Senhora da Orada I
A participação, em 15 de Agosto, na festa da Senhora da Orada em Albufeira, levou-me a refletir sobre três conceitos que se implicam mas não se equivalem: Pátria, Nação e Estado.
Pátria é o território que um povo considera como a sua terra, onde tem as suas raízes e se sente em casa. A Pátria é como que uma extensão do útero materno, o lugar do nosso aconchego, do perfeito equilíbrio ambiental, e ao qual, segundo Freud, todos desejaríamos regressar em busca de paz e tranquilidade. É este sentimento de segurança e de pertença mútua que nos vincula à Pátria. Não é por acaso que muitos emigrantes constroem nela as suas casas e aí desejam ter o sua “última morada”.
Há dias, ao visitar a sinagoga de Castelo de Vide, admirei um poema de Sofia de Mello Breyner “Quando a pátria que temos não temos/Perdida por silêncio ou por renúncia/Até a voz do mar se torna exílio/E a luz que nos rodeia é como grades”. Longe da Pátria, domina a saudade que é um misto de angústia pela ausência e de esperança no retorno. Disse Leonardo Coimbra “A Saudade é a lembrança da Pátria como desejo de regresso”.
A Nação é um povo com identidade cultural de tradições, língua, crenças, valores, história e com um sistema padronizado de comportamentos. Embora a Nação tenha um território matricial, não se esgota nele. A nossa está onde estiver a “alma portuguesa” e acompanha os milhões de portugueses da diáspora. É nobre o sentimento nacional e essencial para a preservação de um povo, mas está sujeito a aproveitamentos que podem levar ao chauvinismo, à xenofobia ou mesmo ao racismo. Sabemos como, no “Estado Novo”, a Nação assumia o papel de mediadora para esbater todos os conflitos de tal forma que discordar do Governo era crime de lesa-pátria: “A bem da Nação”; ”Orgulhosamente sós”.
O Estado é, idealmente, a Nação politicamente organizada. Enquanto nesta são os laços culturais que unificam, naquele o que vincula os seus membros é o poder. Os Estados precisam de fronteiras bem definidas para saber quem manda e quem obedece a quem. Quando estamos em Tourém, sabemos onde está a fronteira que separa Portugal e Espanha mas não é claro onde acaba a Nação portuguesa e começa a galega.
A Nação é a base ideal do Estado mas tal nem sempre acontece. Há Estados que incluem várias Nações, como Espanha, e Nações divididas em vários Estados como Coreia do Norte e Coreia do Sul. E há ainda Nações sem Estado, como o Curdistão que se estende por seis Estados diferentes. Para já não falar do caso de África onde as antigas potências coloniais traçaram as fronteiras a régua e esquadro… Qual a nossa situação? E que tem a Senhora da Orada a ver com este arrazoado? Deixo a resposta para a próxima semana.
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