Cancro, vidas em reconstrução
Em 29 de setembro, o auditório do IPO encheu-se de gente que, de qualquer jeito, já empreendera “ uma viagem pelo mundo do cancro”. E, como disse a jornalista Maria Elisa que apresentou a obra que dá título a este texto, “ ninguém emerge igual de tal viagem”.
O livro mostra, no dizer das autoras - quatro psicólogas do Porto que, há muito, acompanham doentes oncológicos - que esta doença “se por um lado tem um rosto de sofrimento e de incapacidade, por outro, também pode assumir um rosto de crescimento e de serenidade construídos com base numa nova descoberta de si e da vida, que permite transcender a dor e transcendermo-nos a nós próprios”. Pede uma leitura ajoelhada que convida a rezar e a acolher a Deus nos dinamismos profundos da realidade. São retalhos de vida onde abunda a dor e superabunda a esperança…
“Tu, com a transmissão da fé, consegues sempre tranquilizar-me”.
“ O medo de não ser aceite devido às minhas diferenças, o medo de que o meu marido deixe de gostar de mim, o medo de voltar a ficar doente”.
“Deste meu tempo de doença, que dizer? Considero-o um tempo precioso. Uma dádiva da vida. Andava num frenesim … de repente o tempo mudou. Veio o tempo para ter tempo”.
“Sei que os meus pais sabem que eu não estou bem… Vejo neles uma enorme vontade de me ajudarem a ultrapassar estes dias, mas também vejo neles frustração por sentirem que não me conseguem ajudar quanto gostariam. Estou a chorar… Não sei porquê mas emociono-me sempre que penso sobre os meus pais. São um exemplo de força para mim, mesmo quando vacilam…”
“Também me senti envergonhada porque as pessoas associam os doentes de cancro a coitadinhos sem cabelo. Não queria que ninguém conhecido me visse. Agora também me irrita quando ouço as pessoas a queixarem-se ou chorar por coisas com pouca significância”.
“-Eu nasci para ser eterno? – Sim, assim o cremos. – Então está bem. Obrigado”.
“Estou feliz. É possível ser feliz com a doença. Ela enriqueceu-me, torna-me numa melhor pessoa, abre-me horizontes… faz-me viver”.
“Nunca te ouvimos uma palavra de revolta, um queixume. Quando estavas internado, sempre procuraste evitar dar trabalho aos que de ti cuidavam. E dizias obrigado, com um sorriso”.
“Encontrou no humor uma arma contra a dor. Buscou na sua fé e espiritualidade algumas das respostas almejadas e doces apaziguamentos… Descobriu no Amor o mais profundo sentido da sua vida. Amou tanto e com tanta verdade… Amou o outro, Amou a vida, e… encontrou-se a si no seu verdadeiro Ser!”
Cada testemunho origina uma análise minuciosa que levou Ramon Bayés, da Universidade de Barcelona, a escrever “El libro que tiene el lector entre manos, lo acercará a la realidade que supone o cáncer para el professional sanitario, el enfermo y su entorno afectivo”.
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