O Tanoeiro da Ribeira

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Ecos de um texto

É sempre com muito gosto que acolhemos ressonâncias de textos que publicamos. Foi o que aconteceu com o artigo “Um Bispo que incomodou Salazar”. Alguém nos telefonou a dizer que, no Lar da Misericórdia de Gaia, vivia uma senhora que conhecera D. Sebastião Soares de Resende e gostaria de falar com o autor do referido artigo.
Telefonei e fui atendido por uma voz fresca e bem timbrada com quem combinei encontrar-me na tarde do dia seguinte.
Minha mulher comprou-me uma flor para oferecer à senhora: as mulheres estão mais atentas aos pequenos pormenores que, por vezes, nos escapam e dão beleza à vida.
À hora marcada, compareci no Lar Tavares Bastos, na Madalena, da Santa Casa da Misericórdia de Gaia. Esperava-me uma casa airosa, que fora residência da família que doara a quinta à Misericórdia. O sol entrava pelas amplas janelas, iluminava e aquecia todo o edifício naquela tarde de inverno. Tudo cheirava a limpo e asseado. É uma casa onde dá gosto viver.



Logo à entrada, esperava-nos a D. Adriana Pereirinha, muito bem vestida: a cor da camisola combinava muito bem com o colar que lhe enfeitava o pescoço. Foi com um sorriso que nos acolheu e conduziu ao gabinete da Directora do Lar, Drª Dália Esteves, com quem nos demoramos numa simpática e interessante conversa sobre o nosso Jornal e a quem agradeço a amabilidade de ter oferecido uma sala para o nosso encontro com a D. Adriana.
Falou-nos dos 22 nos que viveu em Moçambique. Foi aí que conheceu D. Sebastião. Particularmente, conversou com ele três vezes. A primeira, aconteceu em Angónia, aonde D. Sebastião se deslocou para a bênção dos sinos oferecidos à Missão. A segunda foi, em Tete (em 1964?) na inauguração do “Lar da Criança de Tete”, um grande edifício, junto ao Hospital. Fizera parte do pequeno grupo de 7 ou 8 senhoras que arranjou dinheiro para a construção e criação do lar. Havia brilho nos seus olhos quando falava das “fardinhas” que confeccionou para as crianças usarem no dia da inauguração. A última vez foi num banquete no palácio do Governador. Teve a dita de ficar sentada ao lado direito do Senhor Bispo. Quando soube que ela era natural da Madalena em Gaia, o tema da conversa virou para a sua terra, Milheirós de Poiares, e os donos da “Fàbrica do Carvalhinho”, nas Devesas, que ambos conheciam.
Com quem tinha uma grande amizade era com o Dr. António Brás, sobrinho (?) do Senhor Bispo. Era médico da Companhia Colonial do Buzi, na Beira, onde ela e seu marido eram funcionários. Foi ele que a assistiu no nascimento do seu 2º filho e ela, por sua vez, fora explicadora do seu filho Zezinho.
D. Adriana concluiu: o Senhor Bispo era uma boa figura, alto, elegante. Conversava calmamente, não fazia acepção de pessoas, tanto falava com ricos como com pobres, com brancos e com os negros. Era uma pessoa muito modesta, sem vaidades. Prova disso foi a sua última vontade: quis ser enterrado numa simples campa rasa, no caminho central do cemitério da Beira para que todos pudessem passar por cima dele. A sua campa diz: “Sebastião, primeiro Bispo da Beira”.