Senhora da Orada II
A primitiva capela da Orada, em Albufeira, de que se conserva a imagem da Senhora, foi construída no século XV.
Este local, no extremo sul do Algarve, foi escolhido por estar em linha reta com a capela da Senhora da Orada em Melgaço, no extremo norte de Portugal e assinalava o comprimento máximo do território português. De forma implícita, antecipava a consagração de Portugal a Nª Senhora feita, séculos mais tarde, por D. João IV. O culto à Senhora da Orada, vindo de França, encheu o Minho, com os montes a povoarem-se de ermidas em sua honra. (Ainda em Agosto passado, houve grande romaria no monte da Orada, em Cabeceiras de Basto.)
A capela de Melgaço, é uma igreja castiçamente românica, coeva da fundação da nacionalidade portuguesa, como diz Sant’Anna Dionísio.
A fundação de Portugal foi lenta. Se a presúria do Porto aconteceu em 868 e a conquista de Lisboa em 1147, o Algarve só foi conquistado em 1249. Para chegar do Porto a Faro foram precisos quase quatrocentos anos.
Foi uma guerra de vai-e-vem, com avanços e recuos. E as populações, que viam as searas devastadas e as casas pilhadas, iam fugindo dessas terras. As gentes do norte, que, depois, as foram repovoar, levaram consigo os seus usos e costumes, a religião cristã e a língua galaico-portuguesa. Com eles, o culto à Senhora da Orada foi-se expandindo pelas Beiras e Alentejo. No século XIV, recebeu o apoio de São Nuno de Santa Maria que esteve na origem do Convento da Orada em Monsaraz, ofereceu a imagem da Senhora ao convento de Avis e estendeu a sua devoção ao Algarve.
Enquanto a religião e a língua iam moldando a alma portuguesa e o povo ia construindo a sua Pátria, Portugal nascia como Estado. Foi no Tratado de Zamora em 1143 mas a sua independência só foi reconhecida internacionalmente em 1179 pela Bula do Papa Alexandre III e as fronteiras, as mais antigas da Europa, foram definidas em Alcanizes no ano de 1297. Neste tratado, D. Dinis, para receber a Comarca de Ribacoa, teve de ceder a Castela vários castelos entre as quais o de Penafiel na margem esquerda do rio Erges, na Beira Baixa. Quando, há tempos, fui visitar esse castelo, umas senhoras de Salvaterra do Extremo, a povoação beirã que lhe fica próxima, disseram-me, muito zangadas, “o castelo é nosso, o rei não tinha nada que dar o que não era dele, Portugal vai até lá longe”e apontavam para um monte distante onde ficava a Cruz de Portugal que assinalaria o termo da terra portuguesa. E já lá vão mais de 700 anos… A Pátria é do Povo. Nem tudo é património do Estado…
Assim, Portugal é Nação, Pátria e Estado. Tem por matriz as culturas judaico-cristã e greco-romana e enriqueceu-se com outras gentes. Em tempos de crise, é bom revisitar, por “entre as brumas da memória”, as raízes da nossa identidade.
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