Torres Queiruga - um teólogo com coração
Um teólogo com coração
O texto “Andrés Torres Queiruga homenageado na Universidade e censurado pelo Episcopado espanhol”(VP 25/4/12) apresentava “a sua reflexão teológica, não como dogmática nem irredutível mas dialógica e nunca agressiva”.
Sem me imiscuir em tensões dialéticas que sempre marcaram a convivência entre Magistério e Ciência teológica, apresento algumas notas que fundamentam o título que retirei do prefácio ao livro Creo en Deus Pai. O Deus de Xesús e a autonomía humana, Vigo, 1986.
- Torres Queiruga nasceu em Aguiño, aldeia piscatória da “Costa da Morte” galega onde o mar é berço e túmulo. Foi a fidelidade às raízes que o levou a escrever todos os livros na sua língua materna.
- Em 1970, era ele ainda muito jovem, D. António Ferreira Gomes recebeu-o em Milhundos. E foi longa a conversa sobre a incarnação do cristianismo na sociedade galega e os pontos de convergência com a cultura portuguesa. Nasceu aí uma admiração mútua. Não foi por acaso que o Dr. Godinho, mais tarde, o convidou para participar em “Jornadas Teológicas do Clero”.
- Num jantar no Porto, ao ouvir uma senhora dizer “eu só sei dizer que, em Fátima, me sinto bem, gosto de lá rezar e meditar”, virou-se para o sacerdote que estava a pôr em causa as aparições de Fátima e disse-lhe: “Padre F., isto é que é importante, isto é que é preciso saber ouvir”.
- Quando o Coro Gregoriano do Porto foi cantar a “Misa do Peregrino” a Santiago, foi ele quem falou com o Deão da Catedral e marcou o almoço no “campus universitário”. E ainda teve a amabilidade de o acompanhar na Eucaristia e na refeição.
- Anos atrás, por convite dum movimento de jovens cristãos, deslocou-se, no seu carro, a Gouveia para orientar um encontro ibérico. Quando, no final, alguém lhe perguntou se tinham pago pelo menos a gasolina, limitou-se a responder: os jovens não têm dinheiro para eles, como podem ter para estas coisas…
- Logo que soube da morte dum familiar dum casal amigo, veio visitá-lo ao Porto. Regressado a casa, escreveu-lhes “ante todo, moitísmas grazas por ter podido compartir con todos ese día tan intenso, tan humano, tan divino. (…) Espero que a dor vai cedendo cada vez máis espazo á serneidade, á esperanza e á comuñón”. Na Páscoa passada, enviou -lhes um email: “nestes días de pascua deséxovos que a luz da resurrección sexa facho quente e luminoso, pois sei ben que o precisades”.
- “Eu só quero ter a Fé de minha mãe”, respondeu quando lhe perguntaram como conciliava a sua Fé com a investigação teológica. E os seus pais eram pessoas simples como simples é o epitáfio que colocou no seu túmulo: xuntiños na terra xuntiños no ceo.
Foi na “via-sacra” do seu povo e no aconchego cristão da sua família que ele bebeu a Fé no Deus-Pai/Mãe, o “Abbá” de Jesus, que inspira todo o seu trabalho teológico.
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