Os homens também choram
As Olimpíadas de Londres ainda se fazem ouvir. Os jornais continuam a falar da “lenda” Usain Bolt e do “mito” Michael Phelps. Decorrem, agora, os Jogos Paralímpicos.
Para se ganhar, além das imprescindíveis aptidões dos atletas, é essencial uma aturada preparação que exige muito sacrifício como aconteceu com os nossos Emanuel Silva e Fernando Pimenta, a histórica dupla de canoagem, que, para conquistar a medalha de prata, treinam juntos, no mínimo, sete horas por dia, durante 200 dias por ano. Mas não só. As maiores potências desportivas têm agências dedicadas à recolha de informação que podem recorrer à espionagem e levar a avultados investimentos como aconteceu com os Estados Unidos que construíram, na Califórnia, uma réplica da pista do parque olímpico de Londres. Infelizmente, há meandros por onde se escapa muita da desejada verdade desportiva.
Ao lema olímpico “Mais rápido, mais alto, mais forte” deveria acrescentar-se ”Mais humano”. Os jogos olímpicos, em honra Zeus, o deus supremo do Olimpo, nasceram sob o signo da concórdia e como fator de unidade dos povos helénicos. Eram os “Jogos da paz”. Durante a sua realização, os Estados gregos interrompiam as guerras. A coroa de louros era a suprema aspiração de cada atleta. Os vencedores, elevados à categoria de heróis, partilhavam com os deuses a honra de serem esculpidos no mármore. O equilíbrio dos movimentos e a harmonia dos seus corpos concretizavam o ideal clássico de beleza. Quem não se lembra da estátua do “discóbolo de Míron”? Mas, por mais idealizados que fossem, não deixavam de ser humanos nos seus limites e emoções.
Nas últimas olimpíadas, os afetos ganharam foros de cidadania. As lágrimas humedeciam os olhos dos vencedores quando, no pódio, ouviam tocar o hino nacional e viam subir no mastro a bandeira do seu país. Mas a emoção atingiu o auge quando Félix Sánchez da República Dominicana, logo após conquistar o ouro nos 400 m barreiras, se ajoelhou no chão do estádio e beijou uma fotografia que trazia consigo. Soube-se depois que era a foto da sua avó Lillian. "Eu só queria que ela se sentisse orgulhosa de mim, por isso levo seu nome nas minhas sapatilhas. No dia em que morreu, eu estava em Pequim, e meu coração se partiu. Por isso, corro com sua foto perto do meu coração", afirmou.
E foi com a avó no coração que ele chorou copiosamente no pódio durante a cerimónia de entrega da medalha de ouro. Todo o Estádio Olímpico o aplaudiu de pé. E muitos acompanhavam as palmas com lágrimas e gritos de entusiástica partilha.
É bom vermos que os homens, mesmo os heróis, também choram… Saber que a gratidão ainda enfeita o coração humano.
Como escreveu Lupe Gómez em Repensar a Teoloxia, Recuperar o Cristianismo, “se aprendes a chorar, tamén estás aprendendo a Amar”.
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