O Tanoeiro da Ribeira

sexta-feira, dezembro 07, 2012

Senhora das Candeias

Aconteceu na igreja de S. Lourenço, durante o III concerto do ciclo SweelinK. O ecrã onde se via o organista foi colocado no sopé do altar da Sr.ª da Purificação. Meus olhos começaram por esquadrinhar os pormenores daquela jóia da talha dourada até se fixarem no rosto da Senhora. O enlevo da música e a beleza da imagem fizeram-me saltar para o mundo da fantasia. Imaginei-me nos finais da década de cinquenta. Parecia-me ouvir ainda a voz grave e pausada de D. Domingos de Pinho Brandão a falar-nos da raridade arquitetónica daquela igreja e a enfatizar a riqueza do retábulo da Senhora da Purificação. Era com brilho nos olhos e solenidade na voz que nos fazia admirar a delicadeza do pregueado do manto, a serenidade da Virgem e a ternura do Menino. Vem de longe a devoção do Porto à Senhora das Candeias. D. João I celebrou o casamento com D. Filipa de Lencastre, no dia da sua festa litúrgica, em 2 de fevereiro de 1387, na Sé da nossa cidade a que concedeu o título de “leal cidade”. Foi a origem da ínclita geração que deu “novos mundos ao Mundo”. Conta-nos Fernão Lopes “ E foram as gentes da cidade juntas em desvairados bandos de jogos e danças para todas as partes e praças, com muitos trabalhos e prazeres que faziam. As principais ruas por onde a festa havia de ser, todas eram semeadas de desvairadas verduras e cheiros”. Deixo-vos com algumas perguntas: - que conheço do Porto, eleito como o “melhor destino europeu de 2012”? Já vi o arco de Santana que deu título ao romance de Almeida Garret? Já passei na rua de D. Hugo que recebeu de D. Teresa o “couto do Porto”? Conheço a “cruz do Souto”, o maior nó rodoviário do Porto medieval? Que igrejas conheço? Já admirei o barroco de Santa Clara? A renascença da capela dos Alfaiates? O romano-gótico da Sé? Que conheço da história do Porto que nasceu como “cale” - origem remota da Galiza - e, no tempo dos romanos, passou a “portucale” – donde veio o nome Portugal? Aproveitem o verão para conhecer este “património da humanidade”, calcorreando as suas ruas e estudando a sua história. Entrem nas igrejas, admirem o altar da Sr.ª da Purificação e visitem o museu de arte sacra do Seminário Maior. Será justa e merecida homenagem ao seu fundador, D. Domingos de Pinho Brandão, ilustre arouquense, arqueólogo e figura insigne do clero do Porto, que, antes de ser bispo, foi reitor desse Seminário e professor da Universidade do Porto. No que à Sé diz respeito, a visita poderá ficar para 2 de fevereiro. E, passados 626 anos (até é capicua), a Catedral voltará a ficar cheia, não já de altos dignitários do Reino, mas de pessoas interessadas pela sua história. São meras sugestões.