência de tipo religioso em que os jogadores são os “deuses da bola”, os “gigantes” dos novos tempos. Dramático porque satisfaz a necessidade de emoções fortes e imprevisíveis onde o desfecho é ignorado pelos próprios actores. A linguagem desportiva, de cariz poético, possibilita o sonho e a evasão. Como festa, o futebol situa-se num tempo que se suspende fora do tempo. É o “eterno ontem” que se torna presente. Os adeptos falam das vitórias passadas como se elas acabassem de acontecer…
- É uma celebração da vida numa verdadeira liturgia do mundo. No centro está a bola, símbolo cosmológico por excelência, o altar é o rectângulo do jogo, os ministros do culto são os jogadores, os árbitros são os mestres de cerimónia E a assistência participa em cada rito com bandeiras, cânticos e gestos colectivos. Não é por acaso que alguns estádios viraram “catedrais” e alguns dirigentes “papas”! São celebrações que reactualizam o combate primordial. Tornam presente o conflito eterno entre o bem e o mal, a morte e vida. “É o mata-mata”. E a assistência projecta-se nos seus heróis. Grita com as vitórias, chora com as derrotas. As selecções nacionais são a incarnação da alma de um povo que se ufana ou se deprime. E quanto mais chauvinista maior a reacção.
- Como festa, gera estados de orgia, de excessos e desregramentos. O futebol, ao ritualizar a violência, poderá ajudar a sublimar os impulsos violentos das pessoas e das comunidades. Assume uma função catártica. Descarregamos, simbolicamente, sobre os adversários, sobre os árbitros, todas as nossas frustrações. O pior acontece quando o ritual é abandonado e o futebol se transforma num espectáculo degradante de violência gratuita e impune.
- É um sinal da necessidade que o homem sente de projectar-se na transcendência, de pintar o futuro de esperança. Veja-se o entusiasmo dos adeptos no início de cada época…
-É um rito que realiza um mito. A actual ruptura com o mito religioso da paz original abre o futebol a outros mitos, a outras sacralizações, mesmo as mais perigosas como a xenofobia, o racismo e o hooliganismo. E o futebol deixa de ser festa para ser terror.
Transcrevo um excerto da conclusão de ”Futebol. A grande festa dos tempos modernos”, de António da Silva Costa, professor do FCDEF -Universidade do Porto - que esteve subjacente às minhas reflexões: “ O futebol mostra que, quando a sociedade moderna quer, através duma festa permanente e sem limites espaciais, transformar a terra num paraíso, isto não é mais que o resultado duma nostalgia definitivamente perdida. A verdadeira festa e o paraíso com que o homem continua a sonhar é preciso procurá-lo no além. Por enquanto, é o tempo do jogo.”
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