O Monte da Franqueira
No primeiro domingo deste mês, encontrei o Santuário da Franqueira cheio de gente que convivia e rezava.
No monte, os horizontes alargam-se sobre o vale do Cávado e, em dias límpidos, alongam-se até ao Gerês. É delícia para os olhos e paz para o espírito.
Ao ver a linha azul do “mar da Póvoa”que lhe debrua o poente, surpreendi-me a cantar:
“Parte, parte, ó pescador/Vai à pesca da sardinha/Louvado seja o Senhor/Que guia a tua barquinha”.
Vem de longe este sentido do sagrado. Atribui-se a Egas Moniz, aio de D. Afonso Henriques que aí também rezou, a fundação da capela dedicada a Nossa Senhora. Em 1908, graças ao Círculo Católico de Operários de Barcelos, passou a atrair grandes peregrinações. E a sua projeção muito se deve a D. António Barroso que, tendo presidido à primeira, se tornou peregrino assíduo desse santuário. A tal ponto que, anos mais tarde, “quando as pernas já não acompanhavam o ardor da sua fé, o Bispo do Porto, percorreu a peregrinação num carro de bois. No fim, humilde, D. António Barroso pediu desculpas pela forma como tinha subido ao Monte da Franqueira. Mas a sua grande devoção a Nossa Senhora levava-o a estar sempre presente nestes momentos intensos e nestes lugares festivos e sagrados do culto mariano” (António da Silva Costa - “Estudos sobre D. António Barroso volume I”)
Mas subir à Franqueira é também mergulhar na nossa História e evocar memórias de infância quando o Alcaide de Faria nos era apresentado como um exemplo de amor pátrio. Conta-nos Alexandre Herculano que, durante o reinado de D. Fernando, Portugal foi invadido por Castela. Uma coluna castelhana entrou pelo Minho. Entre as forças defensoras, incluía-se um destacamento comandado pelo alcaide do Castelo de Faria, Nuno Gonçalves de Faria. Derrotadas a tropas portuguesas, o Alcaide foi capturado. Temendo que o filho, ao vê-lo prisioneiro, entregasse o castelo para o libertar, pediu ao comandante invasor que o levasse diante dos muros do seu castelo para solicitar a sua rendição. Chegado à vista do filho, em vez de o aconselhar a render-se, exigiu-lhe que, sob pena de maldição, defendesse o castelo até à morte. Por este ato heróico, foi assassinado diante do filho, mas o castelo resistiu. Vitorioso, o filho, tomou o hábito. O castelo entrou em ruína e parte das suas pedras foi utilizada para a construção do Convento da Franqueira que lhe fica próximo. Dentro de uma pequena citânia com duas linhas de muralhas, vê-se uma torre construída, em 1940, no local onde seria a torre de menagem do velho castelo.
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