O Tanoeiro da Ribeira

quarta-feira, março 07, 2012

É dando que se recebe…

"O mundo não nos importa /O nosso mundo começa /Cá dentro da nossa porta.”
Por contraposição, lembrei-me desta canção de Tony de Matos quando, no primeiro ciclo do “Ecce Homo” deste ano, um jovem casal, interrogado sobre o que o casamento mudou na sua vida, respondeu: “Tudo e nada. Tudo, porque passámos a ser casados; nada, porque, com os nossos familiares e amigos, continuamos a fazer o que antes fazíamos, mas agora a dois. E isso foi um enriquecimento para nós e para eles”.

O amor conjugal é como a água de um copo. Quando é muito, transborda e vai fecundar o que está à sua volta. Se é pouco, estiola no interior do casal. Assim como a criação resultou do Amor de Deus que transbordou para fora da Trindade, assim, o matrimónio só é sinal deste Amor transbordante de Deus quando se torna fecundo.
Ao gerar os filhos, os pais participam do poder criador de Deus. Por isso, os nossos bispos alertam os jovens casais: “Se afogados na onda de egoísmo que invade a nossa sociedade, se recusam a um generoso serviço à vida, privam o seu lar do mais precioso dos bens do matrimónio, que é o dos filhos.”
Os filhos são a incarnação do amor dos pais. Não são exteriores nem concorrem com o amor que os gerou. Em caso de divórcio, os pais, mais que exigirem os seus direitos, devem interrogar-se sobre o que fazer para atenuar o sofrimento da criança que não pediu para nascer nem compreenderá a separação dos pais que ama. É criminoso usá-las como de arma de arremesso.

Os filhos, o corolário natural do amor dos pais e sua excelência, não esgotam a fecundidade do casal. Pelo casamento, cada cônjuge faz-se dom para o outro. Quem se dá com alegria, procurará melhorar a prenda em que se tornou. É feio oferecer uma prenda estragada. E, pior ainda, ouvir dizer: “ele sempre me saiu cá uma prenda!...” Respeitando sempre a originalidade de cada um, o amor conjugal deve incentivar o aperfeiçoamento mútuo dos cônjuges.

O “nós” é o primeiro fruto do matrimónio do qual flui toda a fecundidade. Perante os “mostrengos” que têm de enfrentar na vida, cada cônjuge poderá gritar, como no poema de Pessoa , «Sou mais do que eu». Ou dizer, como no filme “Um homem e uma mulher” : “Tudo é possível na esperança, na recusa e na vontade”.
As dificuldades são como uma chapa de zinco ondulada que se vai metendo debaixo dos pés à medida que o casal caminha. O que é preciso é avançar com coragem.

E essa força do “Nós” irá fecundar os familiares e amigos que deixarão de ser “ meus e teus” e passarão a ser “nossos”. E estender-se-á aos diversos campos da nossa vida em sociedade, desde as relações de vizinhança e de trabalho até ao voluntariado.
…“é perdoando que se é perdoado”.