O Tanoeiro da Ribeira

terça-feira, janeiro 03, 2012

Cantar é rezar duas vezes




Se este aforismo popular diz respeito a qualquer canto litúrgico, aplica-se, especialmente, ao gregoriano onde a música ora pontilha as palavras que fluem suaves, ora se demora a rendilhar uma sílaba que nos deixa no silêncio e na contemplação.




Não é por gosto passageiro que muitos coros estão a recuperar para a liturgia alguns dos motetes que povoam a nossa memória. Esse foi o caminho que levou à gravação do CD “Cantate Domino”.




A Missa Orbis Factor comunica-nos a magia dos tempos medievais, na penumbra de mosteiros e catedrais que alguns filmes celebrizaram. A Missa de Angelis põe-nos em comunhão com as grandes peregrinações de Fátima e recorda-nos a alegria das Missas de Festa.






O Rorate – Derramai ó céus, o vosso orvalho - faz-nos viver a alegria ansiosa do Advento, “tempo de espera e de esperança”. Para os que frequentaram o seminário, ele evoca a felicidade que sentíamos porque se aproximava o Natal que nos trazia o aconchego da lareira materna. As “Antífonas do O” lembram a Senhora do Ó, a Senhora da Expectação que aguarda, no silêncio e no segredo, o dia em que dará à luz o Emanuel, o “Deus Connosco”. O Hodie Christus natus est e Puer natus fazem-nos contemporâneos dos pastores da Judeia e de todos aqueles que, ao longo dos séculos, ouviram o anúncio: “Hoje, Cristo nasceu - Um Menino nos foi dado”. Se o Attende, Domine e o Parce, Domino nos levam à celebração penitencial da Quaresma, Et valde mane e Victimae Pascali transportam-nos para o mistério da Ressurreição e fazem-nos viver as alegrias pascais que o Cantate Domine prolonga e o Veni Creator culmina em dia de Pentecostes.




Ao cantarmos o Ave Verum, o Ubi Charitas e o Adoro-Te Devote é todo o mistério da Eucaristia que se faz presente. E na Solene Adoração do SS.Sacramento, cantamos Pange Língua -Tantum Ergo.




Os cânticos marianos são rosas para o regaço d’Aquela a quem salvamos como Mãe e Rainha: Salve Mater Misericordiae , Alma Redemptoris Mater, Ave Regina Caelorum; Regina Caeli. Ou simplesmente saudamos com as palavras do Anjo, Ave, Maria. Com a Senhora do Calvário, a Mulher forte e Mãe dolorosa, percorremos as estações da “Via Sacra”: Stabat Mater dolorosa. De todos os cânticos marianos, a Salve, Regina será certamente o mais conhecido, lembra Fátima onde é cantado e, a mim, traz-me a saudade dos tempos de infância, quando, após a ceia, todos nos levantávamos para terminar a oração do terço com a Salve-Rainha, mãe de misericórdia….



Neste tempo de medos e carências que, para os cristãos, deverá, ser “um tempo de esperança preenchida”, apetece-me continuar: esperança nossa, salve … a Vós suspiramos… neste vale de lágrimas.