A Mestra Maruja
Rezei-lhe no “Dia de Todos-os-Santos”. Nunca soube o seu nome, nem a idade, nem o estado. Era apenas a “Mestra Maruja”. Ensinou a doutrina a muitas gerações que lhe queriam como uma segunda mãe. E mãe não tem nome.
Ainda eu não andava na escola e já ia à doutrina. Magra e de rosto seráfico, acolhia-nos num salão de terra batida sem mesas nem bancos. Serviam-nos de assento alguns molhos de “erguiço” (caruma). Também não havia livros nem cadernos. Num ensino meramente oral, a mestra dizia e nós repetíamos em coro ritmado: “Deus é um ser infinitamente perfeito… nosso legislador e remunerador”. Não havia separação de géneros, como hoje se diz, pois até partilhávamos os mesmos feixes para nos sentarmos. Já se praticava a co-educação.
E foi assim que aprendi os dez Mandamentos da Lei de Deus e os da Santa Madre Igreja que são cinco. E as catorze Obras de Misericórdia, sete corporais e sete espirituais, que ainda incluíam “remir os cativos” - que já não há - e “castigar os que erram”- coisa que já não se usa. E os pecados mortais que são sete. Nas virtudes contrárias aos pecados mortais, tinha dificuldade em dizer “liberalidade”, a virtude contra a avareza. Hoje diz-se “entreajuda” que é coisa fácil de dizer mas difícil de praticar. A seguir, aprendi que “Oprimir os órfãos e as viúvas”e “não pagar o salário a quem trabalha” eram dois dos quatro “pecados que bradam aos céus” E os seis pecados contra o Espírito Santo. E também aprendi os sete dons e os doze frutos do Espírito Santo que, às vezes, trocava e sempre me atrapalhei com a “magnimidade”. As três virtudes teologais e as quatro cardeais. E os sete Sacramentos. As oito bem-aventuranças e os conselhos de Cristo que são três. E os quatro novíssimos do homem: morte, juízo, inferno, paraíso.
Ia assimilando à minha maneira o que aprendia: o inferno era um ”lugar de tomentos” que eu conhecia porque via minha mãe a fiá-los, tormentos é que não sabia o que era. Para mim, a 4ª obra de misericórdia era dar pousada aos “pelingrinos” com que se armavam as armadilhas para os pardais, peregrinos era coisa que desconhecia. E ao dizer a primeira virtude cardeal, sempre me lembrava da tia Prudência que era minha vizinha. Maravilhava-me com os Dotes do Corpo Glorioso -impassibilidade, claridade, agilidade, subtilidade . Imaginava-me a trespassar paredes como Jesus e, como os anjos, a voar entre as nuvens.
Naquele tempo, ia-se à Mestra para aprender a doutrina. As orações eram ensinadas em casa e a experiência da Fé bebida com o leite materno. Agora, a catequese tem exigências bem maiores. Não basta uma transmissão de conhecimentos. É preciso suscitar na criança o sentido do mistério e a vivência da Fé que, raramente, trazem da família. E esta é tarefa bem mais difícil.
Ainda eu não andava na escola e já ia à doutrina. Magra e de rosto seráfico, acolhia-nos num salão de terra batida sem mesas nem bancos. Serviam-nos de assento alguns molhos de “erguiço” (caruma). Também não havia livros nem cadernos. Num ensino meramente oral, a mestra dizia e nós repetíamos em coro ritmado: “Deus é um ser infinitamente perfeito… nosso legislador e remunerador”. Não havia separação de géneros, como hoje se diz, pois até partilhávamos os mesmos feixes para nos sentarmos. Já se praticava a co-educação.
E foi assim que aprendi os dez Mandamentos da Lei de Deus e os da Santa Madre Igreja que são cinco. E as catorze Obras de Misericórdia, sete corporais e sete espirituais, que ainda incluíam “remir os cativos” - que já não há - e “castigar os que erram”- coisa que já não se usa. E os pecados mortais que são sete. Nas virtudes contrárias aos pecados mortais, tinha dificuldade em dizer “liberalidade”, a virtude contra a avareza. Hoje diz-se “entreajuda” que é coisa fácil de dizer mas difícil de praticar. A seguir, aprendi que “Oprimir os órfãos e as viúvas”e “não pagar o salário a quem trabalha” eram dois dos quatro “pecados que bradam aos céus” E os seis pecados contra o Espírito Santo. E também aprendi os sete dons e os doze frutos do Espírito Santo que, às vezes, trocava e sempre me atrapalhei com a “magnimidade”. As três virtudes teologais e as quatro cardeais. E os sete Sacramentos. As oito bem-aventuranças e os conselhos de Cristo que são três. E os quatro novíssimos do homem: morte, juízo, inferno, paraíso.
Ia assimilando à minha maneira o que aprendia: o inferno era um ”lugar de tomentos” que eu conhecia porque via minha mãe a fiá-los, tormentos é que não sabia o que era. Para mim, a 4ª obra de misericórdia era dar pousada aos “pelingrinos” com que se armavam as armadilhas para os pardais, peregrinos era coisa que desconhecia. E ao dizer a primeira virtude cardeal, sempre me lembrava da tia Prudência que era minha vizinha. Maravilhava-me com os Dotes do Corpo Glorioso -impassibilidade, claridade, agilidade, subtilidade . Imaginava-me a trespassar paredes como Jesus e, como os anjos, a voar entre as nuvens.
Naquele tempo, ia-se à Mestra para aprender a doutrina. As orações eram ensinadas em casa e a experiência da Fé bebida com o leite materno. Agora, a catequese tem exigências bem maiores. Não basta uma transmissão de conhecimentos. É preciso suscitar na criança o sentido do mistério e a vivência da Fé que, raramente, trazem da família. E esta é tarefa bem mais difícil.
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