O Eu e o Nós no casamento
Há dias ouvi comparar o casamento ao encontro de dois rios que, depois de longo percurso solitário, fundem suas águas.
Amante de geografia desde os tempos em que fui aluno do P. Delfim, lembrei-me de três situações diferentes.
Na tarde do trágico dia 4 de Março de 2001, estive parado na ponte Hintze Ribeiro. Lá em baixo, as águas límpidas do Tâmega ainda procuravam resistir, mas, rapidamente eram engolidas pelas águas barrentas e tumultuosas do Douro. A partir daí, o Tâmega anula-se e só o Douro existe.
Quando, pela primeira vez, passei em Espanha a norte de Trás-os-Montes, procurei o rio Tua e apenas encontrei o Tuela. Soube, depois, que só após a confluência dos rios Tuela e Rabaçal é que o Tua ganha nome, em resultado da anulação dos primeiros.
Ao passear por Mora no Alto-Alentejo, procurei o rio Sorraia e o que encontrei foi a ribeira de Sor e a da Raia. As duas, ao confluírem, engrossam e formam um rio que aglutina os seus nomes: Sor + Raia = Sorraia.
Embora toda a comparação seja redutora, podemos perguntar-nos: qual destas situações se aproxima mais do que deve ser a vida conjugal? No casamento, também poderemos falar em fusão, como nas águas de um rio?
Paulo VI, no Discurso às Equipas de Nossa Senhora, dizia: “O dom de facto não é uma fusão. Cada personalidade permanece distinta e, longe de se dissolver no dom mútuo, afirma-se e afina-se, cresce ao longo da vida conjugal”.
A Comunidade matrimonial não é uma fusão mas uma comunhão de duas pessoas distintas. Perante a esposa/ marido, tenho de ter consciência que estou face a um ser original e único. Não podemos transformar-nos em clones um do outro nem aniquilarmo-nos mutuamente. O casamento é uma comunidade de pessoas unidas por um amor que, enriquecendo o Eu de cada um, dá vida ao Nós conjugall. A essência da vida em casal é o Amor, mas a sua prática é a solidariedade. Esta gera a compreensão e a partilha.
Carl Whitaker, citado por Daniel Sampaio, dizia que a patologia do casamento derivava do facto de dois indivíduos se tornarem num só, desaparecendo num nós, daí resultando uma maciça repressão das necessidades individuais. O processo de aprender a amar e de como fazer parte de um nós sem autodestruição é um projecto a longo prazo. Começa com a aprendizagem do saber amar-se a si próprio, depois aprender a amar uma pessoa parecida consigo mesmo, em seguida progride para a coragem de amar alguém diferente e continua para saber como tolerar tudo o que somos, o que deve incluir a relação com um outro significativo. Então o casamento deixa de ser uma adopção bilateral para se tornar num verdadeiro trabalho de equipa. A relação entre a contínua descoberta de si próprio e a construção do espaço a dois deve ser o caminho a seguir.”
Amante de geografia desde os tempos em que fui aluno do P. Delfim, lembrei-me de três situações diferentes.
Na tarde do trágico dia 4 de Março de 2001, estive parado na ponte Hintze Ribeiro. Lá em baixo, as águas límpidas do Tâmega ainda procuravam resistir, mas, rapidamente eram engolidas pelas águas barrentas e tumultuosas do Douro. A partir daí, o Tâmega anula-se e só o Douro existe.
Quando, pela primeira vez, passei em Espanha a norte de Trás-os-Montes, procurei o rio Tua e apenas encontrei o Tuela. Soube, depois, que só após a confluência dos rios Tuela e Rabaçal é que o Tua ganha nome, em resultado da anulação dos primeiros.
Ao passear por Mora no Alto-Alentejo, procurei o rio Sorraia e o que encontrei foi a ribeira de Sor e a da Raia. As duas, ao confluírem, engrossam e formam um rio que aglutina os seus nomes: Sor + Raia = Sorraia.
Embora toda a comparação seja redutora, podemos perguntar-nos: qual destas situações se aproxima mais do que deve ser a vida conjugal? No casamento, também poderemos falar em fusão, como nas águas de um rio?
Paulo VI, no Discurso às Equipas de Nossa Senhora, dizia: “O dom de facto não é uma fusão. Cada personalidade permanece distinta e, longe de se dissolver no dom mútuo, afirma-se e afina-se, cresce ao longo da vida conjugal”.
A Comunidade matrimonial não é uma fusão mas uma comunhão de duas pessoas distintas. Perante a esposa/ marido, tenho de ter consciência que estou face a um ser original e único. Não podemos transformar-nos em clones um do outro nem aniquilarmo-nos mutuamente. O casamento é uma comunidade de pessoas unidas por um amor que, enriquecendo o Eu de cada um, dá vida ao Nós conjugall. A essência da vida em casal é o Amor, mas a sua prática é a solidariedade. Esta gera a compreensão e a partilha.
Carl Whitaker, citado por Daniel Sampaio, dizia que a patologia do casamento derivava do facto de dois indivíduos se tornarem num só, desaparecendo num nós, daí resultando uma maciça repressão das necessidades individuais. O processo de aprender a amar e de como fazer parte de um nós sem autodestruição é um projecto a longo prazo. Começa com a aprendizagem do saber amar-se a si próprio, depois aprender a amar uma pessoa parecida consigo mesmo, em seguida progride para a coragem de amar alguém diferente e continua para saber como tolerar tudo o que somos, o que deve incluir a relação com um outro significativo. Então o casamento deixa de ser uma adopção bilateral para se tornar num verdadeiro trabalho de equipa. A relação entre a contínua descoberta de si próprio e a construção do espaço a dois deve ser o caminho a seguir.”
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